VIDA NOBRE
“Este é um menino pobre
Que tem uma alma nobre!”
Ele veio da favela
Conheceu o pai na cela
Que depois logo morreu
Por traição que cometeu.
E sozinho a sustentar
A mãezinha, irmãs, o lar
Lutou com dificuldade
Nunca viu gratuidade
Ele foi até forçado
A abastecer drogado.
Os “malandro o perseguia”
Lhe faziam covardia
Só por ser tão diferente
Tinha respeito de gente
Concentrado no estudo
Para conhecer de tudo.
Bem sabia que dureza
Estudar não foi moleza
Ser aluno e operário
Precisava do salário
Inda tinha tal pressão
Dos seus “amigo ladrão”.
Mas passou em bom lugar
Naquele vestibular
No seu mundo tão medonho
Ele acreditou no sonho
Disse “não” ao preconceito
E foi estudar direito.
Como assim? Um favelado
Se formar pra advogado!
Pois do menos fez a soma
Usa beca, tem diploma
E promete à mãe conforto
Nunca mais um dia morto.
Ele vai pra formatura
Quando vê a viatura
Confundido com ladrão
Bala em sua direção
Peso da pele escura
Preconceito, oh amargura!
Se aproxima um anjo santo
E o cobre com um manto
Que então afasta a bala
Em seu corpo nem resvala
E diz: “Vim, menino pobre,
Vim salvar-lhe a vida nobre!”