O CAUSO DA BEBA DOIDA

O cara chega de frente,

Ela já olha de lado,

E toda incondescendente

Desenbucha o seu recado:

- Credo em cruz, ave Maria

Que comigo é diferente

Pois eu só dou ousadia

Pra homem reto, descente,

Você nem olhe pra mim

Não pense que é assim

Eu não sou pro seu biquinho

Volte ali pra seus amigos

Fiquem sós, com seus consigos,

Qu’eu fico aqui com meu vinho!

Eu sou quimera avançada

Produto de exportação

Não sou roupa vitrinada

Com nome “liquidação”

Sou loira do olho azul

Numa burca de Istambul

Qu’é pra ninguém me secar

E eu vejo em sua testa

Que você é fim de festa

Vai-te embora, vai pra lá!

Algumas horas depois

O vinho sobe ao juízo

E entre entãos e apois

Ela surge sem aviso:

- Oi moço, lembra de mim

Perdoe lhe incomodar

É que a festa tá no fim

E eu vim me desculpar

Hoje cedo fui tão grossa

Espero que você possa

Relevar o que falei

O meu jeito é meu suplício

Não sou assim tão difícil

Ante os vinhos que tomei

E esse vinho é docinho,

É docinho além da conta

Vem sentar aqui pertinho

Eu já tou ficando tonta,

Passe a mão na minha nuca

Me deixa doida, maluca

Me cutuca, me atiça

Vem matar a minha sede

Me sacode na parede

Me chama de lagartixa!

E o cabôco num relance

Busca se valorizar

Sem deixar fugir a chance

Da galega faturar:

- Olhe moça, vou contar,

Eu não gosto de maluca

Que me manda ir pastar

E quando enche a cumbuca

Pensa que eu sou de graça

Qu’eu sou um banco de praça

Ao dispor de qualquer dama!

Eu não sou tão fácil assim

Mas de cara emendo um: Sim,

Hoje nós divide a cama!

João Pessoa, 31/07/2010.