A PELEJA DE JÚPITER E SATURNO - E o zabumbeiro que morava numa estrela

Conheci um zabumbeiro

Que morava numa estrela

E que decidiu fazê-la

De terreiro forrozeiro

E lá o time primeiro

Do alto escalão do céu

Se juntou todo a granel

Pra dançar um bom forró

Beber, jogar dominó

E pra recitar cordel

Só tinha o alto comando

Do céu do nosso universo

Lá tava Plutão, disperso,

Com Vênus forrozeando;

Saturno tenso apostando,

No baralho, outro anel;

Urano cheio de mel

Cochilando num batente

E Júpiter prepotente

Cercado de xeleléu!

Uma farra de primeira

Num forró bom da mulesta

Dos que o salão empesta

De parelha dançadeira

Foi quando a bagaceira

Pela festa se expandiu

Que chega dá calafrio

De falar do ocorrido

Tamanho foi o muído

Que nesse instante se viu.

Júpiter por ser gigante

Se chegando no salão

Encostou-se em Plutão

E com seu jeito intratante

Tomou o seu par dançante

Chutando-lhe de coturno

E plutão todo soturno

Chorando um choro de orvalho

Foi na mesa do baralho

Chamar seu irmão Saturno!

E Saturno, valentão,

Inda perdendo no jogo

Levantou cuspindo fogo

Cheio das dores do irmão

E entrando no salão

De cara feia e bufando

Foi Júpiter empurrando

E o empurrado, valente,

Foi logo trincando os dentes

Com os seus punhos cerrando!

Tava feita à confusão,

Nesse balde de bravura

Júpiter foi na cintura

Desembainhando o facão.

Saturno de supetão

Mandou Plutão ir pro lado

E um anel amolado

Retirou do seu entorno

Dizendo: Seu grande corno

Hoje teu chifre é serrado!

Após ouvir este dito

Júpiter correu pra luta

Que do meio da disputa

Voava meteorito

E com o tamanho atrito

Desses dois corpos celestes

A lógica que reveste

As forças d’universo

Teve seu prumo transverso

De um leste pr’um oeste!

E pra dar melhor grandeza

Da amplitude da briga

Basta apenas qu’eu lhes diga

Que naquela afoiteza

Júpiter já sem defesa

Errou um soco e então

Saturno deu-lhe um doidão

Com tanta raiva em contexto

Que fez um ano bissexto

Fora de ocasião!

Quando a briga se acabou

Tava o mundo revirado

E o Zabumbeiro, coitado,

Computava o que restou

E o que ele encontrou

Foram restos de planetas

Um punhado de cometas

E Urano chêi de mel

Sem saber voltar pro céu

Caindo pelas banquetas!

Desse dia em diante

Os planetas intrigados

Se encontram separados

Num orbitar dissonante

E o zabumbeiro, emigrante,

Fez a mala, deu um nó

Deixou sua estrela só

Ao cantar dum pé-de-serra

E desceu aqui pra terra

Pra espalhar seu forró!

Timbaúba,16/10/2010.