O Falar da minha Fala

A minha escrita incorreta

sem muito palavreado

desconheço certas regras

que fazem um texto adequado

na minha forma de falar

traço meu versejar falando minhas verdades.

De uma matuta da terra

que não pensa o que escrever

sai verços meio sem jeito

que nem sei se o povo lê

E apenas meu pensar,

o sentir e o falar de quem não sabe escrever.

Dizer que é sem importancia

não é coisa de se dizer

pois o sentimento alheio

Só quem sente sabe entender.

Se é pra passar pro papel

tudo que se pensar.

Sai cada coisa danada

não me venha reclamar.

Prus mode que meus partuguês é errado?

Eu posso lhe explicar

eu me criei no roçado, onde a escola é o chão

e o sertão é o professor

a enchada é quem me encinou

o jeito de se falar.

Se tiver rima me intereço

se não tiver eu nem me avecho

faço o qu diz meu sertão

cheio de calo na mão

mas na boca o prosear.

Sou uma matuta da terra

não teno medo de dizer

minhas mãos são calejadas

se eu mostrar tu não quer vê

Sou Pernambucana retada

de faca e punhal na mão

não de aveche não tenha medo

não faço mal nenhum não

é pru mode chupar cana

que é mais doce que melão.

Aqui nesse meu cordel

sem muita embroação

o que falei já tá falado

escrito com a minha mão

do meu português tão errado

sai verços emprovisados

que fala do meu sertão.

Tenho orgulho do meu povo

mesmo que falte o feijão

mas no tempo de abundancia

senta ao redor da fogueira

e nos seus versos singelos

de palavras tão certeiras

as crianças adormecem

e as comadres na besteira

dão gaitadas compridas

que caem ao pé da fogueira.

E nessa alegria festeira

o dia vem amanhecer

nós agradecemos a Deus

Por têr o que comer

pelos pastos esverdeados

e pelos frutos que colher.

Leide Silva
Enviado por Leide Silva em 03/05/2010
Reeditado em 26/05/2010
Código do texto: T2235124
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