POIS EU VOTEI NO ABESTADO!

POIS EU VOTEI NO ABESTADO!

J.B. Xavier

Alô, sou eu, meu cumpade,

To te ligando de novo

Prá falar dessa amizade.

E fofocar sobre o povo.

Hoje eu tô preocupado

Mas é c'o segundo turno!

De um lado um cara Serrado,

Do outro, mulhé com coturno!

Desde a égua Pocotó

Não via tanta burrice,

Pois até a minha avó

resolveu cantar sandice.

Ela canta "Florentina,

Florentina de Jesuis,

Tiririca desatina

Dou meu voto e Credo em cruis!"

E fico co'a alma trancada,

Entristecido de vê...

Brasil, tu não vale nada,

Mas eu gosto de você!

Eu pocoto, e quero mais,

Pocotes, sejas alguém!

Pocotamos, pocotais...

Vem pra roda tu também!

Eu pensei ter acabado

A moda, mas ela fica!

Agora tô preparado ,

Prá aguentar o Tiririca!

Não é de fundir a cuca?

O que fizemos de mal?

Sai uma bicha maluca,

Entra um palhaço real!

Ele agora é deputado,

Tirando sarro da gente...

Ri-se à toa, o abestado,

Como o nosso Presidente...

Eu quero também saber

O salão lá da Esplanada.

Que pega todo esses bucho

E reforma a mulherada

Sua mulher (dele, esquece?)

era um caco de dar dó.

Hoje já nem se parece

mais com minha velha avó!

A Dilma, quando chegou,

(falar mal dela não quero)

Pareceia que escapou

Do programa Fome Zero!

Hoje sorri, e os dentinhos

de ratazana arretada

enfeitam lindo rostinho

Mesmo toda repuxada!

O Serra não fica atrás!

Meu amigo, olha aqui, ó:

Tá um bagaço o rapaz -

A múmia do faraó!

Desculpe, viu, meu amigo,

Tô em meu direito pleno,

destilando, aqui, contigo,

Meu estoque de veneno.

Aqui no 3ª Mundo,

Não sei se fico ou se parto.

Porque logo,num segundo,

Nós cairemos prá 4º!

Sim! É Claro que sei!

E tô me modificando!

Graças a Deus, acordei,

E hoje estou me virando.

É que tô ficando esperto,

E perdendo a castidade.

Por isso não tô tão perto

Dessa tal honestidade.

Como? Tu tá duvidando?

Pois então vou te mostrar

Como é que estou dançando

O que está a pocotar!

E tu, cumé que tu fica?

Pois aqui vou te mostrar

A dança do Tiririca

Que aprenderei a dançar!

Há bem pouco descobri,

Veja como eu era otário,

Que todo livro que li,

Não era nem necessário!

Lula ensinou-me afinal

Como aprender à socapa:

Não se lê livro, afinal,

Basta a orelha da capa!

Lá tá tudo resumido

O que que o livro contém.

Basta não ser esquecido

E não contá pra ninguém!

Me deram, pois, duas dica

Pra ser um desses leões:

-Papo simples, se complica.

-Fazer muitas citações!

Depois disso, meu cumpade,

Tenho vivido melhor,

Pois já não busco a verdade

Em Platão que sei de cor.

E me informaram então

Pra não perdê embocadura,

Que a tal da Informação

Substitui a cultura!

Até arranjaro apelido

Para inteligência escassa.

E é um nome polido:

Chama “Cultura de Massa!”

Lhe peço não confundir

Com Cultura Popular,

A que faz o povo rir,

E que expressa o seu cantar.

Porque essa é sentimento,

Tem colorido e matiz.

Tem substância e alento,

Tem origem, tem raiz..

Portanto, prá relembrar:

Modismos? Eu não me encaixo.

Porque não há paladar

Que aceite goela abaixo!

Forjando cultura estão!

O que é isso,companheiro?

É falta de inspiração?

Ou só busca por dinheiro?

Tu tá rindo, meu amigo?

Mas eu tô falando sério!

Eu sei! Concordo contigo!

Mas mudaram o critério!

E me disseram que é sábia

Essa Cultura de Massa,

Que basta ter boa lábia

Para fugir da desgraça!

Tu te lembra dos poema

Que no colégio fazias,

Onde fonema a fonema

Lembrava Gonçalves Dias?

Mas hoje, amigo, aprendi

A mexer num Top Lap,

E também não resisti

Em faturar com o Rap!

Tô ficando moderninho

E tu tá ficando atrasado!

Basta só ser espetinho

Prá ter um carro zerado!

É mole? E eu na dureza

Pelas décadas sem fim!

Quando, com a esperteza,

Nem preciso do Latim!

Tem coisas – eles que provem –

Que parece coisa vã.

Como comparar Beethoven

Com o nosso É o Tchã?

Van Beethoven, me parece,

Hoje estaria dançando,

Se em seu show não houvesse

Uma bunda rebolando!

Vai dizê que o Carlos Gomes

É melhor que o Tiririca?

Se pensas isso, tu somes!

Concorda, que não cumplica!

Da grande felicidade

Já ninguém se lembra mais.

Foi-se a simplicidade

Dos antigos carnavais,

Cadê aquele fascínio

Cuja falta desconsola

Das rimas de Lupicínio

Ou dos sambas do Cartola?

Ninguém sabe um pedacinho

Muito menos tudo, inteiro,

Sobre Nelson Cavaquinho

Ou Jackson do Pandeiro!

E ninguém, no mundo inteiro

Seja na China ou no Bósforo,

Imita Ciro Monteiro

Numa caixinha de fósforo.

Cadê José de Alencar?

O Machado e sua prosa?

Caymmi, o homem do mar,

Lamartine e Noel Rosa?

Mas, se em Paris, num desfile,

Sobrar um peito de fora,

Garanto que lá em Joinville

Todos saberão na hora!

Isso prova, ô meu belo!

Que a tal cultura ascendente,

Tá marchando em paralelo

E emburrecendo a gente!

Ninguém nota, nem se vê

Se sei muito de História.

Pois as bundas na TV

São a verdadeira glória!

Abandonei coisa nobre?

Assim, constrangido eu fico,

Porque tu vai ficá pobre,

E eu? tô ficando rico!

Meu cumpade, me aperreio,

Porque junto não estamos.

Claro, claro. ainda leio

O Pitágoras de Samos!

Mas minha opção urgente

Em minha vida já fiz!

A ser pobre inteligente

Sou burro, rico e feliz!

Por isso vou me abestando,

Mas não contes pra ninguém!

Tu devia é estar pensando

Em te abestares também!

Meu livro de cabeceira?

Eu tenho dois, num cumplica.

Um da Dilma, com besteira,

E outro do Tiririca!...

Alô, alô..

Cumpade...

Ih! Desligou!

* * *

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 04/10/2010
Reeditado em 04/10/2010
Código do texto: T2536656
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