PASSEIO SOCRÁTICO NO SUPERMERCADO
O vazio me dizia
Que hoje era o dia
Da dispensa completar
E ao mercado passear
Peguei o indesejável das contas
O cartão que me dá o que não tenho
Pra comprar o que não preciso
E depois me arrepender disso
Cheguei e a moça bem vestida
Do uniforme da firma
Gentilmente me informou
Onde pegar o carrinho pras compras eu por
Passava pelos cereais
Tão bonitos estavam
E muitos até convidavam
Pra levá-los de mais
Porém como pouco
Um pacote dará
Para o mês se passar
E a fome matar
Latinhas, potes e vidrinhos.
Tudo tão bonitinho pra me agradar
Empilhados um a um
Que não resisto em levar
As bebidas queridas
Todas a me olhar
Leva eu, por favor,
É um grito de amor
Que parecem soltar
Os danones com nomes
Dos mais variados
Muitas cores e gravuras
Neles tão estampados
Toma eu, pois sou é que dou resultado
No açougue quero carne
Mas me basta meio quilo
De uma pra bife
E outra pra cozido
Mas o moço de branco
Se sabendo ou querendo
Que eu leve a mais
Pesa mais um pouquinho
Pode ser meu rapaz?
Na área da limpeza
Tem sempre uma novidade
Pra limpar algo novo
Com economia e brevidade
Xampu sem sal
Creme pro cabelo
Sabonete que protege
Quase o dia inteiro
Na seção de tudo um pouco
As cartelas que apelam
Em levá-las também
Acho sempre alguma
Que preciso ou que sismo
Em todas as seções
Tem sempre a amarelinha
Etiqueta bordada
A nos querer tirar farinha
E como se não bastasse
Tem na hora da pagança
Um monte de traficância
A piscar pra eu levar
Bombom, bala e pipoca.
Prestobarba e revista de fofoca
Kinderovo e camisinha
E muitas outras coisinhas
E a hora que moça me assusta
Com o valor da compra bruta
E eu sem grana no bolso
Aponto o cartão do desgosto
Queria eu que fosse um passeio socrático
Onde ando vejo e não levo nada
Simplesmente perceber quanta coisa existe
Que não preciso pra felicidade
Mas me perdoe o filosofo Grego
Que pra coisas de dispensa
Não posso ter avareza
Pois preciso do que por a mesa
Contudo é necessário
Não dar uma de otário
Caindo nas armadilhas
Do marketing e do mercado