O DIA EM QUE O DIABO REZOU

O DIA EM QUE O DIABO REZOU

JB Xavier

Na noite passada eu tive

Um sonho de arrepiar,

No qual um fantasma amigo,

Que, claro, já não mais vive,

Veio a me antecipar.

Por estar sempre comigo,

Ele me disse que estava

Tranquilamente no Céu,

Quando, sem acreditar,

Viu que Deus alto gritava,

E fazendo um escarcéu,

Circulava sem parar.

Esse meu amigo morto

E o seu anjo, um serafim,

Ficaram preocupados

Ao ver Deus olhando torto,

Gritando: “Isto é o fim!”

Com olhos esgazeados.

Aos gritos Deus blasfemava

“Desgraçado, te maldigo!

Safado, que não concede!

Satanás, que só zombava,

Uma audiência comigo

Neste ofício ele me pede!”

Meu amigo, um morto esperto,

E liso que nem quiabo!

Ficou junto ao pé da porta

Por ser o ponto mais perto,

De ouvir de Deus e o diabo

Aquela a conversa torta.

Foi a coisa mais estranha,

Das coisas todas eternas

Ver satã e Deus de pé

E ver que enfim, a montanha ,

Com o rabinho entre as pernas

Tinha vindo a Maomé!

“Que queres, senhor Tinhoso? “

Vociferou Deus, bem bravo.

O diabo vacilou

E após, todo cauteloso ,

Numa postura de escravo,

Bem próximo a Deus, chorou!

“Por favor, misericórdia!”

Respondeu humildemente.

O diabo outrora altivo.

“Para evitar discórdia,

Luis Inácio, eternamente,

Desejo que fique vivo.”

“Ao contrário, cafajeste! “

Disse Deus, muito irritado.

E olhando feio a Maldade:

“Pois foste tu que o fizeste

Tornando-o vil safado

E grande deformidade.”

“Choramingando, abestado

Prostrou-se o diabo ao chão,

E seguiu se lamuriando.

Meu amigo, abobalhado,

Numa profunda oração,

Viu o diabo rezando!

“Levanta-te ó bicho imundo!

Chegou enfim tua hora

De pagar teus males mil.

Viverei cada segundo

Torcendo, que, como agora,

Siga em frente esse Brasil.”

“Não faças isso comigo!”

Disse o diabo a chorar

Ganindo qual cão sem dono.

“Sei que tu és meu amigo

Assim não vás me deixar

neste supremo abandono!”

“Por que queres deixar vivo

Aquele barbudo horrendo

E toda a sua curriola?

Tens aí algum motivo

Para deixá-lo vivendo

E não ensacar sua viola?”

“O diabo deu um grito

Num esgar horrendo e feio

Diante do Pai Eterno.

“Se eles morrem estou frito!

Vai ser o mó bombardeio

Se eles vierem pro inferno!”

“Mas foste tu que ensinaste

Ao barbudo a safadeza!

Com aulas adicionais

E foste tu que o levaste

A sentir-se realeza

E a roubar ainda mais!”

“Fiz muito mais, meu Senhor.

Pois no Inferno se filma

Tudinho o que aconteceu.

Lá é tudo abrasador!

Por isso enviei-lhe a Dilma

E mais tarde até o Dirceu!”

“Eles eram os meus dois

Braços direitos fiéis.

Ruins como eles não há!

Sei da bondade que sois,

Mas eles são bem cruéis

Por isso que estão por lá.”

“Pela Sagrada Madona!

Desgraçaste a humanidade,

Lesaste teus patrimônios

Enviando essa mandona

Com o poço de maldade

Que são aqueles demônios.“

“Sei que fui longe demais...

Cometi erro gritante,

Portei-me como um menino.

Mas confesso que tem mais:

Pois mandei o Mercadante

E até mesmo o Genoíno! “

Deus arfou horrorizado.

“Pobre dessa humanidade

Teu time melhor mandaste!

Por que estás preocupado?

Com toda aquela maldade

Verás aonde chegaste!”

“E porque, me diga então,

Queres que o ogro não morra,

Que eu não os mate amanhã?

Não seria melhor não

Tê-lo também na masmorra

Dos fogaréus de Satã?”

“Bem sabeis que não sou santo

Mas sou um cara sortudo.

E no meu mundo EU governo!

Se eles morrerem, garanto

Guiados pelo barbudo

Tomarão conta do inferno!”

Acordei em meio a tudo,

Pensando no pesadelo

Que pareceu tão real!

Olhei o criado-mudo

E me arrepiou o cabelo

Pelo que vi de infernal.

Um cheiro de enxofre havia

Num papel meio queimado

Fumegando em cor carmim.

Em letras grandes eu lia

O diabo apavorado:

“Por favor, reze por mim!”

* * *

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 22/09/2010
Reeditado em 17/01/2018
Código do texto: T2514301
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