HISTÓRIAS DO CANGAÇO: CORISCO, O BRAÇO DIREITO DE LAMPIÃO
Lampião, o Virgulino,
Tinha num certo Cristino,
Seu cabra, o braço direito.
De Corisco estou falando,
Importante para o bando
Desse afamado sujeito.
No serviço militar
Não ficou, por desertar,
E tomou a decisão
De ingressar no tal cangaço,
Por isso, em seguinte passo,
Aliou-se ao Capitão.
Uma atlética pessoa,
Tinha uma aparência boa,
Homem forte feito um touro.
Seu cabelo era comprido,
Ganhou logo um apelido:
Chamaram de Diabo Louro.
À sua própria maneira,
Sequestrou a companheira
De treze anos, coitada.
Sérgia Ribeiro, a Dadá,
Achara a ideia má,
Mas depois foi sua amada.
Aquela tenra menina
A ler e escrever ensina
E as armas usar também.
Era combatente rara!
Sete filhos com o cara
A bela garota tem.
De coragem elevada,
Dadá era respeitada
Por tudo que é cangaceiro.
De Corisco a companhia
Até ser chegado o dia
Da morte de seu parceiro.
O bando de Lampião
Sofreu uma divisão
Em vários grupos menores.
Corisco foi comandante
Daquele mais importante,
O melhor entre os melhores.
Seu prestígio era evidente.
Num caso foi influente,
Mais fama ainda ele fez.
Com seu rapaz, Gitirana,
Uma tal Cristina engana
Seu amásio, o Português.
Liderança, então, traída,
Português, alma ferida,
Catingueira contratou.
Já planejava a matança,
Tinha sede de vingança
Contra quem lhe corneou.
Ao chegar no acampamento,
Para atingir seu intento,
Catingueira quis matar.
Gitirana chama ao canto,
Dizendo querer, portanto
Conversa particular.
Por acaso lá estavam,
Tudo aquilo observavam,
Lampião, sua Maria.
Esta diz: "merece a sina
Gitirana, não! Cristina
A morte naquele dia".
O Corisco se meteu:
"Era dela o que ela deu
Com isso ninguém tem nada."
Maria Bonita insiste:
"Português, figura triste,
Será desmoralizada."
Para por fim á querela,
Diz Corisco: "cuide dela
Certamente o seu marido.
Cada qual, a parte faz!
Eu cuido do meu rapaz!
Está estabelecido."
Tal ato foi respaldado.
Deu razão ao comandado
Lampião, o grande fera,
Mas Cristina perde a vida,
Após meses escondida,
Traição não se tolera.
Corisco seguiu lutando,
O seu bando liderando
Pelas brenhas escaldantes.
Ataques em vários pontos,
Muitos tiros e confrontos
Contra civis e volantes.
Um golpe por demais duro
Determinava o futuro
Do cangaço nacional.
Em Angicos emboscados,
Onze mortos, massacrados,
Inclusive o maioral.
Com Maria do seu lado,
Lampião foi degolado
Por forças policiais.
A volante não dá chance
Para que a patota avance.
A ofensiva foi demais!
Corisco, dali distante,
Sabendo, foi num instante
Do líder vingar a morte.
Erra o alvo, todavia,
A família mataria
De inocente, que má sorte!
Em um combate atingido,
Gravemente foi ferido,
Mão direita é afetada.
Atrofia o esquerdo braço,
Então, Dadá, no cangaço,
De fuzil se vê armada.
Era o ano de quarenta,
Abandona a vestimenta
Seu bando quase dissolve.
Procurava outra vertente,
Levar vida diferente
O Diabo Louro resolve.
Certa feita foi cercado,
Por volante metralhado,
Estava deficiente.
Dez horas só resistiu,
Tombou morto, sucumbiu,
Dadá foi sobrevivente.
A famosa cangaceira
Dessa história brasileira
Em noventa e quatro morre.
Findo aqui a narração
Desses 'causos' do sertão.
Assim, a conversa corre.