A LENDA DA MANDIOCA

Numa tribo, certa vez,

Ocorreu a gravidez

De uma filha do cacique.

Por ela não ser casada,

De pronto, é interpelada

Para que logo se explique.

"Com ninguém tive contato!

Nunca pratiquei tal ato!"

Insistia a indiazinha.

Para o pai era maldita,

Pois ele não acredita.

Que sina a da pobrezinha!

Eis que um sonho o chefe tem,

Voz misteriosa vem:

"Na filha creia, meu caro!"

Transcorrida a gestação,

É menina, que emoção,

O bebê branquinho, claro.

A surpresa foi geral

A cor não era normal,

Muito incomum por ali.

O neném recém-nascido

Teve seu nome escolhido:

Batizaram de Mani.

Se já causava estranheza

A pele branca, pureza,

Que a menina apresentava,

Logo após o nascimento,

Sabia andar o rebento.

Além disso, já falava.

Ainda com tenra idade

Ano e pouco, que maldade,

Aquela pobre inocente,

Sem doença, sem razão,

Prostrou-se naquele chão

E dormiu eternamente.

Uma morte fulminante,

Sem aviso, num instante,

Para aldeia uma amargura.

Na própria oca enterrada,

Todo dia a mãe amada

Regaria a sepultura.

Algum tempo se passou,

No dito lugar brotou

Vegetal desconhecido.

Aquela terra escavaram,

Contudo não encontraram

O corpo do ser querido.

De novo, a tribo se espanta,

Raízes grossas da planta

Naquele solo surgiram.

Por fora casca marrom,

Miolo de branco tom,

Assustados, ele viram.

Cozinharam as raízes

E, provando, bem felizes

Disseram: "isso é presente!

Por Tupã foi enviado,

Merece ser celebrado

Pois mata a fome da gente!"

Fizeram uma homenagem

Para nossa personagem

No nome que se coloca.

Por ser na oca encontrada,

A raiz foi batizada

Desse jeito: "Manioca".