Separação
Chorei amarguras sozinho, silente
Em versos tristonhos, sofridos demais...
Vieste singela em meiguice de paz
E deu-me um amor verdadeiro, prudente
Que tu poderias, e tu tão-somente!
Fazendo-me alegre, mais manso perante
O grande leteu que eu morria, ofegante,
Chorando comigo o teu choro carmim.
Agora tu vais te apartando de mim
Levando minh’ alma e um pedaço gigante.
Eu sei que te fiz sofredora opulenta,
Enquanto choravas buscando carinho,
O meu vero amor na candura do arminho...
Eu não conseguia te ver, pois tão lenta
A minha ciência julgava sedenta
De vício ruim pra qualquer um amante
E sei que, magoei-te em meu vício constante,
Mas, hoje te peço perdão neste fim
Agora tu vais te apartando de mim
Levando minh’ alma e um pedaço gigante.
Tu levas lembranças bonitas assaz,
Momentos gostosos de puro prazer,
Momentos difíceis até de viver,
Sorrisos tão ledos e toda esta paz
Que eu tinha e julgava não ter nada mais
Que tolos murmúrios do mais néscio errante,
Pois não vi a vida contente adiante
Sorrindo e avisando com canto e festim
Agora tu vais te apartando de mim
Levando minh’ alma e um pedaço gigante.
Tu levas a mente do bardo sofrido
Que sempre chorou, lamentou – que castigo!
Por não ter na vida um fiel, doce amigo...
E tu foste sempre em meu peito o alarido
Bradado e guardado, o fanal conseguido
No âmago puro, sutil e constante
Porque não neguei a amizade no instante
Que tu pranteavas meu meigo jasmim
Agora tu vais te apartando de mim
Levando minh’ alma e um pedaço gigante.
Tu levas de mim a amizade solene
E todos meus risos que dei co’a alegria,
Meus versos sinceros e toda a magia
Do meu eu amigo, então não condene
Meu pranto pungido, um colosso perene,
Porque sem teu ombro não digas: - Avante!
Não seja tristonho, retrógrado amante!...
Pois vejo uma cova, um abismo sem fim...
Agora tu vais te apartando de mim
Levando minh’ alma e um pedaço gigante.
Tu levas de mim o meu corpo e meu sangue,
Meu peito dorido no ardor da paixão,
Meu filho querido que não vê razão
De tanto sofrer impressão bumerangue
Que tudo levou-me, deixando-me langue
No tosco desdém, solidão, sem garganta,
Pois não digo nada. É que nada adianta!
Não vejo mais luz, lacerado e enfim...
Agora tu vais te apartando de mim
Levando minh' alma e um pedaço gigante.