DESABAFAMENTO
Ando chocho, estressado
Por qualquer coisa bufando
E olhe qu’eu já mal ando,
Andar “me deixa” emburrado;
De noite em casa, cansado,
Depois d’um dia exaustante
Tomo um frasco de calmante
Deito ao luar noturno
Fecho os olhos e não durmo
Em mais um dia brochante...
Será o som das buzinas
Com seus soar irritante
Ou esse gás causticante
Que, dos escapes, germina?
Será qu’é essa rotina
Daqui da cidade grande
Que faz com que a gente ande
Sem tempo pra olhar de lado?
Não sei, pois tá tudo errado
E o errado só se expande...
Tou precisando de paz,
De isolar-me do mundo;
Cansei de ser moribundo,
Capacho de um capataz...
Eu não quero olhar pra trás
Daqui a cinqüenta anos
E contemplar desenganos!
Quer’um futuro graúdo
E pra tentar mudar tudo
Eu vou refazer meus planos!
A partir de amanhã
Não durmo mais de lençol,
Pra que logo cedo o sol
Mostre-me que é manhã;
Desisto de ser galã;
Compro uma bicicleta;
Do emprego pego a reta;
Vendo meu apartamento
E deixo pra testamento
Minha obra de poeta!
João Pessoa, 15/08/2010.