Viva o cordel!* Autor: Damião Metamorfose.
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Viva o cordel verdadeiro,
Rimado e metrificado...
Feito com os sentimentos,
Do poeta apaixonado.
Por poesia e cultura
E o desinformado jura,
Que não é caso contado.
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Eu dou viva pro pecado
E para quem se arrepende.
A quem só compra o que pode,
Também pra quem não se vende.
E para o cabra da peste,
Que enfrenta qualquer teste,
Apanha, mas não se rende.
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A aquele que entende
O que eu estou narrando.
Sete linhas, prosa e verso,
Pouco a pouco edificando.
O verdadeiro cordel,
Sem usar tinta ou papel,
No teclado digitando.
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Ao passarinho voando,
Desbravando o universo.
ao peixe do mar profundo,
Que respira submerso.
A luz que me alumia
E me inspira noite e dia,
Na composição do verso.
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Viva o verso e o reverso,
O até logo e o adeus.
A festa dos quinze anos,
Dos filhos meus e dos seus.
E a maior ruptura
Quando vai pra sepultura
Acertar contas com Deus.
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Crentes, católicos ateus,
Sábio, burro, inteligente.
A quem conhece a historia,
A quem não está ciente.
A quem foi e quem vier...
Homem, menino e mulher,
A qualquer tipo de gente.
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Viva o bote da serpente
E a sua desenvoltura.
O poder do seu veneno,
Depois de uma picadura.
Viva o homem e a ciência,
Que usando a inteligência,
Do veneno faz a cura.
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O doce da rapadura,
A cana cheia de nó.
Que balança com o vento,
Feito cobra de cipó.
O boi, o brabo, a moenda,
O engenho e a fazenda,
O sabido e o arigó.
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Viva a rica Mossoró,
Do gesso, sal e melão.
Do petróleo a flor da terra,
Do valente cidadão.
Que da torre da igreja,
Enfrentou numa peleja
E expulsou Lampião.
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O nosso Deus de Abraão,
Jesus o iluminado.
ao meu herói, o meu pai,
a quem vivas tenho dado.
sem ele eu não existia,
Se existisse, não vencia,
Seria um derrotado.
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Viva o homem do roçado,
Que tem as mãos calejadas.
O barulho do martelo,
Na lâmina das enxadas.
O canto das seriemas
E os peixes em piracemas
Subindo nas enxurradas.
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A essas almas penadas
Que o poder esqueceu.
Mas de quatro em quatro anos
O político fariseu.
Invade a sua morada,
Com mais conversa fiada,
Fingindo-se amigo seu.
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Viva o pecador Zaqueu,
Que por Jesus foi ungido.
E ao conhecer a verdade
E ficar arrependido.
Saiu da vida mesquinha
E doou tudo que tinha,
Mas não ficou desprovido.
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Ao Gonzagão tão querido,
Que não perdeu a viagem.
Quando veio aqui na terra,
Fez uma linda passagem.
Foi embora, mas deixou,
A alegria que estou
Escrevendo essa mensagem.
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A casa de estalagem
Que é coberta com palha.
Que não precisa de muros,
Faxina cerca ou muralha.
Inferior a mansão
Mas lá não mora um ladrão,
Nem um político canalha.
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A folia que não falha,
De Reis até o são João.
céu e ruas enfeitas
De bandeirola e balão.
Mas pode traumatizar
Pois se o balão queimar
Incendeia o meu o sertão.
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Viva o couro do gibão,
Do chapéu e da perneira,
Do sapato e da chibata,
Que uns chamam de “ligeira”.
Vaqueiro, boi e mandinga,
O cavalo, a caatinga
E a cultura brasileira.
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Essa gente verdadeira
Que luta, bate e apanha.
Que tem esperança e força...
Que perde e às vezes ganha.
Mas não desiste e insiste,
Vive alegre, nunca triste,
Viva essa fé tamanha.
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Sabão de oiticica ou banha,
Que era o melhor sabão.
Que mãe fazia num tacho,
Em uma trempe no chão.
O danado era tão forte,
Que limpava qualquer corte
E às vezes feria a mão.
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Viva o acauã do sertão
e o seu canto agourento.
A cigarra que se esconde
No marmeleiro cinzento.
Viva ao vivo quase morto,
A cangalha e o desconforto,
No lombo de um jumento.
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A pedra que faz cimento,
Que constrói a moradia.
A de cal que é tão branca
Mais branca que a luz do dia.
A aranha magra e feia
Que faz renda, fio e teia,
Com perfeita simetria.
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Viva o filho de Maria
E o carpinteiro José.
O cordeiro imolado,
O mensageiro da fé,
Exemplo de humildade,
Simplicidade e bondade...
O Jesus de Nazaré.
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A mulher e a “mulé”
Qualquer classe, qualquer cor.
Que gera o filho no ventre,
Enfrentando dissabor.
Enfim: eu dou viva! A minha
Esposa, mãe e rainha,
no meu reinado de amor.
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O gavião e o condor,
Lindas aves de rapina.
Que lá do alto planeja,
Fazer a carnificina.
Com requintes de crueldade,
Matam por necessidade,
Não por ser ave assassina.
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A lama com fedentina
onde mora o caranguejo.
Que parece um aleijado,
Mas não tem nenhum “alejo”.
De um buraco faz a cama
E se alimenta com lama,
Mas nunca come sobejo.
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Minha memória e o ensejo
Que até hoje não falhou.
ao meu pai e minha mãe,
Que fez, gerou e criou.
Não sou melhor nem pior,
Mas se hoje sou melhor,
a eles, devo o que sou.
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Viva aquele que tocou,
O triangulo e a sanfona.
Ao povo que canta e dança,
Aos que chama de cafona.
Um viva a aquele que faz,
O Brasil ganhar mais gás,
Com bio diesel de mamona.
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Viva a galinha turrona,
O pinto, o frango e o galo.
A vaca, o bezerro, o touro,
O chocalho e o badalo.
Viva o trabalhador,
Que fere o chão por amor
E até na alma tem calo.
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O cordel que eu canto e falo,
Que é feito por amor.
Que por mais lindo que seja,
Pouca gente dá valor.
Viva você, viva eu,
Viva aquele que aprendeu
ser cordelista amador.
*
Fim