In natura* Autor: Damião Metamorfose.

*

Inspirado em um soneto do mesmo autor.

*

Não tem cheiro mais gostoso,

Do que o cheiro in natura.

Da garapa e mel de cana,

Do melado e rapadura.

Da batida e o alfenim,

Feito a mão e sem mistura.

*

Da água fresquinha e pura,

Que desce no riachão.

Com a cor avermelhada

Ou roxa, conforme o chão.

Que no final vira lama

No fundo de um porão.

*

Da época da plantação,

No baixio ou na chapada.

Da chuva apagando as cinzas

Da broca que foi queimada.

Ou no capim quase seco

No final da invernada.

*

Na terra que foi cortada,

Com trator ou com arado.

Do suor se misturando

Com o solo semeado.

E o vento que sopra forte

Ou leve e bem orvalhado.

*

Do café que foi torrado

E pilado em um pilão.

Da fumaça que exala

Na chaminé de um fogão

De lenha, em dias de chuva,

Longe da poluição.

*

Nas caatingas do sertão,

Quando as folhas vão caindo.

Molhadas pelo sereno

Cedinho com o sol saindo.

E os água-pés no açude,

Quando as pétalas vão se abrindo.

*

Cheiro de gado mugindo

E do estrume do curral.

Do pau darco bem florido

No meio do matagal.

E no pó que o vento trás,

Do pendão do milharal.

*

Roupa seca no varal,

Sobre o vento balançando.

De um ferro cheio de brasas

A mesma roupa passando.

E a fumaça da panela

De rubação cozinhando.

*

De um beiju quase queimando

Dentro de um alguidar.

Pronto para ir à mesa

Aguçando o paladar.

E a voz de mamãe dizendo:

É hora de acordar!

*

E o mais peculiar,

Que das narinas não sai.

De todos é que eu mais gosto,

Sinto saudade e me atrai.

O de um abraço suado,

De mamãe ou de papai.

*

Fim

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 27/09/2010
Código do texto: T2523961
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.