VILMAR GAIA - O SEGUNDO LAMPIÃO
Escrevo mais uma história
De inveja e ambição
Para falar sobre um cabra
Que foi terror no sertão
Por Vilmar Gaia chamado
Que era cognominado
O Segundo Lampião.
Na vila de Conceição
Das Crioulas foi nascido
Vivia no anonimato
Mas um dia, decidido,
Já surgiu paramentado
Pois estava revoltado
Pelo seu pai ter morrido.
Chegou a ser conhecido
O Vingador do Sertão
Autor de 36 mortes
Sem pudor, sem coração,
Antes um rapaz ativo
Ninguém sabia o motivo
Dessa tal transformação.
Filho de Chico Simão
Um homem honrado e leal
Mas o filho era ligeiro
No revólver e no punhal
Sujeito de sangue quente
Não podia ver na frente
Farda de policial.
Homem alto, jovial,
Com panca de bonitão
Certo dia resolveu
Imitar o Lampião
Pôs em prática seus planos
Mas só durou cinco anos
Sua saga no sertão.
Faziam publicação
Sobre sua valentia
Há tempos que outro igual
Por lá não aparecia
Dele não se via o vulto
Pois estava sempre oculto
Mas na verdade existia.
Com tanta selvageria
Soldados não tinham paz
Acabou-se a impunidade
Dos tempos de capataz
Vilmar tinha a opinião
Que corrupto no sertão
Não devia existir mais.
Por aqueles carrascais
O povo andava assombrado
Com medo do pistoleiro
Que muitos tinha matado
Matava só por matar
Pra punir, pra se vingar
Ou por destino traçado.
Um polícia graduado
Quis armar-lhe uma cilada
Pensando que era fácil
E entrou numa roubada
Por Vilmar, por sua vez
Com a maior rapidez
Mata o cabra de emboscada.
Cabia-lhe a alcunha dada
Franco Nero do Sertão
Andava todo de preto
Sempre com um rifle na mão
Em todo lugar que ia
O povo até já dizia:
- É o novo Lampião.
Jurubeba, um valentão
Que a Lampião perseguia
Manifestou o desejo
De encontrar Vilmar um dia
Mas não foi bem sucedido,
Se isso tivesse ocorrido
Com certeza um morreria.
Meditando certo dia
Curtindo sua solidão
Vilmar, querendo imitar
O saudoso Lampião
Deu-lhe um lampejo ligeiro
De ir visitar Juazeiro
Do Padre Cícero Romão.
Do pensamento a ação,
Pra Juazeiro seguiu
No caminho foi cercado
Mas do cerco escapuliu
Enveredou noutra estrada
Saiu rindo da mancada
Dos cabras que o perseguiu.
Tudo que um dia existiu
Teve começo e tem fim,
Vilmar não foi exceção
Pois a vida é mesmo assim
Partiu engendrando plano
Do solo pernambucano
Foi preso em Ipaumerim.
Os jornais que estão afim
Sempre falavam em Vilmar
E dos seus perseguidores
Que queriam lhe pegar
Até que deram a notícia
Da vitória da polícia
No Estado do Ceará.
Quando a polícia a Vilmar
Lhe deu a voz de prisão
Não recebeu resistência
Tumulto nem confusão
Ele, tranquilo e pacato,
Se entregou de imediato
Com calma e com perfeição.
Vilmar sofreu traição
Por um tal de Português
Devido a um duro golpe
Que sofrera certa vez
Pelo bandido malvado
Que agora estava enjaulado
E ia pagar no xadrez.
Quem dele amigo se fez
Negava que o conheceu
E acusaram Vilmar
Dos crimes que cometeu,
Vamos agora ao evento.
Só depois do julgamento
Veremos o que ocorreu.
Sua prisão aconteceu
Pelo Capitão Ferreia
Estava tão confiante
Depois viu que fez besteira
Só lhe restava o xadrez
Pra pagar pelo que fez
Talvez pela vida inteira.
Se mostrava de maneira
Calma e com categoria
Dizia ter apagado
Três cabras com alegria
Eram os três que sequestraram
Seu pai e o assassinaram
Através de covardia.
«Não gosto de tirania.»
Foi o que Vilmar falou,
As suas mãos caleijadas
Aos repórteres mostrou
Só dizia ter vingado
O seu pai assassinado
E a vingança terminou.
A justiça o condenou
Pelos crimes cometidos
Passou a ser prisioneiro
Já não era mais bandido.
Viveu uma prisão serena
Cumpriu dois terços da pena
Até ser absolvido.
Voltou ao torrão querido
Se tornou um homem honrado
Dizia que foi bandido
Porque se viu obrigado
Cumpriu a vingança plena
Já amargou sua pena
Hoje está recompensado.
Sempre recorda o passado
Pela vida que levou
Tudo que ele fizera
A vingança terminou
Já não é mais pistoleiro
É um famoso vaqueiro
E um simples lavrador.
A natureza criou
Homens valentes, ligeiros,
Alguns se tornam heróis
Outros vão ser pistoleiros
Uns ficam no anonimato
Outros ocupam de fato
Grandes jornais brasileiros.
Lampião foi desordeiro
Quando a sorte o obrigou
Depois pensou em parar
A justiça não deixou
Só ficaram sossegados
Quando o viram assassinados
Com a mulher que o amou.
Quando Vilmar regressou
A sua terra natal
Todos o queriam ver
Uns do bem outros do mal
Ele foi bem sucedido
Porque estava protegido
De um cerco policial.
Depois de livre, afinal
Voltou à vida de outrora
Trabalhando na lavoura
Desde o romper da aurora
O povo se acostumou
O que passou já passou
Está vivo até agora.
Lembrar os fatos de outrora
Alimenta o meu sentido
Contá-los na poesia
Eu fico até comovido
Resta-me agora o pretexto
De escrever novo texto.
Aguardo um acontecido.
Série Cangaceiros, Vol. XXVII