Viva o cordel!* Autor: Damião Metamorfose.

*

Viva o cordel verdadeiro,

Rimado e metrificado...

Feito com os sentimentos,

Do poeta apaixonado.

Por poesia e cultura

E o desinformado jura,

Que não é caso contado.

*

Eu dou viva pro pecado

E para quem se arrepende.

A quem só compra o que pode,

Também pra quem não se vende.

E para o cabra da peste,

Que enfrenta qualquer teste,

Apanha, mas não se rende.

*

A aquele que entende

O que eu estou narrando.

Sete linhas, prosa e verso,

Pouco a pouco edificando.

O verdadeiro cordel,

Sem usar tinta ou papel,

No teclado digitando.

*

Ao passarinho voando,

Desbravando o universo.

ao peixe do mar profundo,

Que respira submerso.

A luz que me alumia

E me inspira noite e dia,

Na composição do verso.

*

Viva o verso e o reverso,

O até logo e o adeus.

A festa dos quinze anos,

Dos filhos meus e dos seus.

E a maior ruptura

Quando vai pra sepultura

Acertar contas com Deus.

*

Crentes, católicos ateus,

Sábio, burro, inteligente.

A quem conhece a historia,

A quem não está ciente.

A quem foi e quem vier...

Homem, menino e mulher,

A qualquer tipo de gente.

*

Viva o bote da serpente

E a sua desenvoltura.

O poder do seu veneno,

Depois de uma picadura.

Viva o homem e a ciência,

Que usando a inteligência,

Do veneno faz a cura.

*

O doce da rapadura,

A cana cheia de nó.

Que balança com o vento,

Feito cobra de cipó.

O boi, o brabo, a moenda,

O engenho e a fazenda,

O sabido e o arigó.

*

Viva a rica Mossoró,

Do gesso, sal e melão.

Do petróleo a flor da terra,

Do valente cidadão.

Que da torre da igreja,

Enfrentou numa peleja

E expulsou Lampião.

*

O nosso Deus de Abraão,

Jesus o iluminado.

ao meu herói, o meu pai,

a quem vivas tenho dado.

sem ele eu não existia,

Se existisse, não vencia,

Seria um derrotado.

*

Viva o homem do roçado,

Que tem as mãos calejadas.

O barulho do martelo,

Na lâmina das enxadas.

O canto das seriemas

E os peixes em piracemas

Subindo nas enxurradas.

*

A essas almas penadas

Que o poder esqueceu.

Mas de quatro em quatro anos

O político fariseu.

Invade a sua morada,

Com mais conversa fiada,

Fingindo-se amigo seu.

*

Viva o pecador Zaqueu,

Que por Jesus foi ungido.

E ao conhecer a verdade

E ficar arrependido.

Saiu da vida mesquinha

E doou tudo que tinha,

Mas não ficou desprovido.

*

Ao Gonzagão tão querido,

Que não perdeu a viagem.

Quando veio aqui na terra,

Fez uma linda passagem.

Foi embora, mas deixou,

A alegria que estou

Escrevendo essa mensagem.

*

A casa de estalagem

Que é coberta com palha.

Que não precisa de muros,

Faxina cerca ou muralha.

Inferior a mansão

Mas lá não mora um ladrão,

Nem um político canalha.

*

A folia que não falha,

De Reis até o são João.

céu e ruas enfeitas

De bandeirola e balão.

Mas pode traumatizar

Pois se o balão queimar

Incendeia o meu o sertão.

*

Viva o couro do gibão,

Do chapéu e da perneira,

Do sapato e da chibata,

Que uns chamam de “ligeira”.

Vaqueiro, boi e mandinga,

O cavalo, a caatinga

E a cultura brasileira.

*

Essa gente verdadeira

Que luta, bate e apanha.

Que tem esperança e força...

Que perde e às vezes ganha.

Mas não desiste e insiste,

Vive alegre, nunca triste,

Viva essa fé tamanha.

*

Sabão de oiticica ou banha,

Que era o melhor sabão.

Que mãe fazia num tacho,

Em uma trempe no chão.

O danado era tão forte,

Que limpava qualquer corte

E às vezes feria a mão.

*

Viva o acauã do sertão

e o seu canto agourento.

A cigarra que se esconde

No marmeleiro cinzento.

Viva ao vivo quase morto,

A cangalha e o desconforto,

No lombo de um jumento.

*

A pedra que faz cimento,

Que constrói a moradia.

A de cal que é tão branca

Mais branca que a luz do dia.

A aranha magra e feia

Que faz renda, fio e teia,

Com perfeita simetria.

*

Viva o filho de Maria

E o carpinteiro José.

O cordeiro imolado,

O mensageiro da fé,

Exemplo de humildade,

Simplicidade e bondade...

O Jesus de Nazaré.

*

A mulher e a “mulé”

Qualquer classe, qualquer cor.

Que gera o filho no ventre,

Enfrentando dissabor.

Enfim: eu dou viva! A minha

Esposa, mãe e rainha,

no meu reinado de amor.

*

O gavião e o condor,

Lindas aves de rapina.

Que lá do alto planeja,

Fazer a carnificina.

Com requintes de crueldade,

Matam por necessidade,

Não por ser ave assassina.

*

A lama com fedentina

onde mora o caranguejo.

Que parece um aleijado,

Mas não tem nenhum “alejo”.

De um buraco faz a cama

E se alimenta com lama,

Mas nunca come sobejo.

*

Minha memória e o ensejo

Que até hoje não falhou.

ao meu pai e minha mãe,

Que fez, gerou e criou.

Não sou melhor nem pior,

Mas se hoje sou melhor,

a eles, devo o que sou.

*

Viva aquele que tocou,

O triangulo e a sanfona.

Ao povo que canta e dança,

Aos que chama de cafona.

Um viva a aquele que faz,

O Brasil ganhar mais gás,

Com bio diesel de mamona.

*

Viva a galinha turrona,

O pinto, o frango e o galo.

A vaca, o bezerro, o touro,

O chocalho e o badalo.

Viva o trabalhador,

Que fere o chão por amor

E até na alma tem calo.

*

O cordel que eu canto e falo,

Que é feito por amor.

Que por mais lindo que seja,

Pouca gente dá valor.

Viva você, viva eu,

Viva aquele que aprendeu

ser cordelista amador.

*

Fim

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 04/10/2010
Código do texto: T2537170
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