O Encontro de Makunaima com o trio Roraimeira
Puxo a punho minha pena
E tracejo a redação
Nas trilhas de buritis
Vou construindo a canção
Com o pensamento em Roraima
Na serra de Paracaima
Brota minha inspiração...
E assim caros leitores
Narro encontro de primeira
Acontecido no norte
Da Amazônia brasileira
Do lendário Makunaima
Lá nas bandas de Roraima
Com o grande trio Roraimeira
Numa bela noite de luz
Que reluzia esse recanto
Clamam vozes por cultura
Expressa em forma de canto
Era tudo uma alegria
Ao som de uma melodia
Suaves num acalanto
Pois era o trio Roraimeira
Que para todos cantava
Memórias de nossa gente
Todo mundo acompanhava
Poesias da nossa terra
O rio, a mata e a serra
Tristeza nem se pensava
O Roraimeira é composto
Por cabras da região
Foi formado pra escrever
A cultura do rincão
Disseminar as sementes
As quais germinam ardentes
Pelo calor deste chão
Cruviana trouxe Neuber
Mestre que é u-cho-à parte
Do buriti com farinha
A maloca virou arte.
Na dança do Parixara
De Paracaima ao Bonfim
Veio o cavalo selvagem
Com o poeta Eliakim.
Zeca Preto cá chegou
Em barcos de buriti
O filho de Dona Neuza
Resolveu viver aqui.
Neuber mais Eliakim
Com Zeca foram andando
Pelas matas amazônicas
Sua música cantando
Reunindo fauna com flora
E juntos a cada hora
A terra iam louvando.
Quando repentinamente
Uma luz a todos brilhou
O trio ficou assustado
Mas o clarão não parou
E o calafrio arrebenta
Makunaima se apresenta:
– Quem impera aqui chegou!
Makunaima reconhece
Os seus nobres menestréis
E convida pra o melhor
De todos os seus papéis:
Rever a literatura
Pra costumar a cultura
De Roraima por cordéis
Os três fizeram bons votos
E pararam pra escutar
O que o deus da mata quis
Para o terceto falar
Makunaima foi falando
E todo mundo prestando
Atenção no seu ditar:
“ - E o primeiro passo é
Conhecer as redondilhas
Desenvolver belas rimas
Caminhando noutras milhas
Pra assim num sopro inspirar
Ter histórias pra contar
E escrever novas cartilhas
Então abrir os caminhos
Das mais novas gerações
Nas quadras do parixara
Acender os corações
N’esquinas de romanceiros
Rever os cancioneiros
Produzir novas canções
E precisamos também
Fincar bandeiras nos lares
Fortalecer as raízes
Navegar os sete mares
Ir buscar no passado
Tudo o que foi deixado
Das tradições populares
Vamos levar o cordel
Pra escola e pra padaria
Vamos para todo lado
Seja noite, ou seja, dia
Vamos fazer do cordel
Não ser apenas papel
Ou nova demagogia"
ZECA PRETO:
Serão cordéis do lavrado
Vindos de grandes autores
Pois os alunos de hoje
Hão de ser grandes senhores
De poesia de primeira
Que é da arte Roraimeira
Bamburrar nossos valores
NEUBER UCHOA:
Nas métricas do cordel
Tem quadra e tem quadrão
Tem décima e beira-mar
Rimadas em uma canção
O cabra que faz sextilhas
Sabe também das septilhas
De martelo e de mourão
ELIAKIM RUFINO:
Educação é cultura
Sem ela não sou ninguém
O cordel ensina a ler
Pra criança ser alguém
Ele tem que ir pra escola
Assim menino não cola
E o Brasil dá Amém.
O trio se prontificou
Aprovou de coração
Não deixou tempo correr
E tomou o violão
E se fez nesse momento
Mais um grande nascimento
De mais uma bela canção
O Roraimeira saudou
Poesia ao Makunaima
E Makunaima inspirou
A música de Roraima
Por isso que Roraimeira
É Prima cancioneira
Do Equador à Paracaima
Corre o sangue da mistura
Da cultura brasileira
Unindo matas, sertões
Rompendo qualquer fronteira
E de repente o Brasil
Navega apenas num rio
Pelos clãs da Roraimeira
E hoje em todo festejo
Makunaima lá está
A escutar sua mensagem
Correndo por todo lugar
Pelas vozes das pessoas
Revivendo coisas boas
Makunaimando a cantar
E fica aqui meu registro
Desse encontro de verdade
Roraimeira e Makunaima
Raiz e identidade
Na terra que o sol impera
Que o Brasil todo fizera
Essa nova Sociedade
R oraima é um lindo estado
O qual me ponho a cantar
D aqui o mundo é mais verde
R io é bem maior que mar
I garapés correm chão
G entes vivem emoção
O melhor mesmo é morar!