ADVENTO DE UMA NOVA ERA
José Francisco da Silva
Quando aqui chegou
No fértil sítio Brejo
Arruamento não achou
Uma casa-curral e uma vivenda
Foi só o que encontrou
Nas terras do sítio Brejo
Ele se acomodou
Com a esposa e seus filhos
Ali se instalou
A partir daquele dia
A esta terra amou
Entre os seus filhos
O caçula aqui chegou
Com apenas doze anos
E a este chão adotou
Como sua terra querida
E por ela sempre lutou
Basílio era um menino
Mas um sonho alimentou
Lutarei por esta gleba
Foi assim que ele pensou
E ao longo de sua vida
A ela se dedicou
Pra se juntar à família
Em seguida aqui chegou
Um grupo de parentes
Que aqui se radicou
E uma grande e laboriosa
Comunidade se formou
Inácio Gonçalves Bezerra
Aqui desembarcou
Com seus filhos adultos
Que o acompanhou
E junto à parentela
O povoado aumentou
Alguns anos depois
Também aqui aportou
Um grupo paraibano
E ao núcleo se juntou
Dando impulso ao povoado
E o contingente dobrou
A família Sá Batinga
Do Cabrobó chegou
A Pereira de Lucena
De Sousa pra cá se mudou
Também a Alves de Moura
A Paraíba deixou
O grupo aguabelense
Com este se consorciou
Através de matrimônios
E de repente se tornou
Um bloco parental
Um só povo formou
O povo de águas Belas
Neste chão realizou
Um excelente trabalho
E o cenário mudou
Com a nova mentalidade
Tudo aqui modificou
Com a fração dos latifúndios
Aqui se implantou
Agricultura e pecuária
E o comércio deslanchou
E o centro populacional
Aos poucos se organizou
Porém a cólera
Aqui desembarcou
E boa parte da população
Ferozmente dizimou
Esta maldita doença
Muita gente matou
Vencida a desgraça
Algum tempo se passou
O povoado se restabeleceu
E a população aumentou
E Basílio Gomes da Silva
Com um templo sonhou
Com a jovem Conceição
Basílio Gomes se casou
Em genro de mestre Antonio
Ele se transformou
De Francisco Pereira Lima
Parente afim se tornou
Com ajuda de um amigo
Um lote arranjou
E auxiliado pelo povo
Tudo bem planejou
E ao padre de Jardim
Ajuda requisitou
Francisco Alves de Moura
O patrimônio doou
E o Padre Joaquim Barreto
Em tudo colaborou
E à luta do nosso povo
Com amor apadrinhou
O padre Ibiapina
Nesta terra pisou
Quando os limites do templo
Mediu e demarcou
Disse: aqui será matriz
Assim ele profetizou
Na hora da medição
Ao missionário perguntou
Quem será o padroeiro?
E Basílio escutou
A escolha será sua
Em que Santo pensou?
Sem perder tempo
Basílio declarou
Tomado pela emoção
Que a voz lhe embargou:
Sagrado Coração de Jesus!
Foi assim que ele falou
Por ser um homem de fé
Um movimento encabeçou
E a construção da capela
Junto ao povo iniciou
E com muita sabedoria
O trabalho liderou
Ao redor do templo
Será rua, ele pensou
E em aforamento
Os lotes colocou
E a renda na capela
Com o povo aplicou
Com a construção das casas
Um arruamento se formou
Em derredor da capela
O povoado se edificou
Seguindo o alinhamento
Que Basílio arquitetou
Muito cedo por política
Basílio se interessou
E ao partido Conservador
Ele se filiou
E na cidade de Jardim
O Brejo representou
Na criação da Freguesia
Basílio logo pensou
E um abaixo assinado
Ao bispo encaminhou
Que de Milagres e Jardim
Ao criá-la separou
Pela criação do Distrito
Basílio batalhou
E em setenta e seis
Uma lei provincial o criou
A vinte e cinco de julho
O Governo a assinou
Mil setecentos e oito
É a lei que criou
Freguesia e Distrito
E nossa terra valorizou
E o povo de Brejo
Muito feliz ficou
O primeiro sacerdote
Só no outro ano chegou
A dois de setembro
E a freguesia encontrou
Numa situação difícil
Conforme ele afirmou
O rastro dos cangaceiros
No povoado ficou
E também o da seca
Que a todos afetou
O sinal da desgraça
Em tudo se notou
O venerável Padre Abath
Em ata registrou
No livro de tombo
Como a terra aqui achou
E o êxodo dos moradores
Que o lugar abandonou
O grupo de João Calangro
Com o dos Quirinos travou
Na feira do Brejo dos Santos
Um tiroteio e matou
O aguabelense Inacinho
E à sua família afrontou
O tiro acidental
Ao cidadão acertou
E a sua família
Em perseguição debandou
Matou alguns cangaceiros
E o grupo dispersou
Peste, seca e banditismo
Muito maltratou
O distrito do Brejo
Mas o quatriênio passou
E o povo forte e corajoso
Seu ritmo retomou
O trabalho do povo
Logo superou
A desgraça vivida
E o crescimento retomou
As fazendas se desenvolveram
E o casario aumentou
Em visita pastoral
A esta gleba chegou
D.Joaquim José Vieira
E na casa que o alojou
Havia ainda a marca
Do cangaço que a usou
O padre Belarmino
Que o secretariou
Elogiou a Freguesia
Mas também notificou:
De onde partiram balas
Partiram bênçãos, anotou
O povo do Brejo dos Santos
Um só bloco formou
O partido Conservador
Que de Caranguejo o chamou
E Basílio Gomes da Silva
Por todo o tempo o liderou
Porteiras passou a Vila
E Brejo se tornou
Distrito daquele lugar
A quem já liderou
Porém foi pouco tempo
Pois logo se libertou
O Distrito de Brejo dos Santos
Por algum tempo ficou
Dependendo de Porteiras
Que a Vila passou
Com a proclamação da República
Este se emancipou
Sendo monarquista
Basílio Gomes transitou
Para o regime republicano
Que o País proclamou
E a categoria de vila
Pra sua terra solicitou
O Decreto Estadual
Que o governo assinou
Aos vinte e seis de agosto
Ao Brejo emancipou
Da situação de Distrito
E de Porteiras o separou
A queda da monarquia
Em nada alterou
Como líder da vila
Basílio continuou
Os membros da Intendência
Ele mesmo os indicou
O partido republicano
Basílio em Brejo fundou
Até mil novecentos e doze
Ele aqui o liderou
De partido “Aciolino”
O povo todo o chamou
Os membros do Conselho
Basílio os indicou
E o governo do estado
A todos os nomeou
A nenhum deles
O nome rejeitou
Como primeiro intendente
Basílio Gomes nomeou
Seu irmão Lourenço
Que o povoado governou
Com amor e com justiça
Ele o bem público zelou
A cinco de novembro
A Vila se instalou
Mil oitocentos e noventa
Para a história entrou
E ao Coronel Ferraz
O povo grato ficou
Desde noventa e três
Basílio Gomes governou
O destino desta terra
Que ele tanto amou
E até mil novecentos e nove
À sua frente ficou
O primeiro professor
Que aqui chegou
Mino Israel Samuel Krebs
Manoel Inácio chamou
Da cidade do Jati
Que a seus filhos desasnou
Pedro da Costa Nogueira
De Milagres aqui chegou
E José de Sousa Camilo
Sua escola aqui instalou
Na casa do Basílio Gomes
Ele a seus filhos ensinou
Valeriano Soares da Mota
Também aqui lecionou
Na casa onde foi a Colins
Sua escola funcionou
E Joaquim Ferraz dos Santos
Na rua Velha ensinou
O primeiro professor público
Que no Brejo pisou
Foi Genuíno Lima Roldão
Que antes lecionou
Nas terras de Porteiras
Onde algum tempo morou
Balbina Viana Arrais
Em Brejo dos Santos chegou
Em noventa e oito
E na vila lecionou
Até mil novecentos e dezenove
Quando enfim se aposentou
O povoado do Brejo
Uma botica ganhou
Lídio Dias Pedroso
No casarão a instalou
E muitos medicamentos
Ali ele manipulou
Na rua da Taboqueira
Dona Balbina iniciou
Os trabalhos educacionais
E depois se mudou
Para a rua da matriz
Aonde sempre morou
O primeiro código de posturas
Basílio Gomes promulgou
Ao terminar o século
Do milênio que findou
Com novas perspectivas
O novo milênio entrou
A cadeia pública
Basílio levantou
O quartel da polícia
Também ele edificou
E o paço municipal
A estes acrescentou
Prefeitura e câmara
Basílio mobiliou
Ao lado comércio
Que da rua Velha mudou
Na rua da matriz
Estas ele instalou
Ao Pe. Francisco Abath
O povo do Brejo amou
E sob o teto da Igreja
Seu corpo sepultou
Quando ele desta vida
Para a eterna passou
Em mil novecentos e três
O padre Abath nos deixou
E o padre João Casimiro Viana
Da paróquia se apossou
E com idéias novas
A mesma revolucionou
Aos vinte e nove de março
O Padre Viana iniciou
Sua missão nesta terra
E logo incentivou
O plantio do algodão
E o povo aceitou
Com o cultivo do algodão
O município instalou
Uma máquina de beneficiamento
Que Manoel Inácio comprou
E trazida de Aracati
De carro de boi chegou
A Conferência de São Vicente
O vigário logo fundou
E a Associação do Coração de Jesus
Ele também criou
Cemitério e capela
Ampliou e reedificou
A Igreja Matriz
O vigário reedificou
Escola noturna pros pobres
Ele logo fundou
E dos jovens da Vila
Professor se tornou
A capela da Esperança
Ele edificou
A da Cachoeirinha
Ele a reedificou
E a sua residência
Ao lado da Matriz levantou
Pra Imaculada Conceição
Um patrimônio formou
E a capela de Porteiras
Inteira ornamentou
E a Conferência de São Vicente
Em Porteiras fundou
Para atender a demanda
O povo necessitou
De professor particular
E a João Inocêncio contratou
O Padre Antonio Gomes
Com ele estudou
Em colunas sociais
Brejo dos Santos figurou
Uma festa nupcial
O “Rebate” noticiou
Manoel Inácio Bezerra
Carmina e Luzia casou
Em noventa e três
A vila muito aumentou
Coletoria, Delegacia e Correio
Tudo já funcionou
O povo da pequena vila
Novos serviços ganhou
O regime de deposição pelas armas
Que Missão Velha inaugurou
Em todo o Cariri
De repente se alastrou
Porém a Brejo dos Santos
Este não contagiou
A Vila de Brejo dos Santos
Imune se conservou
Do fanatismo religioso
E da violência que reinou
No Juazeiro e demais municípios
Pois Basílio a orientou
Manoel Inácio de Lucena
O desejo demonstrou
De a vila governar
E Basílio o apoiou
Cedeu-lhe a intendência
E ao seu lado ficou
A formação espiritual e moral
Da qual Basílio gozou
No destino político e social
Do município influenciou
Pela paz desta terra
O patriarca sempre zelou
Em mil novecentos e onze
O cenário do Brejo mudou
No dia vinte de abril
Todo o seu povo chorou
Pelo bom padre Viana
Que faleceu, nos deixou
O povo de Brejo dos santos
Na Matriz o sepultou
E no mês de junho
O “Rebate” noticiou
O necrológio do Pe. Viana
Que um amigo publicou
Para substituí-lo
A Diocese indicou
O Pe. Leopoldo Fernandes
Que da Paróquia se apossou
No dia nove de julho
Do ano que se citou
Em mil novecentos e onze
Brejo dos Santos participou
Do pacto de harmonia política
Que Juazeiro realizou
Sob os auspícios do Pe. Cícero
Que a todos abraçou
Em mil novecentos e doze
Barbalha sediou
A reunião dos chefes políticos
Que Moreira de Sousa liderou
E todos os presentes
A Franco Rabelo apoiou
O coronel Basílio
De prestígio desfrutou
Junto aos chefes políticos
Do Cariri, que o indicou
Pra pacificar choques armados
Que entre eles estorou
Com sua autoridade moral
A muitos desarmou
Sem usar armas de fogo
Muitas lutas travou
Apenas com o Bom senso
Muitos ânimos acalmou
Em mil novecentos e treze
Da rebelião não participou
Com o compadre Padre Cícero
Não se solidarizou
Apesar desta atitude
A amizade continuou
O padre Cícero Romão
Com Basílio se comunicou
Instalado o governo intervencional
Os nomes das autoridades solicitou
Seu Filho Joaquim Basílio
Pra prefeito, Basílio indicou
Joaquim Gomes Basílio
Como o pai sempre usou
De bom senso e perspicácia
E a paz continuou
Foi prefeito, e como jornalista
No “Cetama” figurou
O Senhor Tiburtino Inácio
A banda de música fundou
E muitos talentos
Logo se notou
O gramofone de Manoel Leite
Em muito ajudou
A banda cabaçal
Que ao povo animou
Com Felix da Goianinha
Que a regenciou
Teve seu brilho ofuscado
Pois a outra a superou
A Agência Telegráfica
Em Brejo se instalou
Para alegrar os jovens
A Cavalhada chegou
Também o Tiro de guerra
Na vila se inaugurou
O popular Quinzô Basílio
Na sua terra fundou
O colégio São José
Que depois se fechou
No ano de vinte e cinco
Pedro Basílio o reinaugurou
No colégio São José
Com ele lecionou
Nicolau Viana Arrais
Que mestre se tornou
E o padre João Alboíno
Também colaborou
Um fato curioso
Que se registrou
Foi a criação dos jornais
Que ao povo agradou
Uma vez por semana
A edição circulou
José Moreira Tavares
“O Besouro” publicou
E Pedro Gomes Basílio
A “Flor” editou
Ambos escritos à mão
Mas o povo aprovou
A Farmácia Osvaldo Cruz
João Anselmo fundou
Além da sua finalidade
Outra ele tomou
Pois em centro social
A mesma se transformou
Não havendo médico
Seu Lino encanou
Ossos de braço e perna
E até dente arrancou
O vaqueiro do coronel
Fazia vez de doutor
De mil novecentos e quatorze
Ao vinte e sete indicou
Quatro prefeitos para a Vila
E estes que nomeou
Eram, parentes e afins
E a todos orientou
Nicolau Viana Arrais
No Brejo fundou
O grupo de escoteiros
E a juventude vibrou
O ano de vinte e cinco
Na história do Brejo ficou
Aos oitenta e um anos
Coronel Basílio abandonou
A atividade política
E à vida privada voltou
Após meio século
Da vida pública que levou
Treze anos viveu
Depois que se afastou
No casarão da Taboqueira
Sua voz silenciou
Em mil novecentos e quarenta
Pra sempre nos deixou
A sua triste morte
A todos abalou
No cemitério João Batista
Sua família o sepultou
Seu nome e seus feitos
A história imortalizou
A ele sua descendência
Por vezes o homenageou
E hoje com este cordel
Eu aqui também estou
Prestando o meu tributo
Como bisneta que sou
Às diversas homenagens
Que o povo lhe prestou
Na sua terra querida
Também se somou
A rua Pacificador Cel Basílio
Com que Fortaleza o honrou
Foi o índio Cariri
Quem primeiro aqui morou
Porém não sabemos ao certo
Quem foi que o expulsou
Sabemos quem com amor
Por sua terra a adotou
Um diz foi o Civilizador
Que no seu futuro pensou
Outro diz foi o Pacificador
Que a conduziu com amor
Todos dizem o Coronel Basílio
Seu fundador se tornou
Tenente Coronel da guarda Nacional
É o título que por direito usou
Presidente Floriano Peixoto
Foi quem o homenageou
Outorgando-lhe a honraria
Que pessoalmente assinou
marineusantana@hotmail.com
Obs:
1. Este trabalho é uma homenagem de Maria Santana Basílio (nome de solteira) ao meu bisavô Coronel Basílio Gomes da Silva, por quem tenho muita admiração e orgulho por ter sido este homem justo, honesto e cheio de amor por esta terra que como sua adotou..
2.Neste Cordel dou continuidade à história de Brejo Santo-Ce narrada no Cordel"Brejo Santo- Dos Cariris aos Santos" já postado neste site.
Marineusa Santana Basílio
José Francisco da Silva
Quando aqui chegou
No fértil sítio Brejo
Arruamento não achou
Uma casa-curral e uma vivenda
Foi só o que encontrou
Nas terras do sítio Brejo
Ele se acomodou
Com a esposa e seus filhos
Ali se instalou
A partir daquele dia
A esta terra amou
Entre os seus filhos
O caçula aqui chegou
Com apenas doze anos
E a este chão adotou
Como sua terra querida
E por ela sempre lutou
Basílio era um menino
Mas um sonho alimentou
Lutarei por esta gleba
Foi assim que ele pensou
E ao longo de sua vida
A ela se dedicou
Pra se juntar à família
Em seguida aqui chegou
Um grupo de parentes
Que aqui se radicou
E uma grande e laboriosa
Comunidade se formou
Inácio Gonçalves Bezerra
Aqui desembarcou
Com seus filhos adultos
Que o acompanhou
E junto à parentela
O povoado aumentou
Alguns anos depois
Também aqui aportou
Um grupo paraibano
E ao núcleo se juntou
Dando impulso ao povoado
E o contingente dobrou
A família Sá Batinga
Do Cabrobó chegou
A Pereira de Lucena
De Sousa pra cá se mudou
Também a Alves de Moura
A Paraíba deixou
O grupo aguabelense
Com este se consorciou
Através de matrimônios
E de repente se tornou
Um bloco parental
Um só povo formou
O povo de águas Belas
Neste chão realizou
Um excelente trabalho
E o cenário mudou
Com a nova mentalidade
Tudo aqui modificou
Com a fração dos latifúndios
Aqui se implantou
Agricultura e pecuária
E o comércio deslanchou
E o centro populacional
Aos poucos se organizou
Porém a cólera
Aqui desembarcou
E boa parte da população
Ferozmente dizimou
Esta maldita doença
Muita gente matou
Vencida a desgraça
Algum tempo se passou
O povoado se restabeleceu
E a população aumentou
E Basílio Gomes da Silva
Com um templo sonhou
Com a jovem Conceição
Basílio Gomes se casou
Em genro de mestre Antonio
Ele se transformou
De Francisco Pereira Lima
Parente afim se tornou
Com ajuda de um amigo
Um lote arranjou
E auxiliado pelo povo
Tudo bem planejou
E ao padre de Jardim
Ajuda requisitou
Francisco Alves de Moura
O patrimônio doou
E o Padre Joaquim Barreto
Em tudo colaborou
E à luta do nosso povo
Com amor apadrinhou
O padre Ibiapina
Nesta terra pisou
Quando os limites do templo
Mediu e demarcou
Disse: aqui será matriz
Assim ele profetizou
Na hora da medição
Ao missionário perguntou
Quem será o padroeiro?
E Basílio escutou
A escolha será sua
Em que Santo pensou?
Sem perder tempo
Basílio declarou
Tomado pela emoção
Que a voz lhe embargou:
Sagrado Coração de Jesus!
Foi assim que ele falou
Por ser um homem de fé
Um movimento encabeçou
E a construção da capela
Junto ao povo iniciou
E com muita sabedoria
O trabalho liderou
Ao redor do templo
Será rua, ele pensou
E em aforamento
Os lotes colocou
E a renda na capela
Com o povo aplicou
Com a construção das casas
Um arruamento se formou
Em derredor da capela
O povoado se edificou
Seguindo o alinhamento
Que Basílio arquitetou
Muito cedo por política
Basílio se interessou
E ao partido Conservador
Ele se filiou
E na cidade de Jardim
O Brejo representou
Na criação da Freguesia
Basílio logo pensou
E um abaixo assinado
Ao bispo encaminhou
Que de Milagres e Jardim
Ao criá-la separou
Pela criação do Distrito
Basílio batalhou
E em setenta e seis
Uma lei provincial o criou
A vinte e cinco de julho
O Governo a assinou
Mil setecentos e oito
É a lei que criou
Freguesia e Distrito
E nossa terra valorizou
E o povo de Brejo
Muito feliz ficou
O primeiro sacerdote
Só no outro ano chegou
A dois de setembro
E a freguesia encontrou
Numa situação difícil
Conforme ele afirmou
O rastro dos cangaceiros
No povoado ficou
E também o da seca
Que a todos afetou
O sinal da desgraça
Em tudo se notou
O venerável Padre Abath
Em ata registrou
No livro de tombo
Como a terra aqui achou
E o êxodo dos moradores
Que o lugar abandonou
O grupo de João Calangro
Com o dos Quirinos travou
Na feira do Brejo dos Santos
Um tiroteio e matou
O aguabelense Inacinho
E à sua família afrontou
O tiro acidental
Ao cidadão acertou
E a sua família
Em perseguição debandou
Matou alguns cangaceiros
E o grupo dispersou
Peste, seca e banditismo
Muito maltratou
O distrito do Brejo
Mas o quatriênio passou
E o povo forte e corajoso
Seu ritmo retomou
O trabalho do povo
Logo superou
A desgraça vivida
E o crescimento retomou
As fazendas se desenvolveram
E o casario aumentou
Em visita pastoral
A esta gleba chegou
D.Joaquim José Vieira
E na casa que o alojou
Havia ainda a marca
Do cangaço que a usou
O padre Belarmino
Que o secretariou
Elogiou a Freguesia
Mas também notificou:
De onde partiram balas
Partiram bênçãos, anotou
O povo do Brejo dos Santos
Um só bloco formou
O partido Conservador
Que de Caranguejo o chamou
E Basílio Gomes da Silva
Por todo o tempo o liderou
Porteiras passou a Vila
E Brejo se tornou
Distrito daquele lugar
A quem já liderou
Porém foi pouco tempo
Pois logo se libertou
O Distrito de Brejo dos Santos
Por algum tempo ficou
Dependendo de Porteiras
Que a Vila passou
Com a proclamação da República
Este se emancipou
Sendo monarquista
Basílio Gomes transitou
Para o regime republicano
Que o País proclamou
E a categoria de vila
Pra sua terra solicitou
O Decreto Estadual
Que o governo assinou
Aos vinte e seis de agosto
Ao Brejo emancipou
Da situação de Distrito
E de Porteiras o separou
A queda da monarquia
Em nada alterou
Como líder da vila
Basílio continuou
Os membros da Intendência
Ele mesmo os indicou
O partido republicano
Basílio em Brejo fundou
Até mil novecentos e doze
Ele aqui o liderou
De partido “Aciolino”
O povo todo o chamou
Os membros do Conselho
Basílio os indicou
E o governo do estado
A todos os nomeou
A nenhum deles
O nome rejeitou
Como primeiro intendente
Basílio Gomes nomeou
Seu irmão Lourenço
Que o povoado governou
Com amor e com justiça
Ele o bem público zelou
A cinco de novembro
A Vila se instalou
Mil oitocentos e noventa
Para a história entrou
E ao Coronel Ferraz
O povo grato ficou
Desde noventa e três
Basílio Gomes governou
O destino desta terra
Que ele tanto amou
E até mil novecentos e nove
À sua frente ficou
O primeiro professor
Que aqui chegou
Mino Israel Samuel Krebs
Manoel Inácio chamou
Da cidade do Jati
Que a seus filhos desasnou
Pedro da Costa Nogueira
De Milagres aqui chegou
E José de Sousa Camilo
Sua escola aqui instalou
Na casa do Basílio Gomes
Ele a seus filhos ensinou
Valeriano Soares da Mota
Também aqui lecionou
Na casa onde foi a Colins
Sua escola funcionou
E Joaquim Ferraz dos Santos
Na rua Velha ensinou
O primeiro professor público
Que no Brejo pisou
Foi Genuíno Lima Roldão
Que antes lecionou
Nas terras de Porteiras
Onde algum tempo morou
Balbina Viana Arrais
Em Brejo dos Santos chegou
Em noventa e oito
E na vila lecionou
Até mil novecentos e dezenove
Quando enfim se aposentou
O povoado do Brejo
Uma botica ganhou
Lídio Dias Pedroso
No casarão a instalou
E muitos medicamentos
Ali ele manipulou
Na rua da Taboqueira
Dona Balbina iniciou
Os trabalhos educacionais
E depois se mudou
Para a rua da matriz
Aonde sempre morou
O primeiro código de posturas
Basílio Gomes promulgou
Ao terminar o século
Do milênio que findou
Com novas perspectivas
O novo milênio entrou
A cadeia pública
Basílio levantou
O quartel da polícia
Também ele edificou
E o paço municipal
A estes acrescentou
Prefeitura e câmara
Basílio mobiliou
Ao lado comércio
Que da rua Velha mudou
Na rua da matriz
Estas ele instalou
Ao Pe. Francisco Abath
O povo do Brejo amou
E sob o teto da Igreja
Seu corpo sepultou
Quando ele desta vida
Para a eterna passou
Em mil novecentos e três
O padre Abath nos deixou
E o padre João Casimiro Viana
Da paróquia se apossou
E com idéias novas
A mesma revolucionou
Aos vinte e nove de março
O Padre Viana iniciou
Sua missão nesta terra
E logo incentivou
O plantio do algodão
E o povo aceitou
Com o cultivo do algodão
O município instalou
Uma máquina de beneficiamento
Que Manoel Inácio comprou
E trazida de Aracati
De carro de boi chegou
A Conferência de São Vicente
O vigário logo fundou
E a Associação do Coração de Jesus
Ele também criou
Cemitério e capela
Ampliou e reedificou
A Igreja Matriz
O vigário reedificou
Escola noturna pros pobres
Ele logo fundou
E dos jovens da Vila
Professor se tornou
A capela da Esperança
Ele edificou
A da Cachoeirinha
Ele a reedificou
E a sua residência
Ao lado da Matriz levantou
Pra Imaculada Conceição
Um patrimônio formou
E a capela de Porteiras
Inteira ornamentou
E a Conferência de São Vicente
Em Porteiras fundou
Para atender a demanda
O povo necessitou
De professor particular
E a João Inocêncio contratou
O Padre Antonio Gomes
Com ele estudou
Em colunas sociais
Brejo dos Santos figurou
Uma festa nupcial
O “Rebate” noticiou
Manoel Inácio Bezerra
Carmina e Luzia casou
Em noventa e três
A vila muito aumentou
Coletoria, Delegacia e Correio
Tudo já funcionou
O povo da pequena vila
Novos serviços ganhou
O regime de deposição pelas armas
Que Missão Velha inaugurou
Em todo o Cariri
De repente se alastrou
Porém a Brejo dos Santos
Este não contagiou
A Vila de Brejo dos Santos
Imune se conservou
Do fanatismo religioso
E da violência que reinou
No Juazeiro e demais municípios
Pois Basílio a orientou
Manoel Inácio de Lucena
O desejo demonstrou
De a vila governar
E Basílio o apoiou
Cedeu-lhe a intendência
E ao seu lado ficou
A formação espiritual e moral
Da qual Basílio gozou
No destino político e social
Do município influenciou
Pela paz desta terra
O patriarca sempre zelou
Em mil novecentos e onze
O cenário do Brejo mudou
No dia vinte de abril
Todo o seu povo chorou
Pelo bom padre Viana
Que faleceu, nos deixou
O povo de Brejo dos santos
Na Matriz o sepultou
E no mês de junho
O “Rebate” noticiou
O necrológio do Pe. Viana
Que um amigo publicou
Para substituí-lo
A Diocese indicou
O Pe. Leopoldo Fernandes
Que da Paróquia se apossou
No dia nove de julho
Do ano que se citou
Em mil novecentos e onze
Brejo dos Santos participou
Do pacto de harmonia política
Que Juazeiro realizou
Sob os auspícios do Pe. Cícero
Que a todos abraçou
Em mil novecentos e doze
Barbalha sediou
A reunião dos chefes políticos
Que Moreira de Sousa liderou
E todos os presentes
A Franco Rabelo apoiou
O coronel Basílio
De prestígio desfrutou
Junto aos chefes políticos
Do Cariri, que o indicou
Pra pacificar choques armados
Que entre eles estorou
Com sua autoridade moral
A muitos desarmou
Sem usar armas de fogo
Muitas lutas travou
Apenas com o Bom senso
Muitos ânimos acalmou
Em mil novecentos e treze
Da rebelião não participou
Com o compadre Padre Cícero
Não se solidarizou
Apesar desta atitude
A amizade continuou
O padre Cícero Romão
Com Basílio se comunicou
Instalado o governo intervencional
Os nomes das autoridades solicitou
Seu Filho Joaquim Basílio
Pra prefeito, Basílio indicou
Joaquim Gomes Basílio
Como o pai sempre usou
De bom senso e perspicácia
E a paz continuou
Foi prefeito, e como jornalista
No “Cetama” figurou
O Senhor Tiburtino Inácio
A banda de música fundou
E muitos talentos
Logo se notou
O gramofone de Manoel Leite
Em muito ajudou
A banda cabaçal
Que ao povo animou
Com Felix da Goianinha
Que a regenciou
Teve seu brilho ofuscado
Pois a outra a superou
A Agência Telegráfica
Em Brejo se instalou
Para alegrar os jovens
A Cavalhada chegou
Também o Tiro de guerra
Na vila se inaugurou
O popular Quinzô Basílio
Na sua terra fundou
O colégio São José
Que depois se fechou
No ano de vinte e cinco
Pedro Basílio o reinaugurou
No colégio São José
Com ele lecionou
Nicolau Viana Arrais
Que mestre se tornou
E o padre João Alboíno
Também colaborou
Um fato curioso
Que se registrou
Foi a criação dos jornais
Que ao povo agradou
Uma vez por semana
A edição circulou
José Moreira Tavares
“O Besouro” publicou
E Pedro Gomes Basílio
A “Flor” editou
Ambos escritos à mão
Mas o povo aprovou
A Farmácia Osvaldo Cruz
João Anselmo fundou
Além da sua finalidade
Outra ele tomou
Pois em centro social
A mesma se transformou
Não havendo médico
Seu Lino encanou
Ossos de braço e perna
E até dente arrancou
O vaqueiro do coronel
Fazia vez de doutor
De mil novecentos e quatorze
Ao vinte e sete indicou
Quatro prefeitos para a Vila
E estes que nomeou
Eram, parentes e afins
E a todos orientou
Nicolau Viana Arrais
No Brejo fundou
O grupo de escoteiros
E a juventude vibrou
O ano de vinte e cinco
Na história do Brejo ficou
Aos oitenta e um anos
Coronel Basílio abandonou
A atividade política
E à vida privada voltou
Após meio século
Da vida pública que levou
Treze anos viveu
Depois que se afastou
No casarão da Taboqueira
Sua voz silenciou
Em mil novecentos e quarenta
Pra sempre nos deixou
A sua triste morte
A todos abalou
No cemitério João Batista
Sua família o sepultou
Seu nome e seus feitos
A história imortalizou
A ele sua descendência
Por vezes o homenageou
E hoje com este cordel
Eu aqui também estou
Prestando o meu tributo
Como bisneta que sou
Às diversas homenagens
Que o povo lhe prestou
Na sua terra querida
Também se somou
A rua Pacificador Cel Basílio
Com que Fortaleza o honrou
Foi o índio Cariri
Quem primeiro aqui morou
Porém não sabemos ao certo
Quem foi que o expulsou
Sabemos quem com amor
Por sua terra a adotou
Um diz foi o Civilizador
Que no seu futuro pensou
Outro diz foi o Pacificador
Que a conduziu com amor
Todos dizem o Coronel Basílio
Seu fundador se tornou
Tenente Coronel da guarda Nacional
É o título que por direito usou
Presidente Floriano Peixoto
Foi quem o homenageou
Outorgando-lhe a honraria
Que pessoalmente assinou
marineusantana@hotmail.com
Obs:
1. Este trabalho é uma homenagem de Maria Santana Basílio (nome de solteira) ao meu bisavô Coronel Basílio Gomes da Silva, por quem tenho muita admiração e orgulho por ter sido este homem justo, honesto e cheio de amor por esta terra que como sua adotou..
2.Neste Cordel dou continuidade à história de Brejo Santo-Ce narrada no Cordel"Brejo Santo- Dos Cariris aos Santos" já postado neste site.
Marineusa Santana Basílio