COITADINHA DA MENINA
Coitadinha da menina
Toda suja, maltrapilha
Uma vil vida canina
Pela rua, ela se humilha
Ouvir “NÃO” é sua sina
Bem queria uma família.
O seu pai está detido
Sua mãe só faz beber
O pai é bravo bandido
A mãe vive a ter bebê
O pai logo sai fugido
E na mãe volta a bater.
Certo dia mostra a mão
Queimadinha de cigarro
Para um rico cidadão
Pela janela do carro
Disse foi o irmão grandão
Só porque brincou com barro.
Cidadão fica com dó
Diz que vai lhe dar trabalho
Se com ele ficar só
Sobre a colcha de retalho
Não viveu nada pior
Sua alma enche de talho.
E assim ela é forçada
Dele, a se tornar amante
Fica sempre tão drogada
Por seu homem traficante
Continua a não ter nada
Então foge, segue adiante.
Pela rua, ao léu, perdida
Com olhar tristinho, morto
Volta a mendigar comida
Pelo seu destino torto
Traz com ela uma outra vida!
Tem que fazer um aborto.
Tenta voltar para casa
Mas a mãe a põe pra fora
Tal maltrato dói, arrasa
Ela então sai, sem demora
Rejeição arde tal brasa
Está só no mundo agora.
É injusto, é desvario
um anjinho tão novinho
Nesse mundo assim bravio
Sem ter lar, sem nenhum ninho
Sem ajuda, a sentir frio
Em ninguém acha carinho.
Mas que vida tão malina!
Ela perde o desafio
Sua história determina
E num dia mui sombrio
Eles acham tal menina
A boiar, morta, no rio.