CORDÉ DAS INLEIÇÃO
1. Neste domingo de oitubo,
dia três, dois mil e dez,
teve mais uma inleição
no meu Brasi que eu adubo
cum alma, suor e os pés,
indo e vindo nos sertão,
marchano inté de viés.
2. Festão de dermocracia,
pois qui votamo feliz,
sempre na vez dos mió!
Imbora chei’ de utopia,
o povo véve o que quis,
isto sabemo de có,
e quem sabe grita e diz.
3. Largado de suas furna,
os povo fez a votança
cum bastante acramação;
botou seus voto nas urna,
alimentano esperança
de sair das sujeição,
pra ter paz e sigurança.
4. Bão é qui ninguém sossegue,
vá preparano um chicote,
pruquê, com certeza, a massa
tombém vota mal nuns jegue,
daqueles que dá calote
e faz mãozinha, de graça,
feito uns ratão, aos magote.
5. Antes e adispois das urna,
convém que fiquemo esperto.
Se munto ladrão já tinha,
entonce a gente num durma,
qui tem novatos por perto;
mas se num andá na linha,
neles xilindró dá certo.
6. Cum toda as festejação,
nas boa vez de mudá,
cuma ainda dão bobeira!
Nem cabra do meu sertão,
destes chão do Ceará,
comete tanta besteira
cuma arguns que vai votá.
7. Sum Pálo, Ri de Janêro!...
Veja os inleitor qui tem:
uns votano em jogadõ,
uns em dona de putêro,
uns em palhaço, tombém,
ôtros mais em gigolô,
nas hora de Deus, amém!
8. Sertanejo nordestino
já largô de ser um tolo;
nunca vota pur froclore;
banca o sujeitão ladino.
Vende o voto por tijolo,
mas seu valô num colore
– nos de cartaz dá é bolo.
9. Por este e tantos siná,
os matuto do Nordeste
vota bunito, cum glora;
reprova os bobão de lá,
que, nas banda do Sudeste,
vai de lesmas sem históra,
pois viva os cabra da peste!
10. Inleição num é furdunço.
É direito deitá voto
pra quarquer um bunda-mole?
Ruim trocá pur presunto,
nisto tombém fé num boto,
mas, de brincá, num se engole
– esta a burrada que eu noto.
Fort., 04/10/2010.