O DIABO QUE LEVOU O BÊBO PRA CASA
OBS.: Este cordel nasceu de uma visita minha ao Museu do Barro em Caruaru-PE, onde me foi apresentada a peça de barro "O diabo que levou o bêbo pra casa", peça feita por um dos filhos do Mestre Vitalino "O Rei do Barro". Baseado nessa peça de barro e nas histórias de um amigo que deixou de beber porque, segundo ele, via o diabo toda vez que bebia, compus o cordel abaixo, um abraço a todos que visitarem esta página, obrigado!
O DIABO QUE LEVOU O BÊBO PRA CASA
Um bêbo vivia bebo
Sete dias por semana
Tomava toda cachaça
Enchia a cara de cana
Depois começou a ver
O demo em sua choupana.
O diabo ia passando
Em plena segunda-feira
Pelo um boteco na rua
Quando viu na bebedeira
O bêbo lhe oferecendo
Uma cachaça matreira.
O diabo então parou
E ficou observando
O bêbo tomou a cana
E assim já foi falando
- Essa vai para o diabo,
pois sou eu quem tô pagando.
Um amigo do bebum disse:
- Cumpade, cuidado
Se o diabo escutar
Pode ficar chateado
E querer levar você
Para o inferno ao seu lado.
O bêbo disse que nada
Quem manda aqui sou eu
Não tenho medo de vivo
Quanto mais de quem morreu
Se o diabo aqui chegar
Vai tomar uma mais eu.
O diabo ouvindo aquilo
Entrou correndo no bar
Disse assim: - Meu caro amigo
Um segredo, vou contar
Está aqui o diabo
Que veio pra te levar.
Se você é o diabo
Eu sou é o satanás
Sai pra lá assombração
Pois tu é feio demais
Saia de perto de mim
E não volte nunca mais.
Além de você ser feio
Você também é fedido
Tem um cheiro de enxofre
E uma cara de bandido
Saia daqui seu diabo
Se não vai sair perdido.
Pegaram a conversar
O diabo ficou bravo
Disse eu vou te levar
Pro inferno, meu escravo
O bebum então achou
Essa frase um agravo.
Se eu for para o inferno
Vou infernizar por lá
Vou fazer uma arruaça
Uma bomba vou soltar
Vai ter pedaço de cão
Pra tudo quanto é lugar.
O diabo teve medo
Pensou é melhor fazer
Amizade co’esse bêbo
Pois eu tenho o que perder
Começaram a conversar
E pegaram a beber.
Beberam cerveja e cana
Conhaque, uísque e vinho,
O tira-gosto era ovo
Sardinha e arrumadinho
Com farinha e rapadura
Às vezes, com um caldinho.
Passaram mais de um dia
Tomando muita cachaça
O diabo então falou
Isso já não tem mais graça
Vamos embora, meu amigo
Pra não ver tua desgraça.
O bebum não aguentava
Nem mais sair do lugar
O diabo então falou
Pra casa vou te levar
Botou o bêbo nas costas
E começaram andar.
O bêbo em sua cacunda
Ia feliz a cantar
O diabo é meu amigo
Pra casa vai me levar
Quem visava àquela cena
Saia a comentar.
O demo levou o bebo
Deixou o bebo em casa
Saiu tombando na rua
Pro inferno bateu asas
Por estar bebo demais
Foi s’esquentar numa brasa.
Quando foi no outro dia
O bebum arrependido
Começou logo a pensar
No que tinha acontecido
Procurou por seu vigário
Disse: - Estou convertido.
Deixou logo de beber
E foi fazer oração
Na capela e na igreja
Passou a ter devoção
Passou a ser respeitado
Homem de admiração.
O demo tem muitos nomes
Cabrunco ou Guaxumão
Capa-Verde ou Capiroto
Chifrudo, Danado ou Cão
Tinhoso ou Coisa-Ruim
Tranca-Rua ou Cramulhão.
Pode ser o Anjo mau
Encardido ou Ferra-Brás
Ou Espírito-de-Porco
Renegado ou Satanás
Exu ou Excomungado
Cuidado, há outros mais.
Essa história é real
Não é mera ficção
Aconteceu c’um amigo
O qual teve uma visão
Um diabo o levando
Pro antro de perdição.
Depois que teve esse sonho
Ele se regenerou
Deixou logo de beber
Pra igreja o bebo entrou
Nunca mais tomou cachaça.
A Jesus se entregou.
Se você bebe demais
E tá pensando que arrasa
Cuidado com a cachaça
Pois ela só te atrasa
Pense na cena do demo
Levando o bêbo pra casa.
A lição desse cordel
É pra todo beberão
Deixe logo de beber
Pra não encontrar o cão
A cachaça é inimiga
Não entre na perdição.