TELURISMO

1 Meu canto está na viola

dos menestréis violeiros

e sai do aboiar plangente

dos nordestinos vaqueiros.

2 Meu canto, cheirando a chuva,

flui do verdejar das matas,

passa pelos sons das aves

– vates das ternas cantatas.

3 Meu canto se esvai das trovas

e dos ais dos sertanejos,

cujas cantigas se alastram

com saudade e com desejos.

4 Meu canto, sem ter estilo,

reflete os dons naturais

das gentes do meu sertão

e de ambiências rurais.

5 Meu canto, ainda que cante

nos citadinos lugares,

ele exprime a singeleza

das coisas mais singulares.

6 Meu canto corre nos cerros,

ganha sabores gentis

e paira ao sol das campinas,

puro, como os céus anis.

7 Meu canto briga e faz festa,

mas telurismo extrapola,

que vem de aboios doridos

e dos motes da viola.

8 Meu canto sai do folclore;

bebe a seiva nos falares;

nele, as culturas mais simples

dos campesinos lugares.

9 Meu canto está nas modinhas

dos poetas cantadores,

nas cadeiras das matutas

– no fiel dos seus amores.

10 Meu canto a ternura tece

na tosca voz do almocreve,

enfim, é cantar do povo,

pois que na terra se inscreve.

11 À moda chã de Catulo,

Patativa e Gonzagão,

com rezas de Padim Ciço,

meu cantar vem do sertão.

Fort., 08/10/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 08/10/2010
Reeditado em 08/10/2010
Código do texto: T2544667
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