GOROROBA DE CORDEL
Vi mil pássaros voando
recortando o infinito
desenhando no espaço
desenho lindo, bendito,
da vida em movimento
com tanto contentamento
como sorriso fingido
Que posso dizer do cordel
essa poesia bonita
nascida dos mananciais
pendurado numa fita
vai solto nas pradarias
canta o belo e as orgias
adoç'a palavra dita?
Seus versos são água benta
para o coração do leitor
as rimas são bem trançadas
que o poeta sabe de cor
quando cantados nas praças
conquista todas as raças
aplaudindo o embolador
Fluindo como cascatas
descendo as ribanceiras
se transformando nos rios
aguando bananeiras
matando a sede do homem,
dos pássaros que voam e somem
frutificando mangueiras
Como se mel de uruçu
deliciando o paladar,
versos agradam corações
e doce pra vida adoçar
aqueles causando riso
esse sendo paraíso
onde nós queremos morar
Porque poesia é como sonho
do qual não se quer acordar
o desejo é ficar dormindo
sem nunca parar de sonhar
flutuando no espaço
desamarrando o cadarço
do sapato para voar
Em se tratando de cordel
mais complexa é a fantasia
pego o rabo do foguete
vestido de alegria
pisco os olhos e vou à lua
lá encontro mulher nua
com tapa-sexo de poesia
Assim eu canto meus versos
mudando o preto pro branco
meu galo vira galinha
subindo de trem o barranco
cavalo desce escada
jerimum com goiabada
macaco dança fandango
É isso que eu chamo rimar
quando canto e chupo cana
namorando mulher linda
e comendo uma banana
dando nó em pingo d'água
afogando minha mágoa
com suco de cajarana