ASSALTO NO PREÇO DO CHUCHU
Na feira, a gorda senhora
Protestou a altos brados
Contra o preço do chuchu,
Dizendo: - Isto é um assalto!
Houve um grande rebuliço,
Foi gente pra todo lado.
Quem tava perto fugiu.
Alguém foi chamar o guarda.
Um minuto logo após,
A rua ficou fechada.
Muita gente em alvoroço,
Outros sem entender nada.
A transmissão espontânea ,
Logo foi se espalhando.
O comentário surgido,
Era um assalto a um banco.
Alguns saíram correndo,
Outros entraram em pânico.
- Um assalto! Um assalto!
A senhora exclamava.
Quem não havia escutado,
Agora já escutara.
Propagada pela feira,
A notícia se espalhava.
01
Entre barraca e legumes,
Aquela voz foi soando,
Como se fosse a sirene
Da polícia, registrando;
Por seu uivo, a ocorrência
Grave que tava bombando.
Moleques com seus carrinhos
Corriam sem direção,
Atropelando uns aos outros
Naquela grande aflição.
Salvando as mercadorias
Que transportavam na mão.
E no atropelo da fuga,
Os pacotes se rasgavam;
Mercadorias caíam,
As melancias rolavam.
Lá no meio do asfalto,
Tomates se esborrachavam.
02
- Olha, olha o assalto!
- Tem um assalto adiante!
Um ônibus carregado
Parou pertinho da ponte,
Perguntando pelo assalto
A todos os transeuntes.
Desceram os passageiros,
Motorista e cobrador;
Perguntando pelo assalto,
Todo mundo indagou.
Pararam carros e ônibus,
Foi um tremendo horror.
- É uma bela mulher,
Que tá chefiando o bando.
- Uma tal dondoca loura.
O povo foi comentando:
- A loura assalta em são Paulo!
Um senhor chegou falando.
03
- Aqui é uma morena.
- Uma gorda espevitada.
- Ela tem metralhadora!
- Eu vi! Ela é danada!
E comentários assim
Surgiam vindos do nada.
Lá no fundo uma velhinha
Disse: - O mundo está perdido!
- Essa mulher está doida
Ou tá caçando marido?
E lá no meio da feira,
Se escutava o alarido.
- Não brinca uma hora dessas!
- Olha o sangue escorrendo!
- Sangue nada, é tomate.
Logo outro foi dizendo.
Em meio à multidão,
O boato foi crescendo.
04
Na confusão, circulavam
Notícias bem variadas.
Assalto à joalheria.
Há vitrina esmigalhada.
Chegaram até a dizer:
- Alguém foi ferido à bala.
Outros vieram dizer
Que havia jóias no chão,
Braceletes e relógios;
Foi grande a perturbação.
- Há três pessoas feridas
E duas já no caixão.
Nessa grande algazarra,
Gente gritava pra lá;
Mulher saía correndo,
Gente corria pra cá.
Uns querendo ver o assalto,
Outros querendo escapar.
05
Quem se achava fugindo,
Logo dava marcha à ré.
Quem queria espiar
Era arrastado a pé
Pela massa que corria
Foi o maior cabaré.
Todos os apartamentos
Logo fecharam as portas
Pois o povo os invadia
Querendo salvar as costas
Outros subiam pra ver
Lá de cima a revolta.
As janelas e os terraços
De gente, tavam lotados
Moradores que gritavam
Havia de todo lado
- Pega! Pega! Estão lá!
Era o grito escutado.
06
- Olha a ladrona ali!
- Entraram na Kombi adiante!
- É um mascarado ou dois?!
- É um bando de assaltantes!
E a grande confusão
Ficou mais interessante.
Ouviu-se nitidamente
A metraca pipocar.
Todos deitaram no chão,
Lutando pra se salvar.
Alguns por cima dos outros
Sem espaço pra deitar.
Logo o ruído cessou,
Tiro não se ouviu mais não.
- Olha aquele escurinho
Com a matraca na mão.
- E nós com dor-de-barriga
Pensando ser um ladrão.
07
Foram pegar o garoto
Que tocava a matraca,
Pois todos tavam pensando
Que era uma metralha.
E naquele alvoroço,
O pobre garoto escapa.
Nisso a senhora gorda
Surgiu falando bem alto;
Vermelha e protestando:
- É um assalto! Um assalto!
- Chuchu por aquele preço
É um verdadeiro assalto.
Pra quem leu esse cordel,
Fica aqui uma lição;
Quando ouvir uma notícia
De bandido, de ladrão,
Não queira sair correndo
Pode ser enganação.
08