Sai difunto ô sai doto> Mote matuto em décimas de sete pés, vinte e oito estrofes.Autores: Compadre Lemos & Damião Metamorfose.
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Compadre Lemos
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Meu Compadre Damião,
Me desculpe a ousadia.
Pra isquentá a Cantoria,
Eu faço presentação!
E convido ocê, então,
Pra mostrá o seu valô,
Pra dizê se é cantadô
Que não foge do perigo...
Apois, quem canta comigo
Sai difunto ô sai Dotô!...
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Damião Metamorfose
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Eu isperei pá nascê,
Safra de cinco minino.
Nasci sambudo e franzino,
E ademorei pá crescê.
Me adescurpe se vancê,
Eu quis dizê o sinhô.
Perdeu da vida o amô,
Ou o medo do jazigo.
Apois, quem canta comigo
Sai difunto ô sai Dotô!...
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C,L
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Jazigo é cama quentinha,
Num bota medo em ninguém!
Seje aqui, seje no Além,
A hora minha é só minha!
Pois peça bênça à Madinha,
Dispede de seus amô,
Arrume um buquê de frô,
E diga: agora é que eu sigo!
Apois, quem canta comigo
Sai difunto ô sai Dotô!...
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D,M
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Frô é coisa de minina,
Eu sô nordestino e macho.
Cheio de fogo no facho,
Não uso nem briantina.
Sô chiclete, sô resina,
No pé di um cantado.
Ardido ingual um cocô,
Pió qui calo di figo.
Apois, quem canta comigo
Sai difunto ô sai Dotô!...
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C,L
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Sua frô num dá semente,
O seu macho é machu... cado,
O seu facho é apagado,
Seu cabelo é anti-pente!
Seu chicrete dói os dente,
Sua rizina cecô,
Seu fiofó já trancô,
Já seu calo... é vitiligo!
Apois, quem canta comigo
Sai difunto ô sai dotô!...
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D,M
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Cumpadi num quero afago,
Sô fera qui maticomi.
Num tenho medo di homi,
Nem di bicho qui tem bago.
Adispoi qui tumo um trago,
Açulero o meu motô.
Cante tudim pufavô,
Qui num mi assusto, nem ligo.
Apois, quem canta comigo
Sai difunto ô sai dotô!...
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C,L
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No dia queu afagá
Um macho, a casa cai.
Só se o macho fô meu pai,
Móde o afago ganhá!
Mai, nun seno, sai pra lá!
Pru que macho eu tomém sô.
Meu nome num é "Dasdô",
Esse camin eu nun sigo...
Apois, quem canta cumigo,
Sai difunto ô sai Dotô!
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D,M
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Num desdém do meu cantá,
Só pruque sô caipira.
Nem mangue da minha lira,
Com o vosso bla bla blá.
Se eu num pudi mim foimá,
E vancê muito istudô.
Mai fique sabendo sô!
Qui adonde fô eu ti sigo
Apois, quem canta cumigo,
Sai difunto ô sai Dotô!
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C,L
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Quem disdenha qué comprá,
Deusulivre fazê isso!
Devoto do Padin Ciço,
Em ninguém eu vô pisá!
Mai... quem min disafiá
Vai topá bão cantadô,
E, se num tivé valô,
Vai tomá no pé do umbigo...
Apois, quem canta cumigo,
Sai difunto, ou sai dotô!
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D,M
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Nasci lá no mei du mato,
Ali mermo mim criei.
Na iscola eu num pisei,
Sou um cabôco pacato.
Nunca tirei meu retrato,
Pois o dinheiro fartô.
Se o meu talento jorrô
Atente pro que te digo.
Apois, quem canta cumigo,
Sai difunto, ou sai dotô!
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C,L
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Quem nasce no mato é bicho,
Eu nasci foi lá in casa!
Sardinha pra minha brasa,
Nunca percurei no lixo!
Mai eu sô um carrapicho,
Quano pego um cantadô
Qui pensa qui é sinhô
Do chicote e do castigo...
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ô sai dotô!
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D,M
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Vou te butá uma sela,
dispois vô descê o rei.
Quero te torá no mei,
Açoitá cum a fivela.
Ô tu guenta a banguela,
Mostra qui é corredô.
Num adianta chororô,
Qui aqui num vai tê abrigo.
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ô sai dotô!
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C,L
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A sela, dá pro teu pai,
O "rei" cê dá pra rainha,
Cê qué torá? Tora a minha
Fivela, qui a carça cai!
Banguela vai sê quem vai
Correno atrái do sinhô!
Teu chôro já pipocô,
Disabrigado e antigo...
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ou sai dotô!
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D,M
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Eu já sei o quanto custa,
Enfrentar um repentista.
Seja aprendiz de artista
Ou di carreira ribusta.
Mai num fico im saia justa,
Cum todo esse seu frozô.
Foi vancê qui mim chamô,
Antonce iscute o qui digo.
Apois, quem canta comigo
Sai difunto ô sai Dotô!...
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C,L
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Custa munto é tê talento,
Mai talento ninguém vende!
Compade, vê se me entende:
Cantadô num é fermento.
Num cresce assim, de momento,
Derrepente, já formô!
Puéta que num istudô
De si mesmo é inimigo...
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ô sai dotô!
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D,M
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Ramimendar os bigodi
E butá rima pá fora.
Dessa veiz nem caipora,
Nem o capeta te acodi.
Chame um orixá e rodi,
Qui hoje tô cum istopô.
O meu rolo compresso,
Vai ti muê feito trigo.
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ô sai dotô!
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C,L
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Seu rôlo tá na cabeça
Duma nêga pixain!
Já oviu falá de rolin?
Da lição ocê num isquêça!
Dumingo, sigunda ô têça,
Quarqué dia dêsse eu vô
Adonde ocê se interrô,
Butá vela em seu jazigo...
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ô sai dotô!...
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D,M
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Cumpadi si num mintende,
Assunte pá esse assunto.
Mermo morto eu chego junto,
Sô cabra qui num se rende.
Dessa vei vancê aprende,
A arrespeitá meu shô.
Vai vê qui adonde eu vô
Cantadô corre do abrigo.
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ô sai dotô!...
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C,L
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Pois ocê, vivo, eu infrento,
Sem medo de lhe matá.
Mêrmo morto, vamo lá,
Qui a vida tem seus momento!
Morto-vivo, eu oriento:
É qui zumbi já virô!
Sua fama já acabô,
Vivo ô morto, lhe pressigo...
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto ô sai dotô!
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D,M
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Fui um muleque traquino,
Quase num fui à iscola.
Tumem nunca joguei bola,
Cantá era o meu distino.
Nunca quis sê assassino,
Mai vancê mi provocô.
Minha cabeça pirô,
Agora guente o castigo.
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto ô sai dotô!
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C,L
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Se a rima tá rariano,
É qui o puéta num caça.
Diz qui a rima tá iscassa,
Vai logo se acomodano!
Eu vô rimá mais um ano,
Móde insiná quem falô
Qui as rima já se acabô,
Chorano, feito um mendigo...
Apois, quem canta cumigo,
Sai difunto ô sai dotô!!!
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D,M
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Num vá cantano vitora,
Pensano qui mincabula.
Eu já li a sua bula,
Cunheço a sua histora.
Já fui a Juiz de fora,
E um de dento mim contô.
Qui o sinhô si cunfessô.
Quando fui cantá cuntigo.
Apois, quem canta cumigo,
Sai difunto ô sai dotô!!!
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C,L
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Ocê, in Juiz de Fora???
Só se fô na carcerage!
Tu tem é munta corage:
Conta mintira e nun cora!...
Intonce, vamo simbora,
Qui o tempo já se isgotô.
Cum meu velso, tu medrô,
Mais teu medo eu num bendigo!
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ô sai dotô!...
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D,M
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Pá catá cum voi micê,
Eu num faço nem insaio.
O sinhô tem velso faio,
Fraquim e dexa a devê.
Faz todo esse fuzuê,
Mai é só um perdedô.
Se arguma vei tu ganhô,
Me alembre, queu num cunsigo.
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto, ô sai dotô!...
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C,L
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Foi naquela ocasião,
Na casa de Zé Limêra:
Nóis dois dento da fuguêra,
Duas viola na mão!
O cê disse um palavrão,
Qui meu velso arrespostô:
Esse trem qui ocê falô,
Num ingulo e nem mastigo...
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto ô sai dotô!...
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D,M
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Vancê já istá cansado,
Cai aqui, cai acolá.
Num guenta mai cantá,
Cum pueta dotro istado.
Eu inda nem tô suado,
Poi pá mim nem cumeçô.
Dromi um poço meu vovô,
Qui eu suzinho prossigo.
Apois, quem canta cumigo
Sai difunto ô sai dotô!...
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C,L
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Se perdeu quem prussiguiu
Sem isperá os cumpanhêro.
Perdeu camin e carrêro,
E na caatinga sumiu.
Numca mais ninguém oviu
Um comentáro qui fô.
Todo mundo se calô,
Dos canáro aos papafigo...
Apois, quem canta cumigo,
Sai difunto ô sai dotô!
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D,M
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Pá ficá tud´impatado,
Si o sinhô cantô premêro.
Vô cantá o derradêro,
Pruquê fui isculhambado.
Qund´eu istô imbalado,
Num sei o qé sintir dô.
Si o caba fô corredô,
Pode corrê q´eu presigo.
Apois, quem canta cumigo,
*
FIM