GOTEIRA NA PRIVADA

A pior coisa do mundo
é acordar de madrugada
com uma diarréia danada
e um mal-estar profundo.
Em menos de um segundo
o cabra chega ao sanitário,
retira o vestuário
e senta-se bruscamente;
sem saber, o inocente,
que está indo pra o calvário.

Pra sua infelicidade
cai um temporal lá fora
e tudo complica agora
faltando eletricidade.
Triste com a fatalidade,
o cabra se torce e geme,
por mais que ele blasfeme,
mais aumenta o sofrimento,
pois de momento em momento
com um trovão tudo treme.

Quando ele menos espera,
vindo lá da cumeeira,
surge uma infeliz goteira,
que aos poucos acelera.
O cabra feito uma fera,
tenta os pingos desviar,
perdendo a concentração,
e as cólicas, sem compaixão,
continuam a aumentar.

O pobre do infeliz,
que é um homem de fé,
reza pra o bom São José,
enquanto enxuga o nariz.
Desesperado, ele diz:
“Meu santo bom da bexiga,
seja uma pessoa amiga
e acabe de alguma maneira
com a droga dessa goteira
ou com a dor de barriga “.

Enfim, parece acabado
aquele longo martírio,
ele, já quase em delírio,
usa papel bem molhado;
levanta-se bem apressado,
sai no escuro com sono,
mas dura pouco o abono,
pois, findando a calmaria,
uma forte dor anuncia:
“Hora de voltar ao trono!”.