...O espetáculo da vida chega ao fim* Autor: Damião Metamorfose.
Mote do poetamigo, Francisco Pessoa.
Glosas de: Damião Metamorfose.
*
Fui criança e fui jovem “aborrescente”,
Fiz de um tudo, fui um desbravador.
Hoje olhando no meu “retrovisor”,
Não encaixo o passado no presente.
Vejo um mundo sisudo e diferente,
Estou só, fraco e cheio de pantim.
E a parceira saudade diz pra mim
Aproveite e se afogue na saudade.
Quando caem as cortinas da idade,
O espetáculo da vida chega ao fim!
*
Vejo a vida brotando em minha volta
E eu num canto plantado, enraizando
Sem crescer, caule pubo agonizando
Em silencio, na seca da revolta.
Se a prisão da velhice não me solta,
Eu me rendo me entrego e digo sim.
Vivo preso e não tem coisa mais ruim,
Que a prisão da ausência de vontade.
Quando caem as cortinas da idade,
O espetáculo da vida chega ao fim!
*
Não sei mais o que faço e quando faço,
Se eu errar ninguém mais me compreende.
Não entendo porque ninguém entende,
Que eu preciso apenas de um abraço.
E o meu braço precisa de outro braço
E esse abraço seria um trampolim.
Mas percebo que o mundo está afim,
De abraçar quem tem mais velocidade.
Quando caem as cortinas da idade,
O espetáculo da vida chega ao fim!
*
Quantas roupas sujas foram lavadas
Nessa água que eu tenho que beber.
E essa fonte infiel do bel prazer,
Quantas vezes por outro foi amada.
No passado era sempre perfumada,
Com aroma de flores e jasmim.
E entre fronhas e colchas de cetim,
Me esperava, mas hoje ela se evade.
Quando caem as cortinas da idade,
O espetáculo da vida chega ao fim!
*
Minha espada foi rija no passado,
Fértil fútil e estava sempre afiada.
Hoje parece gasta e enferrujada,
Desprezada e num canto abandonado.
Não tem receita mágica ou guisado
De jabá, turbinado com aipim.
Com farinha rapadura e “touçim”,
Que devolva a minha virilidade.
Quando caem as cortinas da idade,
O espetáculo da vida chega ao fim!