PEDRO OPERADOR DE PRENSA

Pedro operador de prensa

imprensando o pensamento.

São oito horas por dia;

haja sol, chuva ou vento;

frente à prensa ele não pensa,

usa apenas força intensa;

pois nunca quis estudar,

nunca teve paciência

pra diabo de ciência

e cedo foi trabalhar!

Pedro operador de prensa

é juntado com Maria,

sobrinha de quinto grau

da prima de sua tia.

É Maria Antonieta,

mas Pedro a chama de preta

e a preta o chama de amor,

coisa de quem muito ama:

na rede, no chão, na cama

só dá Pedro Operador!

E amanhã é feriado,

a fábrica fechará.

Pedro larga e vai pra casa,

mas antes para num bar...

Cansado e coçando os calos

toma cabeças-de-galos,

amendoim, catuaba

e imaginando a noite

pensa: vou dá-lhe um acoite

que hoje a Preta se acaba!

Pedro chega em casa afoito,

Preta sentada no chão

com um balde no seu colo:

tá debulhando feijão!

Cansada de lavar roupa,

tá só esperando a sopa

ferver e chegar no ponto;

já o Pedro impaciente,

com seu instinto fervente,

já tá pra mais do que pronto!

A sopa tava Insossa,

Preta é triste de panela,

mas Pedro nem fala nada,

pois gosta é das pernas dela.

E terminado o jantar:

olha a louça pra lavar...

Lá vai Preta pra cozinha!

Na sala a TV no jogo:

tá Pedro cheio de fogo

tomando uma cervejinha!

A Preta surge na sala,

já livre dos afazeres,

pronta pra o Operador

lhe operar vários prazeres;

Pedro a levanta no braço,

dá-lhe um primeiro regaço

e se dana para o quarto,

onde a cama já surrada

amanhecerá suada

e quase tendo um enfarto!

Pedro Operador e Preta

podem ser ignorantes,

porém são dois literatos

nos critérios de amantes;

não almejam muito ter,

muito ser ou parecer;

só querem levar a vida

e, nessa simplicidade,

vivem na felicidade

ou em coisa parecida!

Grande Pedro operador

que o que carece em vintém

sobra de muito no amor

que o seu coração retém,

Pedro operador de prensa:

se pouco fala, e não pensa,

compensa na atitude;

não quer ter riqueza ou casta,

só a sua Preta basta

pra viver na plenitude!

Pedro operador de prensa,

mínimo assalariado;

pouco fala, nunca pensa;

é semi-alfabetizado;

não tem carro, não tem casa,

seu salário sempre atrasa,

seu nome sujo na praça,

mas se a Preta não reclama,

se a Preta inda lhe ama,

tudo tem sentido e graça!

Timbaúba, 02/05/2010.