DESCE DESSE PÉ, MENINO!
Lá do alto daquela goiabeira ele enxergava toda a extensão da rua e, extrapolando estes limites, observava também as vias circunvizinhas.
Lá, onde o menino gostava de ficar, o vento ainda não podia ser flagrado ao deflagrar uma nuvem de formato estranho e nem o portão da fábrica de nuvens podia ser vislumbrado; mas, segurando naqueles galhos que dançavam ao ritmo que a brisa imprimia a copa da árvore, o infante sentia-se como fosse parte do céu.
Chegava, às vezes, a quase soltar aqueles galhos tortos para se abraçar a um passarinho que revoasse por perto.
Mal gostava de goiabas, mas todo dia religiosamente subia naquele pé.
Ah! E como o menino gostava de ficar ali... Às vezes passava a tarde inteira, equilibrista vigoroso, só esperando que o sol se deitasse em sua cama (que ficava pra o lado da rua de baixo) enquanto a lua se acendia no centro do céu.
Porém os mais velhos não o entendiam e assim o censuravam. Quantas vezes sua avó, seus pais ou mesmo um vizinho não o reprimiu. Já o menino, na pureza de sua alma, pensava: “Como deve ser triste ficar velho e esquecer o quanto é bom subir num ‘pé de qualquer coisa’ bem alto pra sentir os ventos da liberdade chacoalharem tudo o quanto há de bom no peito da gente.”
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E deveras é muito triste sim! Cresci e há tempos que não subo num “pé de árvore”. Em algum momento da minha vida eu esqueci de me lembrar do quanto isso era bom.
Fiquei velho e, cada vez mais, meu espelho mostra algo parecido com meus pais...
Sinto saudades da minha molequice. Preciso sair na rua. Preciso subir numa árvore... alguém aí quer caju? Tomara que os galhos me agüentem. Volto já!
“Menino desce daí,
não vê qu’isso é arriscado;
desce pra tu não cair
e ficar todo empenado;
desce ligeiro senão
chamo teus pais e então
você vai ser castigado!”
Assim sua avó dizia
quando ao lhe procurar
trepado em cima de um pé
dava por lhe encontrar:
pé de manga, carambola
cajarana, graviola
pitomba, caju, cajá...
Mas subir num pé de fruta
pr’um coração de menino
é voar na catapulta
e, de Deus, tirar um fino;
é o auge da aventura
alcançar tamanha altura
mesmo sendo pequenino!
Mas sua avó não sabia,
ou talvez não se lembrava,
do torpor e a alegria
que estar lá no encima dava
e por isso reprimia
o menino que subia
e de lá não se arredava!
Enquanto o moleque mouco
no cume daquela copa,
tendo a sensação de ver
até parte da Europa,
voava em seus pensamentos
vendo as nuvens e os ventos
batalhar com suas tropas!
João Pessoa, 10/04/2010.