Quando os Beatles cantaram Asa Branca

De boato não credito

Mas esse dou lealdade

Que um sujeito me falou

Num programa da cidade

Que Asa Branca do Luiz

Virou rock de raiz

Pelos Beatles de verdade.

Bem, se de fato virou,

Eu não tenho um magistrado

Mas como eu disse: credito,

Dou assim meu informado.

Gil disse: Caruaru

Rima bem com Liverpool

E tá tudo com nó dado.

Os Beatles são um quarteto

Ringo Starr na bateria

E o guitarrison George

Liderando a maestria.

No baixo está James Paul

Que faz voz de negro soul

Com John guiando a ritmia.

Eles juntos já bancaram

Sucesso no mundo inteiro.

De tão bons venceram “feras”,

Elvis foi logo o primeiro.

Com canção de tom vibrante

De efeito quente e dançante

Da riqueza, um “minhaeiro”.

E foi um tal de um furdunço

Com “hard”, “please”, “shout” e “do”.

De tanta coisa bobinha

Em dizer “she loves you”.

Oito dias por semana

Do meu rádio o som emana

“Uái do iu meique me blu”.

Esses homens que são beatles

Cantam em inglês recorde

Da rainha já ganharam

Até título de lorde.

Mas parece que era Membro

Do Império... já não lembro

O título desse acorde.

Mas eles deram cantando

Pro mundo todo a toada.

Eram muito dos novinhos

Pra agüentar tanta zoada.

Saíram cantando Help!

Com mais lampião que a Celpe

No meio da meninada.

Depois veio Rubber Soul

Até com canção de adulto.

Além de tocar guitarra

Da Índia tiveram reduto:

A cítara do George

Se tornou um nobre alforje

Pra qualquer crítico bruto.

Mas logo a necessidade

De querer mais renovar

Foi exigida por eles

Pra música salutar.

Foi Revolver no sentido

Procurando até ruído

Pro submarino cantar.

E assim chegaram mudando

Dizendo o Psicodelismo

De muitas inovações

Pra nós foi Tropicalismo.

Um disco de um tal de Pepper

Que até hoje inveja rapper

E criou o Pós-Modernismo.

A partir daí foi tudo

Vendo experimentação

Tocaram tanto instrumento

Sem ter catalogação.

Teve microfone a nado

Guitarra de retornado

Som doido de assombração.

E aquele tempo era de onda

Tinha Erasmo e Roberto

Que com a linda Wanderléia

Andavam sempre por perto,

Com broto, beijo e sem farda

Fizeram a jovem-guarda,

Deixaram Luiz incerto.

Luiz Gonzaga, o grão-rei,

Tacou o forró no Brasil.

Mas depois que esses tais Beatles

Botaram seu inglês vil,

Nosso grão-rei do baião

Ficou de cara no chão

Vendendo pouco vinil.

Mas veio uma notícia

Que o mundo todo escutou

Não sei se deu em TV,

Rádio, jornal ou num show.

Os Beatles têm Asa Branca

Na cuca, no ouvido e na anca

E pouca gente aceitou.

Asa Branca é um sonho de hino

Que se resume em tristeza

De cangalha do sertão

De gente que é só firmeza.

Da seca os verdes olhares

Se espalham lendo dos ares

Esperança e eterna reza.

Asa Branca leva peso

Com dois nomes para autor

Além de seu Gonzagão

Humberto veio a dispor

Formando um xodó tei-tei

Que Lennon e McCartney

Também merecem louvor.

Isso foi em sessenta e oito

Desses mil e novecentos

Disseram que Luiz ia

Receber muitos duzentos

Da moeda americana

Pra ficar cheio da grana

Mas foram outros quinhentos.

Primeiro foi logo assim:

Com a notícia dando bote,

Em ouvido disgramado

Dum bocado de “reporte”.

Talvez tenha tudo tido

Porte de desentendido

Que o povo, aceso, fez xote.

E deu foi um mundaréu

De conversa doida e nóia.

Não teve quem confirmasse

Aquela notícia jóia.

E pra não se dar chamego

É lembrar do cabra grego

Que engabelou toda Tróia.

Mas o Rei do baião via

Naquilo tudo despeito.

Coçou do queixo o sorriso,

Transpareceu do seu jeito,

Aquela mania peta

Do pião com a carrapeta

- Quero ver se eles têm peito!

- Quando cantei essa nega

O Brasil todo gostou.

Quero saber mesmo deles

Se nesse inglês vai ser show.

Baião não é feito rock

Que é rápido feito choque...

Quem dele riu se cagou.

E o Rei, de fato, selava

Peleja pr’esses modernos.

Os Beatles de tão supremos,

Sucumbiam nos seus ternos

Orgulhos de tez diversa

C’a prosa um tanto que adversa,

Canções em tristes invernos.

Emendando a cantoria

Dos Beatles com nossa trova,

Disseram que eles gravaram

Com nome de coisa nova

Uma tal de “Luz Profunda”

Com som igual que confunda

Caganeira com desova.

E estando calamitosa

A situação que se deu

O antes incerto Luiz

De novo convalesceu

Do boato, se verdade,

Deu Luiz de novidade

E muito disco vendeu.

E até nestes horizontes

Muito lesão fica louco,

Inclusive o cordelista

Que de cantar fica rouco.

Porém é tudo salada

Que não tem gosto de nada

Mas que se belisca um pouco.

Contudo há novas conversas

Que falam de uma maleta

Onde uma fita gravada

Está, só que ninguém veta.

Ela pertence ao Chifrudo

Que depois vai vender tudo

Pra alguém fazer de vinheta.

E encher o rabo de grana

Relançando mil versões

Pra publicar nos retratos

Aglomerando saguões

Das Bolsas em altos custos

Enrolando os pobres justos

Nisso e também em leilões.

Só que evitando negócio

John Lennon surpreendeu

Antes da CIA o matar

Prum bom cantor sucedeu

Outra fita do baú

E o nome dele é Raul

Que a versão sobreviveu.

Raul Seixas retornou

Para o Brasil com a canção.

Correu para gravadora

E soltou seu vozeirão.

“White Wings” era ela

Raulzito cantou bela-

Mente com o seu jeitão.

E quem juízo tiver

Tome sua conclusão

Pois é verdade o que digo

Nessa suma redação,

Já que de argumento faço

Não rejeito e abro este espaço

Pra quem tiver mais versão.

E cá o verso no fim

Já tá chegando benta hora

De pegar as letras todas

E levar para editora

E grato ao Mestre Rodrigo

Por me lembrar o postigo

Do episódio que vigora!

1ª versão: Jaboatão, 19 de agosto de 2004

2ª versão: Recife, 28 de junho de 2007.