Minha Folclorica Terrinha

Nossa Folclórica Terrinha

Leitores atentem agora

Aqui pro meu cordel

Tradições de nosso lugar

Venho neste relatar

Num pedacinho de papel.

Sobre o nosso povoado

Escrevo com muita emoção

Um povo humilde, sofredor

Que mostra o seu valor

Com sua rica tradição.

Aqui se faz pamonha

Assada na palha de milho

Tem brividade,buchada e mocotó

Galinha caipira da melhor

Ximango feito de porvilho.

Tem rezadeira, tem curador

Moleques no mato a pilotar

Meninas arrumando bonecas

Meninos jogando peteca

Lavadeiras no rio a cantar.

O sol surge lá na serra

Papai apaga o candeeiro

Mamãe prepara a marmita

Tem catador e piaba frita

Galinhas ciscam no terreiro.

O vizinho na madrugada

No engenho poẽ-se a moer

Vovô conta as suas histórias

Assombração,lobisomem,caipora

A criançada vem pra ver.

Tá chegando o mês de junho

Os festeiros fazem leilão

O pessoal cria galinha

Outros fazem a farinha

Outros engordam o leitão.

Os fieis põe-se a rezar

Com muita fé e devoção

As mocinhas todas faceiras

Preparam-se para a fogueira

Pois é mês de São João.

Já é noite de são joão

Tem batata pra assar

A fogueira ali queimando

Os homens ela pulando

O casal põe-se a beijar.

Sanfoneiro puxa o fole

Levanta até poeira

O homem pega a mulher

Joga ela no rastapé

Tem molejo nas cadeiras.

Os fieis levantam o mastro

Pau de sebo está ali

Criançada quebra o pote

o casal dançando xote

Todos vão se divertir

É noite de lua cheia

Tem histórias pra contar

Lobisomem, assombração

Pisadeira, sereia,bicho-papão

Todos vem nos visitar.

A molecada ficou doente?

A farmácia é no quintal

Tem poeijo e erva-cidreira

Hortelão, folha de laranjeira

Ali cura qualquer mal.

No principio de agosto

Lá vem a romaria

Pau-de-arara se aproxima

Lá vou eu,vovó e a prima

Vai também dona Maria.

Todos partem em romaria

Numa grande emoção

Pra ver o Bom Jesus

A igreja de pedra e luz

Com muita fé e devoção.

A chuva cai sobre o telhado

O barulho me faz dormir

O cheiro de terra molhada

canto o sapo, a passarada

O ipê começa a florir.

O trabalhador pega a enxada

No embornal a refeição

A família bem radiante

Partem todos pra “vazante”

Semear milho no chão.

Tem umbu pra todo lado

Faço o meu carrinho de pau

Meu boizinho de jatobá

Vou pro terreiro brincar

Não tem brinquedo igual.

Meu pai colhe o feijão

Vamos todos dribuiar

Chega toda a vizinhança

Ali vira uma festança

A ladainha vai começar.

Seu Chico conta uns causos

De medo e assombração

Dona Janira conta piadas

Todos vão à gargalhadas

Tem também advinhação.

Seu Odílio um homem sábio

Com suas “procuras” já vem

O que uma mulher sincera

Não dá pro marido dela

Uma coisa que ela tem?

Todos ali trabalhavam

Com grande satisfação

_Seu Odílio vou falar

_È o filho pra batizar

Pois o pai não pode não.

E assim a noite seguia

No terreiro os galos cantavam

Regressava pra casa o povo

Ano que vem tem de novo

Os dias assim passavam.

Quando ao longe se ouvia

Uma penosa cauã cantando

Alguém por ali morria

Ou o tempo que se via

Logo,logo ia mudando.

O povo tinha alegria

Pois era tudo diferente

O povo era lutador

Apesar de sofredor

Todos eram mais contentes.

Já se foi o natal

Aí vem o Santo Reis

Vamos saí mundo afora

Sem tempo de vir embora

Só lá pro dia seis.

A criançada era um fervor

Era um Deus-nos-acuda

Quando aqui pela praça

Era aquela arruaça

Chegou a queima do judas.

Todos se divertiam

Amarelinha,pique-esconde,maê

Boca de forno,galinho de amor

Estilingue, o pião que rodou

Uma alegria de se ver.

Que saudade carrego no peito

Mamãe bordava, fazia crochê

Vovo fumava cigarro de palha

O pão feito lá na fornalha

Carro de boi eu ia ver.

Que saudade carrego no peito

Hoje tudo aqui mudou

Veio a tecnologia

Engoliu a alegria

Muita coisa daqui levou.

Só não levou o amor

Que tenho da minha terrinha

Povo humilde,hospitaleiro

Um nordestino, bem brasileiro

Esta é nossa Varzinha.

Udirlei Correia
Enviado por Udirlei Correia em 11/11/2010
Código do texto: T2610000