SÓ LHES SOBRA A FÉ

Coitado, como padece
O povo do meu nordeste!
Quando não morre de sede
É com as chuva que fenece
E como sempre, dependem
Do pouco que lhe oferecem.
 
Quando chega o mês de março
Confiam em São José
Crendo que chova um bocado
E rezam com toda fé
Para o que tenham plantado
Germine e possam colher.
 
Porém, às vezes o santo
Faz ouvido de mercador
Ou não chove ou chove tanto
Que se perde o que plantou
E voltam a perder o encanto
Recolhendo apenas dor.
 
 Alguns viram peregrinos
Buscando dias melhores
De volta fazem o caminho
Quando sabe que já chove
Mas quando chove são espinhos
Que novamente ele colhe.
 
Voltam cheios de esperança
Para a terrinha natal
Mas é sonho sem sustança
Logo se transforma em mal
Por falta d’água ou na lama
Eita mundo desigual!
 
Porém se os governantes
Tivessem boa vontade
Eles não seriam errantes
Nem deixariam as cidades
Seriam mais confiantes
Na própria dignidade.


Brasília, 30/06/2010