O GATO VOADOR

Tem um gato voador

Morando no meu lixeiro

E esse novo inquilino

Tem no furo derradeiro

Algum turbo propulsor

Pra voar feito um morteiro!

Digo isso porque ontem

Relaxadamente eu ia

Jogar o lixo no lixo

Aonde o bicho dormia

Pensando que aquele lixo

Somente a mim pertencia

Era quase meia noite

Eu tava um tanto atrasado

E talvez por conta disso

O gato desavisado

Dormia seu quinto sono

Altamente relaxado

E como a toda rotina

A gente se habitua

Lá ia eu com meu lixo

Bestando e olhando a lua

Seguindo rumo ao lixeiro

No muro perto da rua...

O lixeiro era um tonel,

Nada de muito esquisito,

E nessa noite já tinha

Uns dois palmos de detrito

Quando eu fui com meu lixo

Abastecer o bendito!

Quando eu joguei um saco

Assim a meia distância,

Meu amigo, minha vida

Do presente à minha infância

Passou perante meus olhos

E levou minha elegância!

Qu’eu dei um pulo pra longe

Quando o gato assustado

Saiu voando do lixo

Não menos desesperado

Numa cena de terror

Cada um correu pr’um lado!

E eu no medo do gato

Por pouco não me espicho

Pois nem mesmo em pesadelo

Nunca tinha visto bicho

Sair voando de dentro

De uma lata de lixo!

Porém de então para cá

Tou muito bem vacinado

E quando vou jogar fora

O meu lixinho sagrado

De longe já vou berrando:

-Lá vai lixo, seu viado!

João Pessoa, 22/09/2010.