LOAS PRA LUIZ GONZAGA
Foi como bomba a notícia
do Recife, por Telex.
Curta, seca, bem sintética,
notícia muito aziaga:
“Faleceu Luiz Gonzaga”.
Ah, que comoção patética!
– Faleceu Luiz Gonzaga.
Deu no rádio, cedo, o fato.
Fechou-se o tempo, num pranto.
Após longa enfermidade,
Luiz nos deixa saudade,
e ao sertão, que exaltou tanto.
Ao se espalhar pelos ares
esse episódio funesto,
notório foi seu alcance.
Quis um repórter dizê-lo,
saiu-lhe a voz como o gelo,
feito um final de romance.
E, ensolarado, o Nordeste
ficou tristonho e cinzento,
pegando o Sol, o escondeu;
e mergulhou no desgosto,
lá num certo dois de agosto*,
vez que o menestrel morreu.
Houve, pois, consternação
e comentários, nos céus
baiões de sabor agreste...
Nossa cultura mais pobre,
mas todo o mundo descobre
no “Lua” a voz do Nordeste.
Morto o homem, todavia,
e ao pó volvendo a matéria,
Gonzagão jamais se finda,
que a arte é Luiz Gonzaga,
símbolo que não se apaga,
sanfona que vive ainda.
Nuns duzentos elepês,
fixa-se o nosso folclore
com testemunhos de amor
à terra adusta e sofrida
deste torrão, que tem vida
nos versos do seu cantor.
Ao vir à Terra da Luz,
Sua Santidade, o Papa,
ouviu-lhe, com bom humor,
homenagem musicada
e, ao fim, fez com voz pausada:
“– Obrigado, tocador!”
É que João Paulo II
percebeu na singeleza
do canto do “Rei” poesia
e a fé sincera do povo
nos sonhos de um mundo novo,
sem peias de oligarquia.
Embora o plágio constranja,
do Papa tomo o refrão:
– Obrigado, tocador!
É!... Você, cabra da peste,
alegrando este Nordeste,
fez papel de professor.
Fort., 28/05/2010.
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(*) Luiz “Lua” Gonzaga do Nascimento,
também apelidado “Gonzagão”, nascido
em Exu, no agreste pernambucano, tido
como o “rei do baião”. Cantor e compo-
sitor popular, veio ao mundo aos 13 de
dezembro de 1912 e faleceu em 02 de
agosto de 1989. Um ícone da MPB. Pa-
ra ele, esta simples homenagem.