NOVA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

NOVA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

Nesses dias de invasões,

Em que a baderna campeia,

Confesso que já nem sei

Se os sem-terra e os sem-teto

E agora os nossos juízes,

São ou não foras-da-lei!

Estar fora ou estar dentro

De uma constituição movediça,

Não é questão de pudor.

É, como disse Einstein,

Puramente relativo,

E depende apenas de onde

Se encontra o observador!

Se está fora dos ditames,

Da carta maior da nação,

Para não ser mais um infame

E não criar mais contenda,

Com fita adesiva à mão

Fazem-lhe mais uma emenda!

Se está dentro e lá não cabe

Seus intentos vergonhosos,

Dizem estar démodé

O tal artigo ou inciso,

E sempre de improviso

Pra não haver reprimenda,

Armam-se de uma tesoura

Cortam e fazem outra emenda!

E criticamos “Tio Sam”

Por seus tantos desenganos,

Mas lá a Constituição

É a mesma há duzentos anos!

Lá hasteiam a bandeira

Em tudo que é sala ou praça,

Fazem dela cerimônias,

Fazem chorar, fazem graça,

Mantendo sempre o otimismo

De, ainda que à sua maneira,

Manterem o patriotismo!

E eu, aqui, o que digo,

Para o filho que indaga:

“Pai, mas não há um artigo

para evitar essa praga?”

Digo-lhe: “Há, mas depende

De quem lê o tal artigo.”

Ele ouve e compreende

Que, seja lá quem o ler,

É melhor ser seu amigo!

Mas os juízes venceram!

Sem votos e sem campanhas,

E sem nenhum eleitor!

Ameaçando o Estado

Dizem que vão parar

O que há muito está parado!

E nosso legislativo,

Homens sem fibra ou matizes,

Quedaram-se indecisos

E renderam-se aos juízes.

Resta ao Grande Falastrão

Explicar essa derrota

Com sua voz de emoção

E mostrar que não é grota

O buraco em que caímos.

Depois há de nos pedir

Que pelo nosso sofrer,

Ao invés de reclamar

Temos é que agradecer!

Depois vêm os idiotas

De movimentos escusos

Com idéias belicosas

Em seus cérebros obtusos

Dizendo que agora, sim,

Farão a revolução!

Che Guevara é seu guru,

E dizem até na TV

Que aprenderam tudo isso

Com os russos e o PT!

Os russos aí estão,

Lotando os cemitérios

Com os mortos de suas máfias,

Pois foi tudo o que restou

De seu poderoso império!

Che Guevara que embarcou

No navio da aventura

Dele tudo o que restou

Que ainda se pode ler

Foi “Hay que endurecer,

Pero sin perder la candura”

É exatamente a candura

Que o povo está perdendo,

E assim vai comprometendo

Toda sua vida futura!

Não serei mais paciente,

E mesmo não sendo jurista

Farei algo diferente:

Vou me aliar a essa gente

E para combater o mal

Não vou fazer mais emendas.

Vou dar a base legal

Às demandas das elites.

Tentarei, se Deus quiser

Reescrever nossa Carta,

Magna, ao menos no nome.

Por louco ninguém me tome,

Pois quem tem a mesa farta

Não tem mesmo o que temer.

Já ao pobre, que nem come,

Comida então lhe darei

E vou lhe arranjar guarida.

Nessa Carta tentarei

Melhorar a sua vida.

Esta Constituição

Virá da alma do artista,

E também do coração!

Mas os artigos primeiros

Eu em nada mudarei.

Também digo, “os brasileiros

São iguais perante a lei!”

Porém estou estudando

Proceder a algum ajuste

E assim ir melhorando

Sem que isso nada custe.

Um parágrafo amigo

Eu então colocarei

Nesse primeiro artigo

Que deverá virar lei:

“Apesar de alguns senões,

São iguais perante a lei,

Com algumas exceções”.

São estas que agora passo

Com cuidado a enumerar

Pois há muitos brasileiros

Da gema, do coração,

Que morrem de trabalhar,

Que já provaram que são

Diferentes dos demais.

A esses, cuido ligeiro

De incluir em artigos

Muito, muito especiais!

E no Artigo Primeiro

O Poder Judiciário,

É um exemplo acabado!

Não é justo nem correto,

Compará-los em ardor

Ou mesmo em intensidade

Com nosso trabalhador.

Por estar sempre presente

Nesse nosso dia-a-dia,

E por ser democracia,

Por ser assim, tão correto,

Aqui, no meu inventário,

O Poder Judiciário

Eu considero exceção,

E está fora do projeto

Dessa Constituição.

Já no Artigo Segundo,

Não posso nunca esquecer

Do nosso legislativo.

São os nossos deputados,

Senadores, coisa e tal,

Os que me dão bons motivos

De, defronte o mundo inteiro,

Eu me sentir orgulhoso

Porque nasci brasileiro!

Por ser do Paleolítico

Essa idéia atrasada,

Esse clamor tão funesto,

De pensar que o político

É sempre alguém desonesto,

Eu também irei deixar

Esses senhores de fora.

Assim, eu fico à vontade

E não cometo injustiça,

Pois lhes basta a imunidade

Que se diz “parlamentar”.

Pois pense bem, não são eles

Que dão um duro danado,

E que, vivendo tão mal,

Vão e voltam de avião

Para o Planalto Central?

Eis pois que a classe política

Eu considero exceção

E está fora do projeto

Dessa Constituição.

Artigo Terceiro: temo

Estar acordando o Demo...

Mas há também a caserna

Da qual não posso esquecer

Sem que algum coronel

Eu venha a fazer sofrer.

São eles, os militares,

Senhores da integridade,

Que nossa soberania

Defendem com unha e dentes.

Seja PM ou Marinha,

Exército ou seus quetais,

Lembrarei dos generais

E brigadeiros brilhantes,

Lembrarei dos almirantes,

E do grumete ao recruta,

Estarei sempre na escuta

Lembrando suas missões

Cujo heroísmo enfeitiça!

A estes a Carta Magna

Importa menos que aos outros

Pois têm a própria justiça.

E por isso, então decreto

Que os considero exceção

E estão fora do projeto

Dessa Constituição.

Artigo Quarto: Em breve

Empresas deste país

Se quiserem ir à greve,

Tal como seus empregados

Fá-lo-ão, e libertados

De suas CLTs

Porão no olho da rua

Todo aquele que atrapalha

E que o trabalho avacalha

Sem ter mais e nem porquês!

Esse pilar importante

Para qualquer sociedade,

Sustentáculo iracundo

De nosso padrão de vida,

Em minha Carta teria

Obrigação de pagar

- Como já faz todo mundo -

Impostos e correlatos.

Assim, pessoas jurídicas,

Graças às quais há empregos,

Teriam desassossegos

Transtornado suas vidas

Se fossem então incluídas

Em minha Carta Maior.

Eu, que não brinco em serviço,

Jamais prejudicarei

Esse setor importante

Que paga pra fazer lei!

Por isso, de coração

Os considero exceção

E estão fora do projeto

Dessa Constituição.

Artigo Quinto: me invade

Um senso de justiceiro

Por saber que o Financeiro

- sangue de uma nação -

está em franca sangria.

Seus lucros estão minguando

Seu prejuízo é enorme,

E ainda assim, educados

Por trás de algum guichê,

Vão vendendo seus serviços

A bobos como você!

Mas é justo que se diga

Que o sistema financeiro

Aqui e no mundo inteiro

Vive debaixo de briga.

É que os outros invejosos

Que criam gado, que plantam,

Fabricam embalam, montam,

Não entendem que é possível,

Que embora sendo incrível,

Ou coisa de milagreiro,

É possível ficar rico

Sem ofender o otário,

Mais que rico – bilionário!

Vendendo apenas dinheiro.

Então, nós os brasileiros,

Cultuamos esses deuses,

Que guardam a nossa grana

E que posam de bacana

Gastando-a no mundo inteiro.

Jamais atrapalharei

Com minhas leis de lascar,

A vida de algum banqueiro,

Cujo lucro financeiro

Passa sempre do bilhão!

E por isso, então decreto

Que os considero exceção

E estão fora do projeto

Dessa Constituição.

Artigo sexto: Não pense

Que eu iria esquecer

Os donos das emissoras

De rádio e de TV.

São eles que colaboram

Noite e dia, sem parar,

Omitindo o importante,

Divulgando o que entope

Os ouvidos de quem ouve.

Buscando apenas ibope,

Se a gente não se cuidar

As orelhas viram couve!

Para eles vale tudo

Na briga pela audiência

Mesmo que o preço seja

Abusar da paciência

De seu telespectador.

Com chuva, seca ou calor,

Não há mesmo quem resista

Ao charme do Grande Irmão,

Ou mesmo as loucas contendas

Das bobices das Fazendas,

Ou mesmo ao Show do milhão!

Tem exorcismo eletrônico,

Tem água benta, da pia,

O fato é que em show de medo

Deus e o diabo não têm

Um minuto de folguedo.

Pois da Catedral da Fé,

O discurso é sempre o mesmo

Que o da Catedral da Sé:

Falar pra quem anda a esmo

E que na vida perdeu

O senso de direção.

É o perdido que adora

O discurso comovente,

Travestido de bendito.

Então, se agarra ao palito

Pensando ser uma tora.

Mas jamais eu haverei

De um dia interferir

Com esses donos da mídia,

Pois qual flor, qual uma orquídea,

Eles comovem de fato

Tocando no coração.

E por isso, então decreto

Que os considero exceção

E estão fora do projeto

Dessa Constituição.

Sétimo Artigo: retiro,

Parentes de generais,

Também aqueles que forem

Julgados “especiais”:

Traficante que dá tiro

Impune no transeunte,

E que ninguém me responde

Não sei e não me pergunte

Porque lhe dar liberdade.

Nem vou atrás dos motivos

Que tornam especiais

Bandidos empedernidos,

Luz vermelha e Escadinhas,

Ficando junto aos demais

Que de boa estirpe são

E, para não abalar

Os pilares sociais,

Vou dizendo de antemão

Que considero exceção

Esses tais “especiais”

E estão fora do projeto

Dessa Constituição.

Resta, enfim, a plebe rude!

E Deus do céu me ajude

Não permitindo que eu falhe!

Porque essa plebe lascada

Que tem morro por morada,

E que vive de aluguel,

Ou que paga em quatro anos

A prestação do seu carro,

O que rala o dia inteiro

Para ganhar o dinheiro

Que deixará no colégio,

Essa não tem privilégio,

E mesmo magro ou obeso,

Ela vai sentir o peso

De ter que seguir a lei!

Juro que não deixarei

Essa classe que trabalha

E que por isso atrapalha

Os citados lá em cima,

Jogar e bater de mão!

A esses, pouco me importa,

Se vão jogar pela porta

O despejo inadimplente,

Nem eles nem seus parentes

Por um dia escaparão

De sentir o peso desta

Minha Constituição!

Por isso aviso que devem

Salvo alguma exceção:

1 - Pagar os impostos,

Sob pena de prisão,

Mesmo os do município,

Que costumam esquecer,

Também os estaduais

Com taxas, emolumentos,

E, para evitar sofrimentos,

Tem ainda os federais,

Dos quais não há quem escape

Sem que haja algum sofrer,

Aquele que leva primeiro

Para depois devolver.

Tem a CPMF

Que não dá para evitar,

E por isso é bom pagar

Para evitar os problemas

E, talvez, também prisão.

É claro que destes artigos

Estão fora os meus amigos

E os grupos de exceção

2- quero aumentar a fé

em nosso povo sofrido,

Assim, farei virar lei

“Atos de Agradecimentos”.

Onde o povo humildemente

Terá que agradecer

E mais que isso, pagar,

Para o nosso Presidente

Poder, enfim, viajar!

Também quero que agradeçam

A escola e o hospital

Que o Estado dá de graça!

Graças a isso, afinal,

Não haverá quem capengue,

E jamais se dará mal

Quem contrair essa Dengue!

Também quero ouvir o canto

Desse agradecimento

Ao transporte, água e luz

E a todo o saneamento,

Desde, que, nunca atrase

O devido pagamento.

3 – também será proibida

Qualquer manifestação

De repúdio às notícias

Que, destilando malícias

Divulgam aos quatro ventos

Os salários dos ministros

Do Supremo Federal.

Se eles dizem: - “Não é

Possível ao cidadão

Sobreviver com padrão

ganhando só vinte mil”

Quero que o povo escute

E passe a acreditar

E se puder virar lei,

Eu juro que criarei

Feriado nacional

Para o “Dia da Vaquinha

Pró-Ministerial”

Será a ajuda do povo

A esse baixo salário,

“Ai” de qualquer salafrário

Que tencionar afundar

Essa mísera ajuda.

Porque, além de levar peia,

Esses anti-brasileiros

Também irão pra cadeia!

E, por parágrafo único,

Eu também vou revogar

Uma lei que é inata,

Por nascer já instalada

No coração dos humanos:

A “Lei da Indignação!”

Por ser uma lei ingrata,

E só trazer confusão,

Disseminar-se por anos,

Espalhar a ingratidão

E perturbar os tucanos,

Vou suprimir essa lei,

Que é pura malvadez,

E que ninguém a inventou.

Eu acho que desta vez,

Foi mesmo Deus que errou!!

Eu espero que esta carta

Acalme a todos, portanto,

Espero que nos traga sorrisos

E nos seque todo o pranto.

Assim, para evitar

Que se faça mais emendas

À nossa Carta Maior,

Que vai sendo recortada,

Aos sabor dos interesses,

Vou oficializar

Logo pra toda a nação,

Essa constituição.

Espero ao menos que ela

depois que a publicar,

- É essa a minha intenção -

Faça aquele falastrão

Parar de matraquear!

* * *

Assista agora ao Manifesto Pela Democracia, por Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT. Copie e cole este link em seu navegador.

http://www.youtube.com/watch?v=6D6Ocm9xbgo

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 27/10/2010
Reeditado em 27/10/2010
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