Eu aqui, você ali....
I
Eu agora que cheguei
Pode vir se achegar
Para ouvir esse meu conto
Pois agora eu vou contar
Afinado no seu pranto
Tenha todo seu espanto
Quando eu iniciar.
II
Vou contar pra estrondar
No estalo dessa caixa
Escutando o meu conto
Pra poder o espalhar
O meu conto é contado
Num chiado estalado
Pra poder o espalhar.
III
Vou contando o meu conto
Na palma da minha mão
Na batida do pandeiro
No piar da estação
Porque só contando aqui
Que você saca daqui
Que meu conto é salvação.
IV
Conto em rasgo de boca,
Conto no gesticular
Conto no canto dos olhos
Com as mãos eu vou contar
Se estar sem paciência
Tenha toda a decência
De passar, e deixe estar
V
Conto do meu jeito, vice
Conto com meu matutar
Pra que você do seu jeito
Possa pros outros contar
Vou contar de boca aberta
Na medida, a mais certa
Boca aberta vai ficar.
VI
Queira arrumar um canto
Pro corpo se acomodar
Não ficar a tanger mosca
Nem as pernas se quebrar
É preciso ter assento
Pra acompanhar o movimento
E nada deixar passar
VII
Eu aqui, você daí
Eu de cá, você de lá
Conto aqui, eu conto ali
conto aqui e acolá
E a gente só querendo
E a gente esperando
Esse conto começar...
VIII
Eu vou contar o meu conto
De história singular
Aquela que arde chão
Faz a sombra respirar
Vou contar com voz de dentro
Aquela que vem do centro
De amante do luar
VIX
O romance do Dom Livro
E a Baronesa Leitura
De como se deu o encontro
Da personagem figura
Com o seu louco amor
O educado senhor
O seu medo e usura.
X
Mais esperada da vida.
O conto por enquanto
Está na sua imaginação
Num outro momento, prometo
Venho o meu conto contar
Eu aqui, você daí
Eu de cá, você de lá...
E quando eu contar meu conto
Quero ver você recontar
Esse conto que se faz vida
No seu recontar, no seu recontar.