História de José e a Senhora vestida de branco
Baseado numa história real
“Introibo ad altare Dei ad Deum qui laetificat iuventutem meam”
Psalmus 42, 4.
O leitor que me perdoe,
Pois lhe escrevo de pé
Um relato verdadeiro
Que nem o de São Tomé
Esse cordel é pra quem
Em Jesus tem sua fé.
Escrevo dessa maneira
Por valer a lealdade
De quem assim me contou
Nessa minha mocidade
Pois tudo que narro aqui
Se resume na verdade.
Se o caro leitor da fé
Ainda não se valer
Esse verso que lhe escrevo
Não terá em porquê crer
A fé arrasta montanhas
E assim começo a escrever.
Na cidade do Recife
Num humilde lugarejo
Chamado bairro da Várzea
O meu canto já solfejo
Nessa antiga freguesia
Onde começo esse ensejo.
Nesse bairro recifense
Morava um simples menino
Que por José se chamava
Como o sino tem seu tino
Desde cedo ele já era
Honrado, não libertino.
José brincava na rua
De futebol e pião.
Estudava com apreço;
Sabia bem a lição
Em casa ajudava a todos
Sem valer má criação.
Num certo dia quando ele
Passava pela cozinha
De passo em passo sem trela
Tomando rumo na linha
Alguma coisa o chamou
A atenção que convinha.
José olhou muito atento
Com seus olhos infantis
Algo jamais por ali
Tivera traço feliz
Alguém naquele quintal
Chamar por ele bem quis.
Era uma jovem senhora
Que ali muito linda estava
Toda vestida de branco
Nesse pátio caminhava
E olhando para José
Uma das mãos acenava.
Essa senhora acenava
Com uma imensa afeição,
Parecia algo dizer,
José pensou logo então:
- Ela quer que eu a acompanhe
Sem perguntar a razão.
Porém num pronto se foi
Aquela bela mulher
José se encucou da idéia:
- O que tanto ela me quer?
Nunca a vi na minha vida
E se nunca mais vier?
O menino ficou parvo,
Correu para mãe e contou
O que tinha acontecido
Do jeito que ele olhou
A mãe ficou pensativa:
- Esse menino endoidou?
José contou para irmã;
Ela nem quis duvidar.
O menino disse tudo
Não precisou inventar
Tudo ali era verdade
Sequer quis engabelar
Alguns dias se passaram
E José tomou o quintal
Eis que surge novamente
A senhora sem igual.
Vestida de branco e bela
Com primor angelical.
José chamou pela mãe
E por sua irmã também
Perguntou-lhes se miravam
Assim como bem convém
As duas nada puderam
Ver do tal terreiro além.
Mas o menino seguiu
E a mãe disse já clamando:
- Mamãe, a tal bela moça
Por mim inda está chamando.
E eu vou ver o que ela quer,
Pois eu estou demorando!
A mãe de José tremeu
Por aquilo que ele via.
Ela correu, pegou o terço
Pediu pra Virgem Maria:
- Por favor, Nossa Senhora,
Proteja essa minha cria!
No domingo que chegou
A família prosseguiu
Foi à missa no convento
Como sempre ali se viu.
Na igreja nessa manhã,
José algo pressentiu.
Ele andou em direção
A um daqueles altares
Tinha na mente a lembrança
Navegando pelos mares
O menino fitou certo
Uns conhecidos olhares.
E sem hesitar da ação
Até sua mãe correu.
Agarrou-a pelo braço
Dizendo: - Algo sucedeu!
José queria mostrar-lhe
Quem a ele apareceu.
Dona Honória, sua mãe,
Da moça bem recordou.
Perguntou por trinta vezes
Se José não se enganou.
O menino tão certeiro
De nada então duvidou.
Ele disse: - É ela, é ela!
Apontando sem demora.
Sua mãe acreditou
Como eu lhe versejo agora.
José tinha se encontrado
Com a Virgem Nossa Senhora!
Como em Lourdes ele a vira
As roupas, o véu, o olhar.
Naquele dia José
O seu rumo quis andar
Com apenas seus oito anos
Ele já quis se ordenar.
Pois José ali ficou
Sabendo a via seguir.
Mais tarde, já um rapaz
Ao seminário quis ir.
Saiu como Padre Lins
Pro Nosso Senhor servir.
Padre José Lins de Moura
Percorreu por seu estado,
Levando a Palavra Santa
De Jesus ressuscitado
Que ninguém jogue isso fora:
Ele viu Nossa Senhora
E atendeu o seu chamado!
Recife, 12 de agosto de 2008.
Dia Nacional das Artes