A FILA DO NOTBOOK
DOS PROFESSORES DO ESTADO


Por: Rosa Regis

Colegas da Educação,
Neste cordel vou dizer
Quanto sofre um professor
Para um “presente” obter
Em um ano de eleição,
Onde o Governo, ao povão
Usa pra se promover.

Aqui, passo a reviver
Sem qualquer bajulação
Aquele dia Dezoito
De Setembro, caro irmão,
Em que eu vi Professores,
Mestres, e até Doutores,
Numa “fila de ilusão”.

Eu chego as nove e, então,
Já vejo que todo o Estado
Está ali desde cedo,
Coração acelerado
Pra receber o "presente"
Que o Governo "consciente"
Deu, mas deixando um recado.

Um "compromisso" assinado
Todos terão que deixar
Para o caso do "presente"
Quebrar-se ou alguém roubar.
O professor, com o que ganha,
Sem choro, queixa ou barganha,
Terá que o mesmo pagar.

E o professor que deixar,
Ou parar de lecionar
Por um motivo qualquer,
Vai ter que o mesmo entregar
Em perfeitas condições.
Senão sofrerá sanções.
Meu Deus, isso é de matar!

A fila anda devagar,
Se arrastando, e o cansaço
Faz a gente se escorar
Numa perna e noutra. O faço,
Pois não quero me sentar
No chão, pois, pra levantar
Dar-me-á dor no espinhaço.

Cada andada é um pedaço
De meio metro, não mais.
As mulheres fofocando,
Que os homens, falam bem mais.
O tempo vai se passando,
Todo mundo reclamando.
É que a maçada é demais.

E já se ouve alguns ais
Com o Sol quente tinindo.
As caixas desocupadas
Alguns já vão assumindo.
Porém Socorro erra o lado
Da caixa, e um estalado
Ouve-se, e o povo rindo.

Socorro, também sorrindo,
Na cerca, vai se escorando;
E encabulada, rejeita
A ajuda que estão lhe dando
Mas vendo a dificuldade
De levantar, na verdade,
Termina a ajuda aceitando.

Posso dizer que, contando
As horas, já faz bem três!
A turma já está faminta
No entanto chegou à vez,
Pois a fome desgraçada
Que ataca a professorada,
Finalmente se desfez.

Distribuição se fez
De biscoitos variados:
O Cream Cracker, o Maria,
Até biscoitos salgados!
Mas água, que é bom, faltou.
E isso aí provocou
Raiva em alguns mais zangados.

Meus ossos já estão cansados,
Já sinto dor nas cadeiras!
Alguns conversam demais
Só para rir, só leseiras.
Vou pegando a falação
De um e de outro, então,
Para produzir besteiras.

As pernas mexem. Canseiras
Demonstradas, sem dizer.
Corpo que vai e que vem
Faz, quem olha, perceber
Que a turma está bem cansada
E mesmo sem dizer nada,
Com o mexe-mexe, faz ver.

Os de trás deixam entrever
Que o cansaço, já chegou
Também pra eles. Alguém
Num papelão se jogou,
Da bolsa fez a escora
Da cabeça. É que a demora
Ao pobre rapaz prostrou.

Alguém para mim olhou
Curiosa pra saber
O que eu estava fazendo
Danadamente a escrever,
Eu faço que não tô vendo
E continuo escrevendo
Tudo que consigo ver.

Alguém já deu a entender
Que a coisa aqui vai além
Do benefício trazido
Ao Professor, porque quem
O tal bem adquirir
Não irá usufruir
Dos benefícios que tem.

Pois nele mesmo já vem
Implantado, para tal,
Um programa que o fará
Ter um problema fatal
Se acaso ele for usado
Ao contrário do mandado.
Terá castigo letal.

Só mesmo aqui em Natal
Para se ver algo assim!
As pessoas, já nervosas,
Põe pra fora o que há de ruim:
Reclama, fala, esbraveja...
Bendito louvado seja
Meu Bom Deus! Isso é o fim.

Todos falam... Para mim
É a fome que chegou.
Alguém diz que atitude
Para o Professor faltou.
Outro diz que a peãosada
Não reage sobre nada!
Isso, um pouco, me encucou.

Alguém na fila, falou
Que o meu nome poderia
Não tá "escrivido" lá
Na lista, onde deveria.
E não estando "escrivido",
Com certeza, não duvido,
Eu não o receberia.

O povo, que a alegria
Dominava de manhã,
Já não está conseguindo
Nem conversar com afã,
Pois o cansaço e a fome
Faz que o colega reclame,
Achando essa espera vã.

Já não sinto a mente sã;
Minhas pernas latejando;
Minha vontade á cair,
É o cansaço dominando.
Finalmente alguém chamou,
Meu coração disparou
Pois não estava esperando.

Entro no auditório, quando,
Lá, dou de cara com alguém
Já bastante conhecido,
Pois todos conhecem bem
Zé Fernandes, "companheiros".
Nós, que somos brasileiros
Já sabemos o que vem.

Pois fala como ninguém
O nosso amigo de "luta",
Para convencer o povo
Que já alerta, reluta.
E um ou outro estressado,
Sem escutar o recado,
Fala, discorda e refuta.

Vem chegando a "Força bruta",
De "Choque", por nós, chamado.
Será que há um furdunço
Lá na frente? Do outro lado?
Já são quase duas horas
Da tarde - já há melhoras,
Chega o momento aguardado.

Cada um é convocado
Pela letra da Escola
Winston Churchill, afinal,
No fim da fila se enrola.
Apenas três componentes
Representando, três entes:
Gilson, Eurides e Lola.

Mais um "babado" que rola
Quando se chega ao saguão,
As Marias reclamando
Pois há, delas, de montão!
E se a chamada é por letra
Alguém inda faz mutreta,
Francisco entrando de João.

Meu Jesus, o coração
De cada um, apertado
Já ficou ao ver o "Choque"
Braços cruzados, ao lado.
Que confusão desgraçada!
Pois eu não escutei nada
Ao "W" ser convocado.

Eurides, em tom zangado,
Já foi falar com o rapaz
Pra chamar em tom mais alto,
Porque isso não se faz!
Baixinho, em meio à zoada
De uma turma alvoroçada,
Não ouve, quem está atrás.

Afinal, a vez se faz,
Alguém me chama e me atenta
Baixinho, assim: - Qualquer letra
Que chamarem, você tenta!
E logo um rapaz chamou
O “U”, Eurides entrou.
E eu também, pois não sou lenta.

Faminta e muito sedenta,
Afinal, vou receber
Meu Notbook "gratuito"
Que bem fiz por merecer,
Depois de um dia escrevendo
Tudo que estava ocorrendo,
Para o "Estado" todo ler.

Mas inda tenho a dizer
Algo, de forma queixosa,
É que vi que a "segurança"
De pouca educação goza:
Pois sou "preferencial",
Mas a Polícia local
Disse-me: - Não, Dona Rosa!
...
Rezei de uma forma airosa
O dia em que o Professor
Sabendo-se competente,
Autêntico merecedor,
Recebeu seu Notbook
Em meio à fome e ao calor,
Gerando uma ligação
Interna com a Educação.
Salve nosso Educador!



Natal/RN
17 de setembro de 2010

No IFESP - Instituto de Educação
Superior Presidente Kennedy
durante a espera pelo Notbook.