SEREIA DA LUA CHEIA

Naquela praia deserta,
sob a luz da lua cheia,
sentei-me despreocupado,
fiz um castelo de areia;
depois, olhando pro mar,
surpreso, eu vi nadar
uma bonita sereia.

Foi aí que ocorreu
um lance de muita sorte,
pois foi ela arremessada
por uma onda bem forte,
vindo cair ao meu lado,
deixando-me atordoado,
perdendo o meu suporte.

De perto foi que eu vi
o quanto ela era bela,
tinha cabelos compridos
e uma face singela;
do susto recuperei
e coragem eu criei
para conversar com ela.

Tremendo a voz, perguntei:
“Diga-me quem é você?”
Ela respirou um pouco
antes de me responder:
“Sou uma simples sereia
que luta nesta aldeia
pra poder sobreviver."

Olhando para seus lábios
eu vi uma cicatriz,
tinha mais de um centímetro,
em formato de um xis,
pegando um grande setor
do lábio superior,
chegando quase ao nariz.

Só para satisfazer
minha curiosidade,
ela apontando disse:
“Veja que barbaridade,
pois isso aqui foi causado
por humano desalmado
que habita a cidade”.

“Pensando que eu fosse um peixe
esse homem traiçoeira
jogou firme o seu anzol
num arremesso certeiro;
pra satisfazer seu gosto
ele atingiu meu rosto
cortando o lábio inteiro”.

Prosseguindo ainda disse:
“O homem tem que mudar,
pois nem sempre ele pesca
pra sua fome matar;
mas por pura diversão,
causando a extinção
de muitas espécies do mar”.

Aquelas firmes palavras
causaram forte emoção,
enquanto ela docilmente
me olhava com atenção;
e com suas mãos macias
e extremamentes frias
segurou a minha mão.

Uma estranha sensação
apoderou-se de mim,
mas ela com a voz meiga,
baixinho me disse assim:
“Não fique aí a pensar,
me ajude a voltar pro mar,
pois aqui é muito ruim.”

Nos braços a coloquei,
no mar ligeiro entrei,
quando chegou mais no fundo,
um beijo no rosto dei;
ela para mim sorriu,
o beijo retribuiu
e lentamente a soltei.

Depois, voltando pra areia,
fiquei contemplando o mar,
quando distante ouvi
uma voz linda a cantar;
entrei no mar novamente,
nadando bem firmemente
e fui com ela encontrar.

Ela veio ao meu encontro,
quando eu estava cansando,
me abraçou com ternura
e logo foi me beijando;
e o meu corpo, coitado,
somente foi encontrado
no mar, dez dias, boiando.