BULA DA SOBRIEDADE

Achando-se em desalinho,

por conta de um namorico,

tome dois copos de vinho

e já se sinta mais rico,

com a boniteza no bico

– e em gravata e colarinho.

Toda vez que um põe bebida

na boca, dá nó num ponto;

valente, de alma enxerida,

mesmo que doidão e tonto,

querendo passar um conto

na mulher da sua vida.

Quem não sabe, pois já veja:

se o vinho faz tanto assim,

então calcule a cerveja,

e, tão pior que ruim,

o que sai do rum ou gim,

quando o álcool nos veleja.

Digo e boto no jornal:

o vício de toda pinga,

que não for água normal,

vai pôr o seu na seringa,

pois que beba na moringa,

sem ter de entrar no canal.

Não me venha com chalaça,

porém quem nos bares flana

e quer beber, por pirraça,

até pesado e sem grana,

é bebum que só se engana

e enche a pança de cachaça.

Para um bebum dou consulta,

de graça, sem cobrar nada;

e, aqui, mais não ponho culpa

nas paixões de um camarada

que toma a sua golada,

pois ter paixão não dá multa.

Mas grito, em bom-tom, à paz:

se estiver em desalinho,

por quaisquer porres banais,

deixe em casa seu carrinho,

para não ver burburinho

nos seus próprios funerais.

Fort., 27/05/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 27/05/2010
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