Matuto de Minha Terra
MATUTO DE MINHA TERRA
Autor: Zé Saldanha
Seu dotô qui é dotô
Sabe de tudo e num erra;
Concidere noz matuto
Lá da gruta, lá da serra!
O dotô qui leu, qui aprendeu
Me diga se conhiceu
Matuto de minha terra?
Matuto de meu sertão
Lá das bera do riacho;
Sertão de cabra da peste
Sertão veio que eu num relacho
Matuto do pé da serra,
Matuto de minha terra
É matuto porém é macho...
É macho mermo, bem macho!
Matuto do sertão brabo;
Pega cachorro duente,
Pega touro pelo rabo,
Matuto de minha terra
Adispois de entrá na guerra
Pega e mata até o diabo...
O dotô que é home da praça
Num sabe o qui é a roça;
Da vida de labutá
De matuto da mão grossa
Qui vivi na bera do rio
Cá muié e trese fio
Morando numa paioça...
Passá a semana inteira dotô
Puchando cobra pôs pés;
As ruma de jararaca,
Os rolos de cascavés;
É de verão a istio
Que papudê criá fio
Nas terras dos coronéis...
Matuto de minha terra doto,
Broca mato e incoivara;
Arranca toco, faz cerca
Pega a terra, prana e ara
Amança boi pro trabaio,
Pega de janeiro a maio,
Mais tem vergonha na cara!
Moro na mata dotô
Qui os bixo é quem domina!
Num tem um tevelisão,
A luz é de lamparina,
Num tem com que divirti
Mando os mininos drumi
E vou conversá mais Joaquina.
Sou pai de Magarida
De Ivã, Ana e Zabé;
Tinóca, Joana e Antonia
Bubuca, Lina e Bebé
Nisso ai eu num relacho
É 9 feme e 4 macho
E ta! O buchão da muié!
AUTOR: José Saldanha M. Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 1918, é o O Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte e talvez do Brasil, em Plena Atividade, atualmente com 92 anos.
ENDEREÇO: Recanto do Poeta ( zesaldanha@hotmail.com )
Rua Irineu Jóffili, 3610, esquina com Rua Piató-Candelária -Natal(RN)