O MENINO NO CÉU

No meu tempo de menino

já tantos anos lá se vão

um fato interessante

de surpreender multidão

só comigo aconteceu

e conto logo como se deu

para acalmar seu coração

Eu tinha uns doze anos

gostava muito de sonhar

abraçado aos meus livros

só pensando em versejar

meu pensar tudo podia

e imagine a fantasia

que me animava: voar!

Eram devaneios infantis

projetos mirabolantes

desejos assustadores

dali então por diante

sonhava sempre voando

todo povo admirando

esse momento marcante

Lá no céu todo garboso

aos amigos acenando

eu vencendo a gravidade

jovem sem asas planando

acordava sorridente

para depois, subitamente,

ver que estava sonhando

Mas criança não esquece

por ser sonho ardente

mesmo que o mundo se queime

corre atrás persistente

nisso pensa todo dia

pois voar é o que eu queria

e só depois ficar contente

Lógico, tal criancice

jamais contei para ninguém

ririam de minha cara

esse era o forte porém

por isso fiquei sozinho

a pensar nisso com carinho

sem a simpatia de alguém

Num incerto amanhecer

quando eu menos esperei

andando de bicicleta

repentinamente voei.

Já não estava mais no chão

como puxado pela mão

de um anjo cujo não sei

Então, todo serelepe,

como ave eu voava

feliz, faceiro, sorrindo

a bicicleta pedalava

com a rapidez do gavião

tranquilo feito avião

alcei-me ao céu sem asa

A princípio, surpreendi-me

sonho ou realidade?

Meu coração logo falou:

"relaxe, veja a cidade

aproveite a ocasião

vá no sonho, deixe a razão

voa, tens essa capacidade"

Quanto mais força botava

ainda mais eu subia

os pedais da bicicleta

eram as asas, e eu via

as pessoas me olhando

as meninas suspirando

e mais para cima eu ia

Formou-se uma multidão

apontando para cima

passei por um fazenda

colhendo laranja-lima

algumas aves, perplexas,

em atitudes complexas

me ajudaram na rima

As nuvens me envolveram

sorrindo, o sol me acenou

um avião que passava

quase comigo trombou

foi então, subitamente,

nada mais que de repente

que minha mãe me acordou

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 20/03/2010
Código do texto: T2149155
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