Lembranças do véio Alcino
Eu nasci de um amor
temperado com desejo.
O meu pai, um lavrador.
Mãe pescava caranguejo.
O meu berço foi humilde,
mas cercado de carinho,
se ficava agitadinho
vinha bisavó Matilde.
Tomei leite até de cabra
e fiquei forte e crescido
bem pesado e desmedido
quase como “abracadabra”.
Aprendi não ter fartura,
mas também não passei fome,
pois meu pai foi sempre home,
não deixou fartar gordura
e panela de água pura
lá em casa não se come.
Os meus pés sempre descalços
me ensinaram a lição,
hoje trago os pés no chão
e não me derribam os falsos,
pois sei enxergar os laços
e fugir da traição.
Só não aprendi a ver
a armadilha mais perigosa
que a moça mais jeitosa
trouxe sem eu perceber.
Inebriado por seus encantos,
ela me laçou de jeito,
fez meu sonho mais perfeito
pedido a todos os santos
Como se fosse direito
se tornou realidade,
só me deu felicidade
tanto na lida como no leito.
Hoje o doutor
olha a estrada percorrida
e no tom de despedida
tudo lembra com amor.
Do exemplo do pai,
da dor do sertão,
dos calos na mão
da chuva que não cai,
da vida sofrida,
de Deus, dos amigos,
dos sonhos perdidos,
lembrança antiga,
canções e estória
que traz a saudade
de uma divindade
que trago “in memória”.
Os contos de fadas...
meu Deus que lembrança
de uma criança
que a mãe dedicada
por vezes contou.
E hoje meus filhos,
que são os meus lírios
enxugam a lágrima
que hoje rolou.