A fábrica de papel é um abatedouro de ideias...
1. Vou narrar para o leitor
Uma história interessante,
De como a Universidade
Transforma-se, a todo instante,
Numa fábrica cruel
Produtora de papel:
Pobre indústria degradante...
2. O pior neste negócio,
Nesta louca produção,
É o modo como se impõe
Esta indústria da ilusão,
Pautada no resultado
Provado em certificado
Carimbado no balcão...
3. Esta indústria do papel
Que acredita sim senhor,
Produzir conhecimento
Em aluno e professor,
Na verdade é o abatedouro
De onde se retira o couro
De uma ideia de valor...
4. Esta indústria “do saber”,
“Reino da diversidade”,
Adestra pelo papel
Quem sonha com liberdade;
E exige do professor,
Do aluno e do servidor,
Ao papel mais lealdade...
5. Para alimentar a fome
De cobiça e de laurel,
Esta máquina trabalha
(Louca torre de Babel)
Doutrinando devagar
Quem deseja se formar,
Sem saber, mas com papel...
6. Esta indústria da mentira,
Verdadeiro faz de conta,
Esquece a sociedade
A quem, sem respeito afronta,
Sem considerar que é ela
Que mantém, sustenta e vela,
E ainda paga toda a conta...
7. Indústria reconhecida,
Com certeza respeitada,
Afinal mostra que forma
Muita gente “preparada”;
Ator, Doutor, Enfermeiro,
Filósofo e Papeleiro,
Até Engenheiro de estrada...
8. Currículos são ampliados
Na máquina noite e dia,
Eventos são organizados
Perfeita esquizofrenia;
A busca insana não para
E o tolo estudante encara
Curso até de “bruxaria...”
9. Pouco importa qual matéria,
Quem coordena tal programa,
Se tiver certificado,
Todo mundo encena um drama;
Paga o preço do ridículo,
Pois, para compor currículo
Vira burro e come grama...
10. Há quem diga que é melhor
Ser burro com doutorado,
Do que ser alguém sabido
Sem nenhum certificado,
Por isso a Universidade
Fabrica com propriedade
Papel para todo lado...
11. O problema é que o papel,
Sem saber, não vale nada,
Contra isso a louca indústria
Arma forte barricada,
Impedindo que a verdade,
Vença, enfim, a falsidade,
Nesta escola de fachada...
12. Mais e mais certificados
São na indústria produzidos,
Numa escala sem limites;
Muitos deles corrompidos
Pelo interesse mesquinho
Dos que vivem do escarninho,
Sábios-mestres deprimidos...
13. Desde a pauta ao documento
Mais simples que se produz,
A louca Universidade
Ao papel sempre faz jus;
Do título de um doutor
Ao parecer do reitor,
Tudo ao papel se reduz...
14. Nesta fábrica maluca
Tudo é feito de papel:
Os sentimentos, as queixas,
O Físico e o Bacharel,
Advogados, Cientistas,
Médicos e Economistas,
Quem dela escreve um cordel...
15. Um recado, uma pergunta,
Simples solicitação,
Um histórico escolar,
Pequena reclamação,
Um pedido de café,
A venda de um picolé,
Tem que ter papel na mão...
16. Ao andar por esta indústria
Cuidado deve-se ter,
Para nunca confundir
O papel com outro ser,
Ninguém nela é de verdade,
Não existe na realidade:
Currículo é o que se vê...
17. Se estabelece com isso
Uma doida hierarquia:
Currículo de doutor
Com doutor logo se cria,
Mestre com mestre conversa;
O resto atrapalha ou versa,
Pesquisa não é poesia...
18. Pois é querido leitor,
“Certificado é importante”,
É o que se prega na fábrica
De uma forma extenuante,
“Quem não ler nesta cartilha
Vira fruto de armadilha:”
Esta indústria é vigilante...
19. Eu mesmo conheço bem
Do que esta indústria é capaz,
Sei da forma que ela pisa,
Pisa feito um capataz,
No meu ser de poesia,
Que lamenta de agonia:
Não sou um papel, sou algo mais...
20. Esta indústria do papel
É gerida noite e dia,
Por uma moça discreta,
Que causa dor e agonia,
E emperra uma vida inteira;
Não suporta brincadeira
- Seu nome é burocracia...
21. Qualquer curso de extensão,
Seminário de pesquisa,
Sempre tem certificado,
Tudo a fábrica autoriza:
“Papel produzido em série
(Mini-curso e mini-série),
Título de profetisa...”
22. A loucura não tem fim
Nesta indústria surreal,
Que mergulha no aparente
Mas esquece o principal:
“O saber com substância
Que nunca enxerga ganância ”
Pois não é saber teatral...”
23. Neste teatro cruel
Muita gente faz de conta,
Ao somar certificado
Com aquilo que não conta,
O professor diz que ensina,
Faz da pesquisa rotina,
Feito uma barata tonta...
24. O aluno, pobre coitado,
Se espelha no professor,
Cego para a realidade,
Sonha sempre em ser doutor,
Colecionando papel
Ficando quase pinel:
Sombra do orientador...
25. Esta indústria se revela,
Um perfeito abatedouro;
Lugar onde a boa ideia,
É loucura de calouro,
Delírio de algum demente
Que ainda não adestrou a mente,
Para o papel, seu tesouro...
26. Relatório de pesquisa,
Relatório de extensão,
Parecer de diretor,
Pedido de refeição,
Carimbo de recebido
No papel que é produzido;
Tudo espera no balcão...
27. A fábrica é castradora,
Mata a criatividade,
Tudo é sempre repetido
Em toda Universidade,
Se alguém pensar por si mesmo,
Isolado vive a esmo,
Sem ter visibilidade...
28. Por isso esta louca fábrica
Cantada neste cordel,
Enlouquece a todo aquele
Que nela cria cartel,
Alienando quem chega
E por ela até trafega
Em busca só de papel...
29. Se alimenta do papel
Esta indústria da ilusão,
Nela tudo é documento,
Lei de toda educação,
Quem na lei não se enquadrar
Pode “até não se formar”;
Torna-se uma aberração...
30. O papel tem seu valor,
(Isto é um fato consumado),
Afinal, quando se morre
Recebe-se um atestado;
O óbito é então garantido,
Papel em papel revestido:
Currículo atualizado...
31. E então quando isso acontece
O papel vira quimera;
Justamente este atestado
Que ninguém tão cedo espera,
(Seja mestre ou até doutor
Ou um nobre pesquisador)
A Indústria não o considera...
32. Deste modo um “bom currículo”
Todo feito de papel,
Não terá qualquer valor,
Seja no inferno ou no céu;
O que conta no final,
É a vida, talvez banal,
De quem nunca quis troféu...
33. Quem sabe eu também não ganho
Um prêmio ou certificado
Por este cordel que alerta
Contra este atual estado;
Estado de insanidade
De toda Universidade
Que só fabrica atestado...
34. Quem morre fica esquecido
Nesta fábrica cruel,
No máximo será lembrado
Num pedaço de papel,
Ou quem sabe no edifício
Fruto de algum sacrifício:
Nome gravado em troféu...
35. Vou atualizar meu currículo
Para o mundo consultar,
“Eu um mestre da poesia
Do verso belo e exemplar”,
Orgulhoso do “papel”
Que me lança mais ao léu
Nesta indústria singular...
36. Se eu pequei neste relato,
Se passei do meu limite,
Desculpas eu peço agora,
Não faço parte da elite,
Desta indústria de papel,
Que me trata como um réu,
Amarrado a dinamite...
37. Na minha Universidade
Posso não ter mais futuro,
Por não me render calado
Ao louco desejo obscuro
Que faz do papel poder,
Nas mãos de quem quer vencer:
Papel eu aqui te esconjuro...
38. Encerro, enfim, meu relato
Com certa preocupação,
Deixando a barba de molho
Esperando uma reação,
Desta indústria de papel
Que tem medo de um cordel
E não suporta um refrão...
39. Posso agora terminar
Sem querer causar tropel,
Pedindo ajuda de Deus,
Verdadeiro menestrel:
“Senhor tem pena de mim,
Agora que eu chego ao fim,
Deste meu triste cordel...”
40 “Senhor tem pena de mim
Pois canto com honestidade;
Se um dia pequei sem querer
Em minha Universidade,
Não o fiz por outra razão,
Além de uma devoção:
Meu amor sincero à verdade...”
1. Vou narrar para o leitor
Uma história interessante,
De como a Universidade
Transforma-se, a todo instante,
Numa fábrica cruel
Produtora de papel:
Pobre indústria degradante...
2. O pior neste negócio,
Nesta louca produção,
É o modo como se impõe
Esta indústria da ilusão,
Pautada no resultado
Provado em certificado
Carimbado no balcão...
3. Esta indústria do papel
Que acredita sim senhor,
Produzir conhecimento
Em aluno e professor,
Na verdade é o abatedouro
De onde se retira o couro
De uma ideia de valor...
4. Esta indústria “do saber”,
“Reino da diversidade”,
Adestra pelo papel
Quem sonha com liberdade;
E exige do professor,
Do aluno e do servidor,
Ao papel mais lealdade...
5. Para alimentar a fome
De cobiça e de laurel,
Esta máquina trabalha
(Louca torre de Babel)
Doutrinando devagar
Quem deseja se formar,
Sem saber, mas com papel...
6. Esta indústria da mentira,
Verdadeiro faz de conta,
Esquece a sociedade
A quem, sem respeito afronta,
Sem considerar que é ela
Que mantém, sustenta e vela,
E ainda paga toda a conta...
7. Indústria reconhecida,
Com certeza respeitada,
Afinal mostra que forma
Muita gente “preparada”;
Ator, Doutor, Enfermeiro,
Filósofo e Papeleiro,
Até Engenheiro de estrada...
8. Currículos são ampliados
Na máquina noite e dia,
Eventos são organizados
Perfeita esquizofrenia;
A busca insana não para
E o tolo estudante encara
Curso até de “bruxaria...”
9. Pouco importa qual matéria,
Quem coordena tal programa,
Se tiver certificado,
Todo mundo encena um drama;
Paga o preço do ridículo,
Pois, para compor currículo
Vira burro e come grama...
10. Há quem diga que é melhor
Ser burro com doutorado,
Do que ser alguém sabido
Sem nenhum certificado,
Por isso a Universidade
Fabrica com propriedade
Papel para todo lado...
11. O problema é que o papel,
Sem saber, não vale nada,
Contra isso a louca indústria
Arma forte barricada,
Impedindo que a verdade,
Vença, enfim, a falsidade,
Nesta escola de fachada...
12. Mais e mais certificados
São na indústria produzidos,
Numa escala sem limites;
Muitos deles corrompidos
Pelo interesse mesquinho
Dos que vivem do escarninho,
Sábios-mestres deprimidos...
13. Desde a pauta ao documento
Mais simples que se produz,
A louca Universidade
Ao papel sempre faz jus;
Do título de um doutor
Ao parecer do reitor,
Tudo ao papel se reduz...
14. Nesta fábrica maluca
Tudo é feito de papel:
Os sentimentos, as queixas,
O Físico e o Bacharel,
Advogados, Cientistas,
Médicos e Economistas,
Quem dela escreve um cordel...
15. Um recado, uma pergunta,
Simples solicitação,
Um histórico escolar,
Pequena reclamação,
Um pedido de café,
A venda de um picolé,
Tem que ter papel na mão...
16. Ao andar por esta indústria
Cuidado deve-se ter,
Para nunca confundir
O papel com outro ser,
Ninguém nela é de verdade,
Não existe na realidade:
Currículo é o que se vê...
17. Se estabelece com isso
Uma doida hierarquia:
Currículo de doutor
Com doutor logo se cria,
Mestre com mestre conversa;
O resto atrapalha ou versa,
Pesquisa não é poesia...
18. Pois é querido leitor,
“Certificado é importante”,
É o que se prega na fábrica
De uma forma extenuante,
“Quem não ler nesta cartilha
Vira fruto de armadilha:”
Esta indústria é vigilante...
19. Eu mesmo conheço bem
Do que esta indústria é capaz,
Sei da forma que ela pisa,
Pisa feito um capataz,
No meu ser de poesia,
Que lamenta de agonia:
Não sou um papel, sou algo mais...
20. Esta indústria do papel
É gerida noite e dia,
Por uma moça discreta,
Que causa dor e agonia,
E emperra uma vida inteira;
Não suporta brincadeira
- Seu nome é burocracia...
21. Qualquer curso de extensão,
Seminário de pesquisa,
Sempre tem certificado,
Tudo a fábrica autoriza:
“Papel produzido em série
(Mini-curso e mini-série),
Título de profetisa...”
22. A loucura não tem fim
Nesta indústria surreal,
Que mergulha no aparente
Mas esquece o principal:
“O saber com substância
Que nunca enxerga ganância ”
Pois não é saber teatral...”
23. Neste teatro cruel
Muita gente faz de conta,
Ao somar certificado
Com aquilo que não conta,
O professor diz que ensina,
Faz da pesquisa rotina,
Feito uma barata tonta...
24. O aluno, pobre coitado,
Se espelha no professor,
Cego para a realidade,
Sonha sempre em ser doutor,
Colecionando papel
Ficando quase pinel:
Sombra do orientador...
25. Esta indústria se revela,
Um perfeito abatedouro;
Lugar onde a boa ideia,
É loucura de calouro,
Delírio de algum demente
Que ainda não adestrou a mente,
Para o papel, seu tesouro...
26. Relatório de pesquisa,
Relatório de extensão,
Parecer de diretor,
Pedido de refeição,
Carimbo de recebido
No papel que é produzido;
Tudo espera no balcão...
27. A fábrica é castradora,
Mata a criatividade,
Tudo é sempre repetido
Em toda Universidade,
Se alguém pensar por si mesmo,
Isolado vive a esmo,
Sem ter visibilidade...
28. Por isso esta louca fábrica
Cantada neste cordel,
Enlouquece a todo aquele
Que nela cria cartel,
Alienando quem chega
E por ela até trafega
Em busca só de papel...
29. Se alimenta do papel
Esta indústria da ilusão,
Nela tudo é documento,
Lei de toda educação,
Quem na lei não se enquadrar
Pode “até não se formar”;
Torna-se uma aberração...
30. O papel tem seu valor,
(Isto é um fato consumado),
Afinal, quando se morre
Recebe-se um atestado;
O óbito é então garantido,
Papel em papel revestido:
Currículo atualizado...
31. E então quando isso acontece
O papel vira quimera;
Justamente este atestado
Que ninguém tão cedo espera,
(Seja mestre ou até doutor
Ou um nobre pesquisador)
A Indústria não o considera...
32. Deste modo um “bom currículo”
Todo feito de papel,
Não terá qualquer valor,
Seja no inferno ou no céu;
O que conta no final,
É a vida, talvez banal,
De quem nunca quis troféu...
33. Quem sabe eu também não ganho
Um prêmio ou certificado
Por este cordel que alerta
Contra este atual estado;
Estado de insanidade
De toda Universidade
Que só fabrica atestado...
34. Quem morre fica esquecido
Nesta fábrica cruel,
No máximo será lembrado
Num pedaço de papel,
Ou quem sabe no edifício
Fruto de algum sacrifício:
Nome gravado em troféu...
35. Vou atualizar meu currículo
Para o mundo consultar,
“Eu um mestre da poesia
Do verso belo e exemplar”,
Orgulhoso do “papel”
Que me lança mais ao léu
Nesta indústria singular...
36. Se eu pequei neste relato,
Se passei do meu limite,
Desculpas eu peço agora,
Não faço parte da elite,
Desta indústria de papel,
Que me trata como um réu,
Amarrado a dinamite...
37. Na minha Universidade
Posso não ter mais futuro,
Por não me render calado
Ao louco desejo obscuro
Que faz do papel poder,
Nas mãos de quem quer vencer:
Papel eu aqui te esconjuro...
38. Encerro, enfim, meu relato
Com certa preocupação,
Deixando a barba de molho
Esperando uma reação,
Desta indústria de papel
Que tem medo de um cordel
E não suporta um refrão...
39. Posso agora terminar
Sem querer causar tropel,
Pedindo ajuda de Deus,
Verdadeiro menestrel:
“Senhor tem pena de mim,
Agora que eu chego ao fim,
Deste meu triste cordel...”
40 “Senhor tem pena de mim
Pois canto com honestidade;
Se um dia pequei sem querer
Em minha Universidade,
Não o fiz por outra razão,
Além de uma devoção:
Meu amor sincero à verdade...”