CARLOS MAGNO - EM CORDEL
CARLOS MAGNO - EM CORDEL
Eu não sou um romancista
Mas pela primeira vez
Tento escrever em cordel
E pra quem não me conhece
Eu me chamo Johás Johnathan
Filho de uma grande mulher
A Maria Maciel
Eis que começo aqui
Vou contar com fidelidade
A história de um juiz de direito
Meu amigo de verdade
Que cresceu aqui entre nós
E hoje mora em outra cidade
Quando eu o conheci
Ele era um garoto pacato
Não abria a boca pra nada
A não ser na frente de um prato
Se lhe dirigiam a palavra
Ficava muito acanhado
Parecendo bicho do mato
De família muito humilde
Era muito estudioso
Embora sem condições
Ele era muito esperto e tinhoso
E desde muito novinho
Já pensava em ser famoso
O seu pai, o irmão Roberto
Profissional do sofá
Conserta e reforma divãs
Mas qualquer outro móvel quebrado
Também sabe consertar
Foi com ele que minha irmã
Reformou o seu sofá
Sua mãe, é muito simpática
O seu nome é Belchior
Desde que o menino nasceu
O filhinho era um mimo só
No registro era Carlos Magno
Carlinho em casa, olhem só
E pra cantar na igreja
Desde pequeno e novinho
O menino era bom de gogó
A irmã Belchior é direita
Sempre lutou pra vencer
Vendia perfumes e cremes
Pra comprar o que comer
Sempre ajudou na despesa
Tinha garra pra valer
Naqueles tempos difíceis
Cheios de preocupação
O irmão Roberto era só trabalho
Tinha muita disposição
A Belchior não ficava atrás
Batia de porta em porta
Com seus produtos na mão
Em tempos de correria
Mas uma criança nasceu
Líncolis foi o nome
Que pra ele a mãe escolheu
O menino era malamanhado
Mas ficou assim como eu
Bonito, robusto e forte
Dádivas que Deus me deu
Agora, então era assim
Com o tempo muito corrido
O irmão Roberto não parava
De folga já tinha esquecido
Pois no auge da dificuldade
A família havia crescido
Fazia serão toda noite
Mas não estava arrependido
Me contaram sobre o Magno
De um fato bem engraçado
Ele curioso quanto o nascimento
Se mostrou interessado
Perguntou à sua mãe
Como foi que ele nasceu
E no mundo havia chegado
A Belchior atrapalhou-se
E o Roberto ficou assustado
Ela disse que do nascimento
O amor é quem fica encarregado
Que do namoro dela com o Roberto
Pra ela um micróbio havia passado
E que daquele micróbio
Ele havia sido gerado
O Magno era só uma criancinha
E por alguns segundos ficou calado
Mas fez todo mundo rir
Quando de repente disse:
Mas que micróbio danado!
Sendo ainda adolescente
Pra ser líder era o primeiro
E nos Embaixadores do Rei
Da igreja, um movimento pioneiro
Embora havendo gente mais velha
Adivinhem quem era o conselheiro?
O Carlos Magno já grandinho
Queria a situação mudar
Nunca soltava os livros
Só pensava em estudar
Prometeu pra ele mesmo
Que ia ser advogado
Pra ganhar muito dinheiro
Para os seus pais ajudar
Estudou em vários colégios
Mas nem por isso havia tédio
Em todos era admirado
E embora muito calado
Recebia muito assédio
Mas foi no colégio das freiras
Lá no Santa Terezinha
Que terminou o ensino médio
Eu já era homem feito
Até soldado tinha sido
Namorando uma canadense
Inglês, já tinha aprendido
E o Carlos Magno também
Já estava um pouco crescido
A mãe de minha namorada
Era professora de inglês
Tinha uma turma da igreja
Que com ela tinha vez
Faziam o curso de graça
Comiam às custas da velha
Era uns quinze ou dezesseis
Daí chegou o dia
Que ela teve que viajar
Voltava pra ver família
Que deixou no Canadá
E pediu que eu tomasse conta
Da turma que ela ia deixar
Eu era inexperiente
Mas como ela em mim confiou
Eu aceitei a parada
Mas a turma desconfiou
Achava que eu não sabia nada
E logo desanimou
Uns quatro desistiram logo
Mas o restante ficou
Foi então que falei pro Magno
E ele logo se interessou
Começou a estudar comigo
E em muito pouco tempo
Na turma já dava show
Por fim ficou só o Magno
A turma toda esmoreceu
Ficaram decepcionados
Sem saber o que aconteceu
Pois em muito pouco tempo
Falando inglês muito bem
O Magno surpreendeu
É nesse ponto da vida
Que falo com segurança
Que eu cuidei bem do Magno
Em sua vida fiz mudança
E pra todo lado que ia
Se eu pedisse pro pais dele
Deixá-lo me acompanhar
Eles tinham confiança
Não posso deixar de falar
Quase que eu não me lembrava
De um teste pra admissão
Pra um curso de computação
Que a Obra Kolping ofertava
Nós dois fizemos o teste
Somente o Magno passou
Mas como mudou de planos
Sua vaga ele me entregou
Eu reconheço que neste ponto
O Magno me ajudou
Mas aconteceu o seguinte
Que sem computação estudar
Um livro bem grosso de informática
O Carlos Magno foi comprar
E estudando, em pouco tempo
Sem ajuda de ninguém
Vocês podem acreditar
Comprava peças de são Paulo
E seu próprio computador
Programava e sabia montar
Mas se tinha festa na igreja
Ou quando era jogo de bola
Eu convidava o Carlos Magno
Para os livros esquecer
E arejar a cachola
Mas ele sempre recusava
O seu mundo era a escola
Só largava os seus livros
Quando íamos à vazante
Que fica na beira do rio
Até lá não é distante
E quando chegava nos lagos
Eu era sempre o comandante
Sim, porque ele mal remava
E nem sabia nadar
E tudo o quanto eu dizia
Ele tinha que acatar
Pois ele morria de medo
De cair dentro do lago
E na água se afogar
Um dia foi muito engraçado
Vejam só o que aconteceu
O Magno com toda a tralha
Na canoa se meteu
Saímos pra pescaria
E logo um peixão bateu
O Magno com molinete
Dando uma de pescador
Um peixe deu uma fisgada
E ele muito ligeiro puxou
Mas era um peixe elétrico
Que lhe deu um grande choque
Que a até sua boca entortou
O cabra se esticou todo
Mais foi ligeiro pra valer
Do bicho se livrou logo
Da isca não quis nem saber
Era uma isca importada
Mas no lugar que ele a comprou
Tinham muitas pra vender
Depois nós sorrimos muito
Daquela situação
Porém tudo acabou bem
Não houve complicação
E mais engraçado ainda
Foi o que aconteceu
Com o Líncolis, seu irmão
Pois ele estava procurando
Uns cajús para comer
Eu me ofereci pra ajudar
O Ratinho também tava lá
Pois não tinha o que fazer
Aí eu me dependurei
Em uma galha bem grossa
E quando a galha abaixou
O Líncolis levou uma coça
De um enxame de marimbondo
Daqueles que tem na roça
Toda essa confusão
Foi assim que começou
Eu abri logo no mundo
Quando a coisa engrossou
O Ratinho se deitou no chão
E a cabeça embrulhou
Mas o abestado do Líncolis
Parecia que tava dormindo
Não correu, e apanhou
Ficou com o olho inchado
Doía até o cabelo
Foi ferrado nas duas orelhas
O jeito era botar gelo
Mas até o gelo doía
E o coitado agoniado
Embora muito calado
Chorava em agonia
O Ratinho muito esperto
No chão deitou de uma vez
Mas marimbondo não é burro
Avançaram logo em nós três
Eu escapei por um triz
Mas o Ratinho, coitado
Ficou de olho inchado
Parecendo um japonês
Mudando um pouco a história
Outro fato vou contar
E tudo o que conto é verdade
Todos podem confiar
O próprio Magno confirma
Vocês podem perguntar
Certo dia eu conheci
Um rapaz que era Inglês
Que tinha vindo ao Brasil
Era sua primeira vez
O nome dele era Dante
Pessoa muito cortês
Quando nós nos conhecemos
Foi um fato inusitado
Pois ele aqui em Marabá
Ainda não tinha encontrado
Quem tocasse bem violão
E soubesse falar Inglês
E quando me conheceu
E ficou todo encabulado
Queria logo ligeiro
Que eu fosse no outro dia
Na casa da irmã dele
E ela nem me conhecia
Mas ficou desapontado
Pois falei que eu não podia
Perguntou ligeiro o por quê
E eu logo lhe informei
Que como sou crente Batista
Bem cedo me acostumei
A participar dos congressos
Que acontecem a cada dois anos
E assim, logo lhe convidei
Seria em Tucuruí
Onde ele nunca havia pisado
Mas quando lhe convidei
Ficou logo interessado
E quando eu contei pro Magno
Que o cara ia com a gente
Ele ficou todo animado
Seria sua prova prática
De tudo o que eu tinha ensinado
Mas ele era bom aluno
Já estava preparado
Falou de igual pra igual
Só um pouco atrapalhado
E eu do lado ouvindo
Orgulhoso de meu aluno
Fiquei de peito estufado
Foi tamanha a agitação
Todo mundo de olho aberto
Do inglês lá no congresso
Só queriam ficar perto
Vendo os dois conversando
Ficavam encabulados
Com o filho do Roberto
E o tempo foi passando
Cada coisa de uma vez
Aí o Magno me chamou
Pra abrir um curso de inglês
No Centro Comunitário
Abrimos sociedade
E foi o primeiro mês
Depois do primeiro mês
Com tudo estabelecido
Faço ratificação
Pois eu tinha me esquecido
Que um certo Juliano, Colega meu e do Magno
Já estava todo metido
Pois comigo e o Magno
Inglês já tinha aprendido
E na tal sociedade
Já estava incluído
Essa tríplice sociedade
Foi boa enquanto durou
E de novo faço ressalva
De um detalhe que passou
É que até os bancos de aula
O Magno é que fabricou
Pois tudo ele aprendeu
Com o Robertão que e o ensinou
Trabalhou um ano e pouco
No Colégio Alvorada
Dando aulas de Inglês
A vida era bem agitada
Ainda bem que era paciente
Pois pense numa turma danada!
Então um forte empresário
Uma proposta ao Magno fez
Pois tinha que ir à Inglaterra
E não sabia falar Inglês
Combinou então com o Magno
Que topou logo a parada
Pois iria à Inglaterra
Havia chegado a sua vez
Quando ele me contou
Eu fiquei estarrecido
E para substituí-lo
Me fez então esse pedido
Aí, é claro que topei
Mas se arrependimento matasse
Com certeza eu tinha morrido
Eu ficaria em seu lugar
Assim a gente combinou
Mas a viagem deu errada
E o Magno não viajou
Em sua vaga fiquei só três dias
Mas dei graças a Deus
Quando o Magno retornou
Depois de muito tempo
Nossa vida então mudou
De tanto o Magno estudar
No vestibular passou
E o Juliano também
Só queria ser doutor
E como os dois passaram
A sociedade acabou
Fiquei sozinho no ramo
Mas o curso não parou
Fiquei meio desanimado
Mas a vida continuou
Mudei logo de local
Pra bem pertinho lá de casa
E a notícia se espalhou
Outro fato interessante
Que esqueci de comentar
É que aos dezoito anos
Antes de eu me alistar
Com um amigo alfaiate
Aprendi a costurar
E em muito pouco tempo
Me tornei um costureiro
Trabalhei com o meu amigo
E até ganhei dinheiro
E o Carlos Magno sabido
Até a arte da costura
Comigo aprendeu ligeiro
Uma camisa costurou
Que ficou até ajeitada
Mas não seguiu a profissão
Pois viu que não dava em nada
E eu posso garantir
Que se ele tivesse insistido
Estaria numa roubada
Até para dirigir
Lá estávamos o Magno e eu
E é claro, sendo eu o instrutor
Ligeirinho ele aprendeu
Mas em sua aula derradeira
Um incidente aconteceu
Passou em cima de um prego
E debaixo de um sol escaldante
Aprendeu a trocar pneu
Depois, o Magno bem empolgado
Um emprego bom arrumou
De estagiário no Basa
Um novo Banco que aqui chegou
Então, a vida do rapaz
Ligeirinho melhorou
Mas esse tal Carlos Magno
Era muito persistente
Sem tempo pra estudar
Ele não estava contente
Com a vida muito corrida
Ficaria melhor no Banco
Se se tornasse gerente
O plano era ambicioso
Mas O Magno era muito direito
Pois pra conseguir aquilo
Só peixada dava jeito
Passou então num concurso
Foi trabalhar lá na câmara
Bem pertinho do prefeito
O Magno prestava serviço
Na área da digitação
Mas ajudava os vereadores
Sempre com muita atenção
Passou a ganhar melhor
Não fazia quase nada
Vejam só que evolução!
A vida na faculdade
Tava melhor pra valer
Agora podia estudar
E não precisava correr
Mas de ficar à toa
Não queria nem saber
Os seus planos eram outros
Como eu disse lá atrás
Na vida queria crescer
Começou a estudar mais
Formou-se advogado
Abriu logo um escritório
Tchau, pobreza, nunca mais!
Para que ninguém duvide
Da competência do rapaz
Até pro lado da música
Ele se mostrou capaz
Mas também essa proeza
Foi um incentivo meu
Que lhe mostrei como se faz
Convidei o Carlos Magno
Para cantar no coral
E ele me respondeu
Com segurança total
Que só cantava no banheiro
E mesmo assim, muito mal
Mas não me dei por vencido
E disse assim, eu prometo:
Tu começando no coral
E mesmo cantando mal
Eu te ajudo a ajeitar a voz
Depois tu vais pro quarteto
E tudo foi muito fácil
O cara era muito esperto
Em pouco tempo já estava
No quarteto cantando certo
E quando a gente cantava
Todo mundo vinha pra perto
Naquele tempo, porém
Outro quarteto existia
Em que até hoje faço parte
E temos boa harmonia
É o Quarteto Mensageiros
Somos irmãos companheiros
Cantamos com muita alegria
Houve um fato interessante
Que deixou o Magno assustado
Pois fez a prova da OAB
E se espantou pra valer
Quando viu o resultado
Pois lhe disseram, assim:
Você não foi aprovado
Porém o Magno sabia
Que algo estava errado
Então quando foram ver
Averiguar, pra valer
Com boa margem de pontos
Tinha se classificado
Com tudo então dando certo
Sua sina melhorou
Fez concurso pra ser Juiz
E não se decepcionou
Era dia e noite trancado
Aos estudos confinado
Mas no concurso passou
Ele logo foi chamado
Pra trabalhar em Belém
E embora na cidade
Não conhecesse quase ninguém
Nunca se intimidou
A profissão começou
Trabalhando muito bem
Foi quase inacreditável
Ver tudo aquilo acontecendo
O rapazinho pacato
Que não tinha quase nada
Na vida estava vencendo
Com apenas 26 anos
O rapaz eu estava vendo
Sendo Juiz de direito
E com seu exemplo de vida
Eu afirmo assim dizendo:
Quem trabalha, Deus ajuda
Ainda mais aos servos seus
Pois história como essa
É mesmo coisa de Deus
E com isso eu espero
Alertar e abrir os olhos
De todos os amigos meus
Na vida sentimental
Ele não se preocupava
Pois estava determinado
A gente sempre conversava
Pra arranjar uma esposa
Ele queria primeiro
Ajuntar muito dinheiro
E nisso não se enganava
Queria dar o melhor
Para a esposa sonhada
E por ser servo fiel
Por nosso Pai bondoso do céu
A mulher de sua vida
Já lhe estava reservada
Mas agora que surpresa
Vejam só que coincidência
Pois a tal moça bonita
Conheceu na inocência
Era sua amiga de infância
E assim, a gente nota
Que em Deus há providência
Ela morava bem longe
Nos confins do Piauí
Mas isso não impedia
Tão roxo amor, nunca vi
O cara estava arreado
E no Transbrasiliana
Rumava pra Floriano
Lugar distante daqui
O namoro começou
Como num conto de fada
Primeiro através de cartas
Porém ainda não era nada
Mas, o Magno nunca foi bobo
E com lábia bem trabalhada
Convenceu a piauiense
Que caiu na onda dele
E ficou apaixonada
Do namoro do casal
Amor forte germinou
Sempre indo a Floriano
O rapaz nunca cansou
E ele muito apaixonado
Com os quatro pneus arriados
O pai da moça encarou:
- Seu pastor, vim lhe pedir
Sua filha em casamento
E como o senhor já sabe
Pra nós dois tenho sustento
E vou fazê-la feliz
O senhor pode confiar
Pois eu tenho bom intento
- Disso eu não tenho dúvida
Esse assunto a mim convém
Você é rapaz direito
E comigo cartaz tem
E além de tudo isso
Sua família é gente boa
E eu conheço muito bem!
O Magno então noivou
Com a moça do Piauí
Ela queria morar lá mesmo
Ele disse: eu não saio daqui!
Pois aqui onde eu trabalho
Tem praia pra todo lado
Chove quase todo dia
E ainda tem açaí
A moça foi convencida
E veio aqui pro Pará
Mas o grande casamento
Aconteceu mesmo por lá
E para homenageá-los
O Quarteto Mensageiros
No casamento foi cantar
A festa foi muito bonita
Tinha lá de tudo um pouco
Foi um casamento pomposo
Verdadeira coisa de louco
E às vésperas do casório
Na casa da noiva, o Quarteto
Cantou tanto que ficou rouco
Tanto antes quanto depois
Animação era todo dia
Pois a família da noiva
Com prazer nos recebia
Sorriam e estavam contentes
Pois era tamanha a alegria
De tudo o melhor nós comemos
Pois no Piauí o povo pode
Na mesa havia muita fartura
E entre outras guloseimas
Tinha muita carne de bode
Antes de eu finalizar
Sei que você já percebeu
Que o Carlos Magno na vida
Cresceu e surpreendeu
Mas nunca esqueceu a humildade
E eis que eu tenho muito orgulho
Deste grande amigo meu
Do Piauí voltamos alegres
Eu confesso que gostei
Agora a vida volta ao normal
Pois tudinho já contei
E para finalizar
Tenho prova e guaranto
Que é verdade o que narrei!
- FIM -
A VIDA DO
MERITÍSSIMO JUIZ DE
DIREITO:
CARLOS MAGNO
GOMES DE OLIVEIRA
(EM CORDEL)
Autor: Johás Johnathan C. Ferreira
MARABÁ – PA (01/2005)