O PÉ DE MACAÚBA E O TEMPO

ICOPERE: LUZIRMIL

Quando eu tinha cinco anos, ao andar numa campina

Vi um pé de macaúba, que inspiraria esta rima.

Seu caule cheio de espinhos, ia de baixo em cima!

Eu ainda era criança, mas fazia pensamentos:

Uma árvore tão alta, com espinhos a contento,

Com as folhagens em leques, balançando com o vento!

Nela eu via também, dois cachos com seus coquinhos,

E muito me admirava, por ver tantos ali, juntinhos,

Que certamente era útil, pra alimentar passarinhos!

Olhando ao chão em redor, uma das frutas achei,

A sua casquinha dura, com o dente eu quebrei,

E pelo cheiro que tinha, de sua polpa provei.

Nos seguimentos do achado, eu segui pra minha casa

Onde no quintal enterrei, a castanha que levava,

Porém esqueci do fato, e logo eu dali mudava!

Só depois de meio século, àquelas plagas voltei

Das coisas do tempo antigo, nem a casa encontrei,

Somente uma velha macaubeira, por ali eu avistei.

Como um mistério no ar, um som eu pude escutar

Era o vento sibilante, em suas folhas a vibrar,

Como uma voz a dizer, que fora eu a plantar.

Com perene alegria, pusemo-nos a conversar

Ela, em tom de sentimento, pôs-se ali a reclamar,

Sobre o tempo que passara, sem eu nunca a visitar!

No som do vento eu senti, que era a voz de Deus

Que nos deu vida a ambos, no tempo que discorreu,

A semente que eu plantara, naqueles anos cresceu!

Já eu, como um peregrino, por muitas terras andei,

Fui picado por espinhos, nos lugares em que passei,

Sem que jamais me lembrasse, da castanha que enterrei!

Em meus fracos pensamentos, surgiu um tema divino,

No qual eu dei glórias a Deus, por ter me dado o destino

De encontrar viva a macaubeira, que plantei, quando menino!