CORDEL MISTURADO
Alguém aí me ensina
como escrever um cordel?
Deem-me régua e compasso,
folha em branco de papel
lotes de rimas perfeitas
e belas frases escorreitas
que faço um ninho no céu
Com os mestres dessa arte
preciso aprender a rimar
para não fazer bobagem
quando eu quiser versejar,
ser um poeta de classe
que banana desamasse
traçando poesias no mar
vou cavalgar as estrelas
nos braços da lua dormir
unir palavras torcidas
apagar a luz quando sair
dar murro em ponta de faca
comer caroço de jaca
gargalhar de tanto sorrir
Adentrarei as escolas
mostrando a lei da ternura
ensinando as belezas
que eu li nas Escrituras
forjando gente cidadã
beijar na boca da anã
beber razão da loucura
Darei nó em pingo d'agua
farei chover no deserto
taparei o sol com peneira
tentarei ser mais esperto
e como eu sou ciumento
serei coice de jumento
havendo homem por perto
Procurarei chupa-cabra
para ser meu guarda-costa
matando a cobra mostr'o pau
pois é de mim qu'ela gosta
mas ninguém se met'a besta
se mexer na minha cesta
a cobra fuma e o ferro tosta
Assim, aos mestres eu clamo
imploro benevolência
pedindo que me ensinem
do cordel essa ciência
sou poeta sem traquejo
troco cocada por beijo
vate sem experiência
Imagina, eu misturei
sorriso e melancolia
matemática e português
com doce de melancia
voei com pato selvagem
do medo tirei coragem
do monturo fiz poesia
Socorram-me cordelistas
sou de primeira viagem
se vão me ensinar rimas
não venham com sacanagem
sem essa de rimar tatu
me mandando chupar caju
o dedo azul do selvagem