ESPERANDO SER ATENDIDA
PELA MINHA GERIATRA
(Série Consultório)
Autora: Rosa Regis
Mais um bom tempo de espera
Agora, é geriatria.
Há dois meses que marquei!
Mais tempo, e esqueceria.
Isto merece um cordel.
Tendo inspiração, faria.
Finalmente chega o dia!
Mas como estou trabalhando,
Só vou no final da tarde.
Pelo menos, esperando,
Vou ficar bem menos tempo!
Com meus botões vou pensando.
O ônibus, sacolejando,
Faz-me quase adormecer,
Quase perdendo a parada!
E, na hora de descer,
Para puxar a cigarra,
Pulo. Preciso crescer.
No sinal, passo a correr
Pois, achando-me atrasada,
Penso que a minha consulta
Poderá ser cancelada
E, aí, será mais dois meses.
E isso põe-me irritada.
Pergunto, logo à entrada,
À moça da informação,
O andar que a médica atende.
Ela, com grande atenção,
Informa: No sétimo andar.
E sossego o coração.
Sigo, prestando atenção.
Localizo o elevador,
Entro e aperto no 7
Que vai levar-me onde eu for.
Ao chegar no Sétimo andar
Já estou sentindo calor.
Porém não há qualquer dor!
E agora, vendo vazia
A sala da atendente,
Que eu pensei que seria
A de espera da médica,
Vi-me cheia de alegria.
Na certa ela atenderia
A mim imediatamente!
Pensei eu, comigo mesma.
Mas, em seguida, demente
Achei-me, pois outra sala
Cheia eu vi, de repente.
Eu era uma paciente
A mais que ia esperar
Ao menos um par de horas
Até a noite chegar.
Pego papel e caneta
E aí passo a rabiscar.
E vamos a esperar...
Pois que, bem já no final
Da tarde uma paciente
Que está passando mal
Teria que entrar na frente.
Isto é mais que natural!
Fugindo um pouco ao normal,
Um Senhor, ao celular,
Conversa animadamente!
Parece negociar.
E aí uma Senhora
Vem meu pensar confirmar.
Pois passa a lhe perguntar
Se é fulano de tal
Com quem ela trabalhou
Há tempo aqui em Natal.
E o homem, confirmando,
Faz do papo um recital.
Mulher simples, coisa e tal,
Diante daquele "nobre"
Pelo poder, pois o mesmo
É rico, é cheio de cobre,
Passa logo a elogiá-lo
Qual um sino em belo dobre.
E o Senhor, pra que não "sobre"
Em meio a tanto elogio,
Sendo ex-patrão da Senhora,
Mostrando decência e brio,
Perguntou onde ela estava.
Ela respondeu: No Rio.
Eu, cá por dentro, sorrio
Pois não consigo conter
A minha admiração
Ao observar um ser,
Que se acha pequenino,
Bajulando um "grande ser".
Mas chego a me enternecer
Com aquela criatura
Que mostra em seu papear
Ter uma alma bela e pura,
Pois deixa transparecer
Nas palavras com ternura.
E ainda um bom tempo dura
O papear e a espera.
Procuro me distrair
Escrevinhando. Quem dera!
A cabeça está cansada.
E aí o pensar "manera".
Mas o papear impera
Entre os dois e, curiosa
Que sou, continuo ouvindo
A mulher que, toda prosa,
Ouve o Senhor, demonstrando
Ser uma ouvinte zelosa.
E o prazer que ela goza
Em ouvi-lo, transparece
Em seu rosto envelhecido
Que, como se estando em prece,
Bebe as palavras do homem
Que ao seu ser embevece.
A atendente obedece
A sequência, e ao Senhor
Chama. Mas ele, educado
Que é, fala: - Por favor!
E à mulher cede a vez.
Mas ela diz: - Não Senhor!
Agradece com fervor.
E aí passa a conversar
Com alguém que ao meu lado
Sentou-se e, a papaear
Continua. E eu continuo
Danada a escrevinhar.
A mulher passa a falar
Do que à mente lhe vem:
Fala de quem ela odeia
E de quem ela quer bem.
Meus ouvidos são antenas
Que a tudo pega e retém.
Mas uso o que me convém,
Continuando a escrever.
Agora, só faltam duas!
Penso: Eu vou me deter!
Já deverei ser chamada.
Isso me causa prazer.
Imagino o que fazer
Pra terminar o cordel,
Qual será a conclusão
Que passarei pro papel.
Então aquele Senhor
Sai. E é sopa no mel!
Como tirasse um chapéu
Imaginário, ele faz
Uma reverência à "colega"
De muitos anos atrás,
Dando-lhe um "breve adeus"
Talvez para nunca mais.
Eu continuo no cais
Da minha imaginação,
Puxando pela memória
Pra criar a conclusão
Do meu cordel que, parece,
Que não terá solução.
Porém o meu coração
Bem tranquilo, compassado
Bate, pois o meu pensar
Só está preocupado
Em terminar o cordel
Pra logo ser editado.
Ouço a mulher ao meu lado
Despedir-se do Senhor
E o mesmo a despedir-se
Com ar deferenciador,
Àquela pobre coitada
Fazendo um "grande favor".
Observo um sofredor
Ai, daquela paciente
Que está sendo acompanhada
Pela tal mulher "carente"
Que esquecera um pouco a mãe,
Voando às asas da mente.
Quem estava á minha frente
Já entrou faz um tempinho.
Eu lembro da minha mãe,
Vendo a falta de carinho
À mãe daquela Senhora.
E vêm-me um pensar daninho...
Pensar em redemoinho,
Como que de longe... ouvi
A atendente chamar-me
E, com vagar, me ergui.
Ela disse: - Pode entrar!
Entrei e logo saí.
Afinal dali parti
Com os encaminhamentos
Para os exames de praxe
Que são, enfim, elementos
Básicos e essenciais
A um tratamento, ademais.
Fui-me com meus pensamentos.
Natal/RN - 07 de junho de 2010
PELA MINHA GERIATRA
(Série Consultório)
Autora: Rosa Regis
Mais um bom tempo de espera
Agora, é geriatria.
Há dois meses que marquei!
Mais tempo, e esqueceria.
Isto merece um cordel.
Tendo inspiração, faria.
Finalmente chega o dia!
Mas como estou trabalhando,
Só vou no final da tarde.
Pelo menos, esperando,
Vou ficar bem menos tempo!
Com meus botões vou pensando.
O ônibus, sacolejando,
Faz-me quase adormecer,
Quase perdendo a parada!
E, na hora de descer,
Para puxar a cigarra,
Pulo. Preciso crescer.
No sinal, passo a correr
Pois, achando-me atrasada,
Penso que a minha consulta
Poderá ser cancelada
E, aí, será mais dois meses.
E isso põe-me irritada.
Pergunto, logo à entrada,
À moça da informação,
O andar que a médica atende.
Ela, com grande atenção,
Informa: No sétimo andar.
E sossego o coração.
Sigo, prestando atenção.
Localizo o elevador,
Entro e aperto no 7
Que vai levar-me onde eu for.
Ao chegar no Sétimo andar
Já estou sentindo calor.
Porém não há qualquer dor!
E agora, vendo vazia
A sala da atendente,
Que eu pensei que seria
A de espera da médica,
Vi-me cheia de alegria.
Na certa ela atenderia
A mim imediatamente!
Pensei eu, comigo mesma.
Mas, em seguida, demente
Achei-me, pois outra sala
Cheia eu vi, de repente.
Eu era uma paciente
A mais que ia esperar
Ao menos um par de horas
Até a noite chegar.
Pego papel e caneta
E aí passo a rabiscar.
E vamos a esperar...
Pois que, bem já no final
Da tarde uma paciente
Que está passando mal
Teria que entrar na frente.
Isto é mais que natural!
Fugindo um pouco ao normal,
Um Senhor, ao celular,
Conversa animadamente!
Parece negociar.
E aí uma Senhora
Vem meu pensar confirmar.
Pois passa a lhe perguntar
Se é fulano de tal
Com quem ela trabalhou
Há tempo aqui em Natal.
E o homem, confirmando,
Faz do papo um recital.
Mulher simples, coisa e tal,
Diante daquele "nobre"
Pelo poder, pois o mesmo
É rico, é cheio de cobre,
Passa logo a elogiá-lo
Qual um sino em belo dobre.
E o Senhor, pra que não "sobre"
Em meio a tanto elogio,
Sendo ex-patrão da Senhora,
Mostrando decência e brio,
Perguntou onde ela estava.
Ela respondeu: No Rio.
Eu, cá por dentro, sorrio
Pois não consigo conter
A minha admiração
Ao observar um ser,
Que se acha pequenino,
Bajulando um "grande ser".
Mas chego a me enternecer
Com aquela criatura
Que mostra em seu papear
Ter uma alma bela e pura,
Pois deixa transparecer
Nas palavras com ternura.
E ainda um bom tempo dura
O papear e a espera.
Procuro me distrair
Escrevinhando. Quem dera!
A cabeça está cansada.
E aí o pensar "manera".
Mas o papear impera
Entre os dois e, curiosa
Que sou, continuo ouvindo
A mulher que, toda prosa,
Ouve o Senhor, demonstrando
Ser uma ouvinte zelosa.
E o prazer que ela goza
Em ouvi-lo, transparece
Em seu rosto envelhecido
Que, como se estando em prece,
Bebe as palavras do homem
Que ao seu ser embevece.
A atendente obedece
A sequência, e ao Senhor
Chama. Mas ele, educado
Que é, fala: - Por favor!
E à mulher cede a vez.
Mas ela diz: - Não Senhor!
Agradece com fervor.
E aí passa a conversar
Com alguém que ao meu lado
Sentou-se e, a papaear
Continua. E eu continuo
Danada a escrevinhar.
A mulher passa a falar
Do que à mente lhe vem:
Fala de quem ela odeia
E de quem ela quer bem.
Meus ouvidos são antenas
Que a tudo pega e retém.
Mas uso o que me convém,
Continuando a escrever.
Agora, só faltam duas!
Penso: Eu vou me deter!
Já deverei ser chamada.
Isso me causa prazer.
Imagino o que fazer
Pra terminar o cordel,
Qual será a conclusão
Que passarei pro papel.
Então aquele Senhor
Sai. E é sopa no mel!
Como tirasse um chapéu
Imaginário, ele faz
Uma reverência à "colega"
De muitos anos atrás,
Dando-lhe um "breve adeus"
Talvez para nunca mais.
Eu continuo no cais
Da minha imaginação,
Puxando pela memória
Pra criar a conclusão
Do meu cordel que, parece,
Que não terá solução.
Porém o meu coração
Bem tranquilo, compassado
Bate, pois o meu pensar
Só está preocupado
Em terminar o cordel
Pra logo ser editado.
Ouço a mulher ao meu lado
Despedir-se do Senhor
E o mesmo a despedir-se
Com ar deferenciador,
Àquela pobre coitada
Fazendo um "grande favor".
Observo um sofredor
Ai, daquela paciente
Que está sendo acompanhada
Pela tal mulher "carente"
Que esquecera um pouco a mãe,
Voando às asas da mente.
Quem estava á minha frente
Já entrou faz um tempinho.
Eu lembro da minha mãe,
Vendo a falta de carinho
À mãe daquela Senhora.
E vêm-me um pensar daninho...
Pensar em redemoinho,
Como que de longe... ouvi
A atendente chamar-me
E, com vagar, me ergui.
Ela disse: - Pode entrar!
Entrei e logo saí.
Afinal dali parti
Com os encaminhamentos
Para os exames de praxe
Que são, enfim, elementos
Básicos e essenciais
A um tratamento, ademais.
Fui-me com meus pensamentos.
Natal/RN - 07 de junho de 2010