O lugar que ninguém mora Ou O lugar que não existe * Autor: Damião Metamorfose.

*

Nasci no meio do mato,

Frase que já é batida.

De tanto eu repeti-la

Ao longo da minha vida.

Fazer o que se é verdade,

Se eu não nasci na cidade

Sou do campo e sou da lida?

*

Esse é o ponto de partida,

O gancho pra começar.

Mais um cordel sobre mim,

Minha origem, meu lugar.

Um lugar que no passado,

Era até bem povoado,

Mas passou a recuar.

*

Alto Oeste Potiguar,

Foi ali que eu nasci.

No sitio Açude Novo,

Três anos ali vivi.

Depois mudei de morada

E fui morar na Malhada

Alta, aonde eu cresci.

*

Infelizmente eu nem vi

Minha primeira morada.

Porque quando eu retornei,

Ela estava depredada.

Só vi um monte no chão,

De varas, telha e torrão,

Ruínas no meio do nada.

*

Casa quando abandonada,

Não resiste ao abandono.

Desmorona em curto prazo,

Cai igual folhas de Outono.

Dizem que casa tem vida,

Sofre e fica deprimida

E morre ausente do dono.

*

E assim nesse eterno sono,

O sitio não progredia.

Tudo em volta evoluiu

E ele não evoluía.

As famílias foram embora

E o que tem lá agora,

É uma casa vazia.

*

O meu pai sempre dizia...

Brincando em um tom gozado.

Que o lugar onde eu nasci,

Era amaldiçoado.

Que as terras não prestavam

E os donos maltratavam

O seu povo escravizado.

*

Ano passado ou “trazado”...

Veio a chuva em borbotão.

O açude transbordou,

Não resistiu a pressão.

O peixe, a água levou,

De resto, nada sobrou

Nem a lama do porão.

*

Se foi maldição ou não,

O açude foi embora.

O novo dono fez outro,

Bem maior que o de outrora.

Mas ganhou um apelido

E hoje ele é conhecido,

- O lugar que ninguém mora.

*

E eu relembrando agora,

Confesso que estou triste.

Rabiscando a última estrofe,

Fiquei de caneta em riste.

E pelo que descrevi

Eu acho que eu nasci

-Num lugar que não existe.

*

Fim

Damião Metamorfose
Enviado por Damião Metamorfose em 17/09/2010
Código do texto: T2504205
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