IARA, A SEREIA DOS RIOS
Diz uma lenda que Iara,
Por sua beleza rara,
Era destaque na ocara, (*)
Uma índia encantadora.
Por isso, recebedora
De elogios variados.
Seus irmãos tinham, irados,
Inveja perturbadora.
Eles fizeram um trato,
Bolando o assassinato
De sua irmã, um retrato
De formosura e magia.
À noite, enquanto dormia,
Tentaram cumprir o plano,
Mas aquilo foi insano.
Muito bem Iara ouvia.
Tendo aguçada audição,
Toda a movimentação
Percebeu e a reação,
Depois de escutar as vozes,
Foi matar os seus algozes.
Após fazê-lo, fugiu.
Pegá-la o pai conseguiu.
Punições eram ferozes!
No encontro de rio famoso,
O Solimões, caudaloso,
Com o Negro grandioso,
A garota foi jogada.
À tona depois levada,
A musa daquela aldeia
Numa formosa sereia
Foi, por peixes, transformada.
É figura estonteante,
Cabelo longo, brilhante.
Melodia cativante
Ela canta, irresistível.
O fascínio indescritível
Pra dentro do rio atrai.
O indivíduo nele cai,
Iara arrebata, incrível.
Eis a história resumida
Da Mãe d'Água conhecida,
Por tantos índios temida
Em razão do seu poder.
Quando chega o entardecer,
Não passam perto de rios
Porque sentem calafrios,
Têm medo de se envolver.
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* Ocara: terreiro de aldeia.