CONSULTA AO PSIQUIATRA
(Série Consultório)
(Série Consultório)
CONSULTA AO PSIQUIATRA
de Rosa Regis
Sentada à sala de espera
Esperando ser chamada
Pego um papel de borrão,
Assim com quem quer nada,
Uma caneta, e escrevo
Para aguentar a maçada.
Maçada é com cêcedilha?
Sei lá! E vou prosseguindo
A colocar no papel
O que à mente vai surgindo,
Mas um desenho engraçado
Acaba me distraindo.
Olho pra televisão
E volto para o papel.
Os companheiros de espera
Pensam que eu estou pinel,
Nem imaginam que eu sou
Escritora de cordel.
E continuo escrevendo
O que à mente me vem.
O médico chama mais um,
Pelo nome, não sei quem,
E o chamado atrapalhou
Meu rápido pensar. Pois bem!
Começo olhar pra TV...
O desenho já mudou.
As pessoas vão saindo
E o meu ser se animou
Porém não muito, pois sei
Que, da fila, a última sou.
Pergunto a moça do lado
Se ela vai pro Doutor
E a sala que ele consulta.
E ela faz-me o favor
De responder, explicando
Humanamente, com amor.
Continuo vendo TV
E ao mesmo tempo escrevendo
Sem nem olhar para trás.
Assim, não tô percebendo
A quantidade de gente
E tranquilidade tendo.
O desenho não tem graça
Nenhuma. Só pra quem gosta
Desse tipo de desenho.
No entanto, faço aposta
Que a criança à minha frente
Do filminho não desgosta.
Vejo, com o rabo do olho,
O doutor, uma vez mais,
Chamar um dos pacientes
Que estão sentados atrás
De mim. Mas a minha vez
Tá demorando demais.
Dou uma olhada pra trás
E o meu veixame arrefece,
A quantidade de gente
Que vejo, merece prece
À "Santa dos Impossíveis",
Pois o momento carece.
E continuo escrevendo
Enquanto ouço a atendente
Controlando pelo nome
A entrada do paciente.
Cada um na sua vez
De forma bem coerente.
Chama fulana, ciclana,
Beltrana... nada de mim.
Porém, eu sei - me conformo
Que serei a última. Enfim,
Se fui a última a chegar
É justo que seja assim.
Entra mais um, e mais um...
E eu danada a escrever!
O povo já desconfia
Do que eu estou a fazer
E me olham de soslaio
Pois nisso mal podem crer.
Estou sorrindo por dentro
Pois a curiosidade
Das pessoas me divertem
E me deixam, de verdade,
Ao invés de encabulada,
Pelo contrário, à vontade.
E a mãozinha nervosa
Continua a escrever.
Alguém entra com castanha
A todos oferecer:
- Olha a castanha! É novinha!
Não resisto. Vou querer.
Porém nem mesmo a castanha
Tira a minha inspiração,
As palavras vão fluindo
Cada vez mais - em roldão,
Uma mão segura a castanha
E a caneta na outra mão.
O desenho já mudou
E eu nem sequer percebi.
O menino à minha frente
Falando alto, eu ouvi.
Ele está apreciando
O desenho. Não me meti.
A castanha está gostosa
No entanto, a quantidade
É pouca, porque o homem
Que vende, pela metade
Cortou o saco de um
Real. Esta é a verdade.
Entra mais uma mulher.
É menos um a esperar.
Porém ainda há muitos
Que irão se consultar
Na minha frente. A espera
Ainda vai demorar.
No relógio, o meio dia
Já está quase chegando,
Já fico um pouco nervosa
Vou terminar me atrasando.
Neste caso o Doutor Franklin
Vai terminar me "atestando".
Na minha frente há uns quinze
E ainda chega mais um.
A demora faz que eu
Sinta um pouco o baticum
Do coração que reage.
E o intestino faz rrrumm...
Eu sinto necessidade
De ir ao banheiro, e vou.
Parando só um pouquinho
De escrever, pois estou
Um pouquinho incomodada.
Fui lá, e aliviou.
Há um filme na TV
É uma coisa engraçada,
Uma daquelas comédias
Feitas para a criançada,
Mas eu não consigo rir.
Não acho graça de nada.
E aí vem um jornal,
O RN TV.
Já é mais de meio dia
E minha mente antevê:
Já chegarei atrasada
Eu garanto pra você.
O estômago reclamando
De fome, já se contrai.
Ainda tem muita gente!
Acho que a consulta vai
Para além das treze horas.
E a inspiração me cai.
E fico vendo o jornal
Porém com pouca atenção,
Os pensamentos me fogem
Parando-me um pouco a mão,
É o estresse da espera.
Mas penso: O estresse é vão.
Saem dois. Vejo o Doutor,
De soslaio, aparecendo.
Entra mais uma. A esperança
Já está se arrefecendo.
- Eu não saio antes das duas!
Parece-me que estou vendo.
Porque já são doze e meia
E ainda tem muita gente.
A consulta é vagarosa
Pois o Doutor, consciente
E pra lá de responsável,
Ouve bem seu paciente.
A espera continua.
Porém eu tenho esperança
De ser atendida hoje.
Disto, meu ser não se cansa.
E, como diz o ditado,
Quem espera sempre alcança.
E à medida que espero
Eu continuo escrevendo.
Agora, com mais vagar.
E já estou percebendo
O povo se incomodando
Com a espera crescendo.
A entrada de alguns idosos
Na frente, faz reclamar
Aos muitos que ali estão
Cansados, pois, de esperar.
- Eu sou idosa também!
Já penso em me apresentar.
Mas espero... E, finalmente,
Chegou, também, minha vez!
Fiz uma boa consulta
Sendo esta a última do mês.
O que ao médico vim pedir,
Acabei por conseguir.
E isto me satisfez.
Rosa Regis
Natal/RN - 27 de abril de 2010
13:15h - Na sala de espera
do consultório do Médico Psiquiátrico
Dr. Franklin Capistrano
A colocar no papel
O que à mente vai surgindo,
Mas um desenho engraçado
Acaba me distraindo.
Olho pra televisão
E volto para o papel.
Os companheiros de espera
Pensam que eu estou pinel,
Nem imaginam que eu sou
Escritora de cordel.
E continuo escrevendo
O que à mente me vem.
O médico chama mais um,
Pelo nome, não sei quem,
E o chamado atrapalhou
Meu rápido pensar. Pois bem!
Começo olhar pra TV...
O desenho já mudou.
As pessoas vão saindo
E o meu ser se animou
Porém não muito, pois sei
Que, da fila, a última sou.
Pergunto a moça do lado
Se ela vai pro Doutor
E a sala que ele consulta.
E ela faz-me o favor
De responder, explicando
Humanamente, com amor.
Continuo vendo TV
E ao mesmo tempo escrevendo
Sem nem olhar para trás.
Assim, não tô percebendo
A quantidade de gente
E tranquilidade tendo.
O desenho não tem graça
Nenhuma. Só pra quem gosta
Desse tipo de desenho.
No entanto, faço aposta
Que a criança à minha frente
Do filminho não desgosta.
Vejo, com o rabo do olho,
O doutor, uma vez mais,
Chamar um dos pacientes
Que estão sentados atrás
De mim. Mas a minha vez
Tá demorando demais.
Dou uma olhada pra trás
E o meu veixame arrefece,
A quantidade de gente
Que vejo, merece prece
À "Santa dos Impossíveis",
Pois o momento carece.
E continuo escrevendo
Enquanto ouço a atendente
Controlando pelo nome
A entrada do paciente.
Cada um na sua vez
De forma bem coerente.
Chama fulana, ciclana,
Beltrana... nada de mim.
Porém, eu sei - me conformo
Que serei a última. Enfim,
Se fui a última a chegar
É justo que seja assim.
Entra mais um, e mais um...
E eu danada a escrever!
O povo já desconfia
Do que eu estou a fazer
E me olham de soslaio
Pois nisso mal podem crer.
Estou sorrindo por dentro
Pois a curiosidade
Das pessoas me divertem
E me deixam, de verdade,
Ao invés de encabulada,
Pelo contrário, à vontade.
E a mãozinha nervosa
Continua a escrever.
Alguém entra com castanha
A todos oferecer:
- Olha a castanha! É novinha!
Não resisto. Vou querer.
Porém nem mesmo a castanha
Tira a minha inspiração,
As palavras vão fluindo
Cada vez mais - em roldão,
Uma mão segura a castanha
E a caneta na outra mão.
O desenho já mudou
E eu nem sequer percebi.
O menino à minha frente
Falando alto, eu ouvi.
Ele está apreciando
O desenho. Não me meti.
A castanha está gostosa
No entanto, a quantidade
É pouca, porque o homem
Que vende, pela metade
Cortou o saco de um
Real. Esta é a verdade.
Entra mais uma mulher.
É menos um a esperar.
Porém ainda há muitos
Que irão se consultar
Na minha frente. A espera
Ainda vai demorar.
No relógio, o meio dia
Já está quase chegando,
Já fico um pouco nervosa
Vou terminar me atrasando.
Neste caso o Doutor Franklin
Vai terminar me "atestando".
Na minha frente há uns quinze
E ainda chega mais um.
A demora faz que eu
Sinta um pouco o baticum
Do coração que reage.
E o intestino faz rrrumm...
Eu sinto necessidade
De ir ao banheiro, e vou.
Parando só um pouquinho
De escrever, pois estou
Um pouquinho incomodada.
Fui lá, e aliviou.
Há um filme na TV
É uma coisa engraçada,
Uma daquelas comédias
Feitas para a criançada,
Mas eu não consigo rir.
Não acho graça de nada.
E aí vem um jornal,
O RN TV.
Já é mais de meio dia
E minha mente antevê:
Já chegarei atrasada
Eu garanto pra você.
O estômago reclamando
De fome, já se contrai.
Ainda tem muita gente!
Acho que a consulta vai
Para além das treze horas.
E a inspiração me cai.
E fico vendo o jornal
Porém com pouca atenção,
Os pensamentos me fogem
Parando-me um pouco a mão,
É o estresse da espera.
Mas penso: O estresse é vão.
Saem dois. Vejo o Doutor,
De soslaio, aparecendo.
Entra mais uma. A esperança
Já está se arrefecendo.
- Eu não saio antes das duas!
Parece-me que estou vendo.
Porque já são doze e meia
E ainda tem muita gente.
A consulta é vagarosa
Pois o Doutor, consciente
E pra lá de responsável,
Ouve bem seu paciente.
A espera continua.
Porém eu tenho esperança
De ser atendida hoje.
Disto, meu ser não se cansa.
E, como diz o ditado,
Quem espera sempre alcança.
E à medida que espero
Eu continuo escrevendo.
Agora, com mais vagar.
E já estou percebendo
O povo se incomodando
Com a espera crescendo.
A entrada de alguns idosos
Na frente, faz reclamar
Aos muitos que ali estão
Cansados, pois, de esperar.
- Eu sou idosa também!
Já penso em me apresentar.
Mas espero... E, finalmente,
Chegou, também, minha vez!
Fiz uma boa consulta
Sendo esta a última do mês.
O que ao médico vim pedir,
Acabei por conseguir.
E isto me satisfez.
Rosa Regis
Natal/RN - 27 de abril de 2010
13:15h - Na sala de espera
do consultório do Médico Psiquiátrico
Dr. Franklin Capistrano