MOTE BOM DA MULESTA
Lá vou eu sapecando aqui debaixo algumas glosas minhas traçadas por cima do mote que me foi passado pelo Poeta Luciano Pedrosa, um cabôco malassombrado lá das bandas de Ouricuri-PE e que é altamente sabedor e fazedor de versos matuto-sertanejo-nordestinenses da melhor leva.
Mote:
“Poeta canta o que eu sinto
Que eu sinto e não sei cantar!”
É tanta coisa que tenho
Guardado dentro de mim
Que parece não ter fim
O anseio que contenho
E é por isso que venho
Para lhe solicitar
Que expresse meu penar
No seu cantar tão distinto
Poeta canta o que eu sinto
Que eu sinto e não sei cantar!
Uma criança pedindo
Mendigando algum tostão
Meu Deus, mas que contramão
O presente está seguindo
É filho o pai agredindo
É padre a pedofilar
E eu sem saber glosar
Vendo o futuro extinto
Poeta canta o que eu sinto
Que eu sinto e não sei cantar!
Tamanha disparidade
A humanidade expande
E nada que lhe abrande
Não é feito de verdade
E nessa desigualdade
Poucos comem caviar
E tantos sem nem jantar
Me deixam de fé faminto
Poeta canta o que eu sinto
Que eu sinto e não sei cantar!
Olho pra lua um momento
E me vem um algo bom
Porém não alcanço o tom
Do som desse sentimento
Espicho meu pensamento
Do neurônio esquentar
E sem saber me expressar
Clamo neste labirinto
Poeta canta o que eu sinto
Que eu sinto e não sei cantar!
Toda tarde eu esperando
Num banco na rua dela
Só pra ver a tal donzela
Tão lindamente passando
E eu fico só pensando
- S’eu soubesse recitar
Me danava a declamar
Carlos Pena, Louro e Pinto
Poeta canta o que eu sinto
Que eu sinto e não sei cantar!
Poeta cante a canção
Porém cante com cuidado
Deixando bem divisado
Que foi do meu coração
Que saiu tanta expressão
Para a moça elogiar
Pois vai qu’ela dê pr’amar
A outro Mané Jacinto
Poeta canta o que eu sinto
Que eu sinto e não sei cantar!
João Pessoa, 26/10/2010.